Há quem diga que Victoria não tem coração. Sob protesto, ela afirma que sim, ela tem um coração! Embora em desuso e bem guardado.
Sua afirmação é relevante, digna de alguém que já se apaixonou antes. Pois, sim! O primeiro e, até então, único amor.
Dizem por aí que desse a gente nunca esquece. Victoria afirma, com veemência, ser verdade, por uma questão bem distinta do que se conta nas histórias românticas.
Aquele, cujo o coração foi entregue e destruído, durou do segundo ano do Ensino Médio, ao baile de formatura. Num papo muito agradável, do tipo:(10 anos antes - Ensino Médio - Baile de formatura)
__ Podemos conversar um instante? __ sussurra Vic.
Não propriamente "um sussurro", em meio a música alta; apenas um tom mais discreto, essa é a descrição correta, no meio de tanta gente dançando, rindo e conversando no ginásio da escola, onde organizaram a festa.
Tinham ido com outras pessoas. Ele a evitara nas três últimas semanas até a festa de formatura. Analisando a sua acompanhante, entendia o porquê.__ Precisa ser agora? __ ele, a quem se entregou, pergunta.
No rosto de Vic a demonstração do quão desnecessário é responder a isso.
__ Tá! Me dê um momento e me encontre no corredor, ok? __ tão pouco ele aguarda pela resposta, se vira, seguindo em direção oposta.
De onde ele a deixou, Vic observa admirada o sorriso bonito e charmoso que ele dá a outra garota. A tristeza lhe abate, como a queda de uma bigorna na cabeça, quando conclui que esse é o mesmo sorriso que ele lhe dera quando, ainda, estavam juntos. 'Não mais, ao que parece!'
Então, ele abraça outra garota de um jeito inapropriado aos monitores que rondam a festa a procura de infrações e excesso de demonstração de afeto. Se quisessem um pouco de privacidade, o corredor é a opção mais adequada para uma fugidinha.
Ele fala algo ao pé do ouvido da sua acompanhante; em algum momento haviam unido as mãos, que se separam devagar, na relutância de se afastarem.
Victoria afasta os olhos tarde demais para não sofrer com o que testemunhara. Então se vira e segue para o corredor, onde marcara um encontro para uma revelação.
O sorriso malandro é diferente do que dedicara a ela alguma vez; ele já não é mais o mesmo. Ao menos, não com ela.
A mão dele vai a sua cintura, o rosto numa aproximação contínua para um beijo, antes de Victoria afastar-se de sua mira.__ Que foi, gata? Pensei que quisesse reviver os bons momentos.
__ Estou grávida. __ atira rápido, para acabar de uma vez com o suspense.
Os olhos arregalados lhe dão a noção do tamanho do susto. Contudo, breve.
__ Que merda! E de quem é?
Se o baque da pergunta não fosse tão grande, teria lhe dado um tapa no rosto. Não pôde acreditar que lhe fizesse essa pergunta. A fez sentir-se suja e vulgar, como se tudo o que tivesse dado a ele, seu coração e seu corpo, fosse inapropriado. Errado.
__ Você foi o único...
O riso irônico, que parte dele, faz seu semblante despencar; o corpo gelar e as pernas tremerem, seguido de um calafrio agourento.
__ Escuta, gata, __ ele meneia a cabeça devagar, com um sorriso estranho. __ ficamos juntos por um momento e muito tempo separados, para vir com essa agora, saca? Qualé*?! Sério mesmo, vai querer dar o golpe da barriga? Pra cima de mim?!
Victoria achou que poderia suportar a rejeição. Imaginou que, em consideração ao que tiveram, ele ajudaria a criar a criança, mesmo que não a quisesse mais. Nada disso iria acontecer, pelo jeito em que fala e olha para ela.
__ Não faça isso. __ suplica-lhe. __ Prometeu-me... Garantiu que ficaria comigo.
__ Então é por isso? Você quer que eu fique com você? Gata, toda vez que precisar de uma fodidinha, sabe onde me encontrar. Acha que eu recusaria uma brincadeira safada com um corpo lindo e gostoso como o seu? __ ele muda para um tom mais íntimo, enquanto brinca com a mecha do cabelo dela entre o indicador e o polegar, puxando-a suavemente. __ Desde que fique só entre a gente... Qualquer outra merda, estou fora.
Victoria bate a mão dele longe, afastando-o. E, com um beijo rápido na boca, que ele rouba dela, lhe dá às costas, abandonando-a sozinha no corredor frio e o rosto molhado de lágrimas.
Victoria acha que essa foi a última vez que chorou...Cinco dias mais tarde, sem se alimentar direito desde então, o sangue desce e suja sua roupa, quando largada no sofá, assistindo tv, sem prestar atenção; apática, em seu estado de depressão e fadiga, fraqueza e falta de ânimo como sintomas, ergue-se com esforço, indo ao banheiro, achando que não poderia ser grave, já que não há tanta dor.
No chuveiro, se lavando, apenas uma contração bastara para expulsa-lo de si. Então, no chão do banheiro, tudo acaba.
Duas coisas ficam claras nesse dia:
Os homens fodem. E o "amor" é burrice.III
BESTIAL
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BESTIAL
FanfictionOBRIGADO pelas circunstâncias, Justice North, líder da ONE, contrata a KVE, agência de serviços jurídicos, para ajudá-los no processo contra um ex funcionário. Três sócios eficientes em sua função como advogados; e um deles tem um sério problema com...