CAPÍTULO CINCO

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Certamente Bestial cita as acomodações para visitantes por sua recusa de habitar lá, onde teria mais privacidade e, também, sossego.
'Sossego: quão maravilhosa essa palavrinha é, em certos momentos do seu dia...'
Óbvio que se arrependera de não a aceitar, depois de ouvir rosnados; rugidos e, até, uivos, se dera conta, muito tarde, que, encontros sexuais entre Espécies são, de fato, barulhentos.
'Ao ponto do constrangimento, porque muitos desses a tiraram do seu precioso sono'; pensa um tanto ressentida.
Agora, ela só se recusa pela insistência de Bestial. Ela acha que é um jeito de irrita-lo e compensar o tanto que ele a irrita.

__ Escuta aqui, __ diz ela, com o indicador levantado para o rosto dele. __ se não há algo interessante a dizer, aconselho que preste atenção na estrada e continue dirigindo. Ok? Obrigada... Merda! __ intera Victoria.

A razão do xingamento é devida a queda de seu aparelho celular, cujo a vida profissional está integrada. O aparelho, como algo vivo, vibra e cai do painel; ao capacete no console e escorrega para o chão, por entre as pernas de Bestial.
'Mas que desgraça!'
Victoria nem pensa ao se desvencilhar do cinto de segurança, no carro em movimento, em resgate do seu telefone: sua conexão com o trabalho e o resto do mundo está ali.

__ Porra... __ É tudo o que ela escuta de Bestial, antes que uma freada brusca quase a jogar de cabeça onde seu celular foi parar...

***

Bestial confessa ter se arrependido da decisão, assim que cruzou o primeiro quarteirão.
Se oferecer como motorista da advogada teimosa...
'Mas que coisa absurda!'
A insistência em se manter fora da segurança ONE foi uma péssima ideia. Bem, ela foi avisada sobre os riscos. Já ele... o tédio é uma merda e, como já ouviu Richard dizer uma vez: "mente vazia: oficina do diabo"; tem se mostrado o inferno de uma verdade, desde a tentativa de relaxamento desastrosa com Kit foi testemunhado por essa advogada encrenqueira; e o resto do conselho decidir que precisa de férias.
'Humpf!'
Como se a solução já não fosse uma porcaria, a segunda opção é ter uma conversa bem detalhada, sobre àquela tarde, com Joy, a companheira de Moom, dra. psiquiatra dos Espécies.
'Nem fodendo!'
Então, depois de implorar a outro oficial incumbido pela missão de chofer, para ir em seu lugar ou morreria de tédio. Houve tempo de se trocar para o traje de segurança.
Aqui, dentro de uma SUV, com uniforme completo da ONE, com exceção do capacete, descansando em cima do console de porta-copos, para qualquer eventualidade; tudo isso pela satisfação macabra de uma nova batalha com ela; a única chateação é o cheiro com leve toque de baunilha, que a fêmea exala; esse perfume traz a mente sabores, como: sorvete e biscoitos; e ele adora essas porcarias. Sua boca se enche d'água. Mal a escuta; e, em todo seu bate-boca, só o que consegue entender é:
"__ ...escuta aqui, blá blá blá... Merda!"

'Merda mesmo!', sua concordância vem num pensamento tão sonoro, quanto verbalizado, no instante em que a mão dela faz contato com a sua perna ...
Algo vibrou e caiu; em sua visão periférica, Bestial viu algo escorregar do painel e bater no capacete. Não precisa ser muito esperto para a dedução óbvia, sendo a primeira coisa que ela fez, após sentar ao seu lado: descartar o celular no gabinete, a sua frente; a seguir, a bolsa e o blazer no banco traseiro. E, dessa maneira, já estavam prontos para partir...
Tão logo, a fêmea se contorce no banco, com o click do cinto de segurança, e vem com tudo sobre sua coxa direita.

__ Porra!! __ Ele esbraveja para o traseiro dela. __ Mas... que merda é essa?! __ Bestial se espanta com o progresso das coisas.

A maldita segura a coxa de Bestial perto da virilha. Muito, muito perto. Perto demais, para o corpo reagir mais rápido que a mente, dando uma visão obscena da coluna curvada, para o traseiro todo empinado no ar, numa saia tão sugestiva, que nem é decente uma fêmea se pôr nessa posição.
'De jeito nenhum!'
Certas imagens sexuais pipocam em sua cabeça, como invasores alienígenas, vivas demais para o seu gosto.
Bestial freia bruscamente o carro, rosnando para o traseiro da fêmea, porque, nem mesmo, sua genética favorecida poderia ajudá-lo a dirigir; tentar entender e controlar o que está acontecendo.
Ela se estende de onde esteve debruçada, endireitando o cabelo com o celular na mão.

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