O tempo que passou enquanto Bose correu pra enfermaria avisando que Chapa estava acordando lentamente e voltou pro quarto, foi curtíssimo.
Ele se posicionou do lado da cama, olhando pra ela atento, enquanto a enfermeira diminuía a dose do remédio dela devagar.
Chapa abriu os olhos, confusa, tentando reconhecer o lugar. Bose se aproximou mais da cama, com um meio sorriso, esperando ela dizer algo no tempo dela. Foi seu primeiro sorriso em quatro meses. Mal esperava pra ouvir a voz dela.Só que ela não disse nada. O olhou, franziu o cenho. Então olhou pra enfermeira, transparecendo confusão.
Bose: Meu amor... tudo bem? - Chapa voltou a olhá-lo, ainda com a mesma feição. Abriu a boca pra dizer algo, mas não saiu.
Bose arregalou os olhos, preocupado e olhou a enfermeira.
Enfermeira: Olá Lula Elena, tudo bem? Você está no hospital central de Swellview. Sofreu um acidente, se lembra? - Chapa olhou pra nenhum ponto específico, parecia processar a informação e isso não era nada bom.
Chapa: Não. Eu não lembro. - Bose se remexeu desconfortável e viu a enfermeira suspirar. Um frio percorreu as espinhas dele.
Bose: E de mim? - Tentou não soar nervoso ou apavorado, apesar de estar. - De mim você se lembra, não é? - Levantou as sobrancelhas, esperando.
Ela demorou menos de um minuto pra responder. Mas foi tão torturante que parecia a eternidade.
Chapa: Me desculpa, eu não me lembro. - Franziu o cenho, frustrada.
Aquilo foi doloroso feito um tiro. Ele olhou pra enfermeira procurando uma resposta, Chapa continuava o olhando, porque a angústia era visível em seus olhos e ela se esforçaria pra lembrar. Parecia necessário. E ela queria lembrar de algo, mas nada vinha em mente. Nem ele e nem ninguém
Enfermeira: Eu vou chamar o médico dela, ok? - Bose afirmou com a cabeça. - Mas não conte nada a ela, porque não sabemos a situação e pode ser demais, por menor que seja. Também precisamos entender tudo com cuidado.
Bose: Certo! - Afirmou com a cabeça, com a voz meio embargada.
A enfermeira saiu do quarto e Chapa ficou o olhando. Ele se sentou na poltrona, olhando pra parede. Ficou em dúvida, sobre se queria que fosse um sonho ou não.
Pegou o celular e mandou uma mensagem pra Ray, avisando que ela tinha acordando e pedindo que não dissesse nada antes de falar a sós com ele.
O médico retornou ao quarto e avisou que faria uma bateria de exames com ela, explicou a Chapa que ela estava desacordada á um bom tempo e que eram procedimentos necessários.
Enquanto ela fazia os exames, Bose esperou pacientemente no quarto dela. Quando ela voltou, estava no sedativo e demoraria á acordar. Era o tempo dos exames ficarem prontos e saber como tratariam a situação. Bose acreditava cegamente que era efeito temporário da quantidade de tempo que estava em coma, e que a memória dela voltaria aos poucos. Foi o que disse a Ray, assim que chegou.
Os dois estavam nas poltronas do quarto de Chapa e o médico entrou no quarto, devagar.Doutor: Boa tarde, senhores! - Os dois levantaram, retribuindo. - Bom, os exames da paciente estão prontos e ela não tem nenhuma sequela grave aparente, nenhum tipo de cirurgia necessária. Mas nós precisamos conversar sobre a perca de memória.
Bose: É temporária, não é? Tempo curto. - Engoliu em seco. - Ela vai lembrar.
Doutor: Ela tem um quadro de amnesia pós traumática. Infelizmente, não é possível estipular quanto tempo isso pode durar, ou... se um dia vai acabar. Ela pode lembrar amanhã, em duas semanas ou simplesmente não lembrar. - Bose deu dois passos pra trás, sentindo todo sangue de sua face se esvair. - Ela também pode ter problemas pra se concentrar e isso precisa ser observado, por isso não vamos dar alta pra ela nos próximos três dias. Mas peço que tenham cuidado com as coisas que vão dizer ou com pressiona-la pra lembrar.
Ray: Existe algo que possamos fazer por ela? Pra ajudar? - Franziu o cenho.
Doutor: Não é bom enche-la de informações, isso pode acarretar uma grande confusão na cabeça dela. Se puderem contar aos poucos e evitar grandes emoções, é crucial. Vamos estar atentos a cada detalhe esses primeiros dias. Ela também vai continuar a fisioterapia por conta do braço que sofreu um trauma no dia do acidente. Ela pode receber visitas, mas os avise das condições que passei pros senhores aqui. Isso é muito importante.
Ray agradeceu ao médico e viu Bose se sentar na poltrona, com os olhos marejados e a feição pálida.
Ele mal podia acreditar que finalmente ela tinha acordado, mas não lembrava dele ou de qualquer outra coisa. Que o pesadelo não estava definitivamente acabado. Eram tantas coisas em sua cabeça que ele se sentia zonzo.Ray: Pode durar pouco, vamos ter fé, logo ela vai se lembrar. - Ray passou a mão nas costas dele, o consolando. - Nós vamos fazer tudo que pudermos. Somos a família dela, jamais vamos abandoná-la. Mas Bose, agora que ela acordou, nós precisamos conversar. - Bose olhou pra ele. - É hora de você voltar a viver por você. Nos últimos quatro meses, você tem vivido em prol da Chapa, tudo bem que você a ama e não quis sair daqui, nós entendemos... mas você tem uma vida fora desse hospital.
Bose: Ray, eu não vou voltar pra Danger Force enquanto ela não estiver cem porcento, se é isso que você. Continua com a história de estar fora por tempo indeterminado, porque é a verdade! Espero que você entenda, mas eu não posso. Ela acordou, mas ainda não está bem. - Argumentou. Ray respirou fundo.
Ray: Bose, nós temos esperanças altas, sei que os outros também irão ter quando souberem. Mas e se ela não lembrar? - Engoliu em seco.
Bose se levantou muito rápido, olhando pra Ray totalmente descrente.
Bose: Ela vai lembrar! A Chapa vai se lembrar. Nós vamos ajudá-la e então quando ela estiver como antes, poderemos voltar como antes. Mas eu não vou colocar nada acima da recuperação dela. Nada, nada mesmo. - Negou com a cabeça, cruzando os braços e andando de um lado pro outro.
Ray: Nós todos vamos acompanhá-la. Você sabe, ela vai ter as sessões de fisioterapia, as consultas mensais, todo um acompanhamento, vamos ajudá-la. Mas Bose, você simplesmente está sobrevivendo e não vivendo. - Os olhos de Bose se tornaram cristalinos.
Bose: Ray, todo mundo sabe como a Chapa é importante pra mim. A pessoa mais importante. Vocês estavam lá, vocês viram, mas não sentiram como eu. Tudo que ela fez por mim, tudo pelo que passamos, eu a amo. Eu a amo e amei mais todos esses dias, porque eu entendi como é doloroso viver sem ela. - As lágrimas escaparam pelo rosto dele.
Ray: Bose, nós sabemos. Mas... - Procurou algo pra dizer, mas olhou pro garoto tão cansado. Se aproximou e o abraçou. Bose desabou.
Pensou em todos os momentos que presenciou nos últimos quatro meses. Tanto choro, noites mal dormidas. Ele ajudando a fisioterapeuta com Chapa, preocupado com ela. O jeito como um garoto de dezoito anos tinha se mudado pro hospital pra estar do lado da namorada...
Bose não cortava o cabelo todo esse tempo. Se alimentava muito mal. Acordava muitas vezes durante a noite e tinha sonhado algumas vezes com a noite fatídica do atropelamento. Estava faltando no psicólogo.
Tinha olheiras nos olhos, estava sempre pálido e tristonho.
Não era mais o menino doce e risonho de antes.
Porque estava constantemente revivendo aquele momento e como tudo poderia ser diferente.
Se não tivesse deixado ela voltar, se tivesse a impedido ou voltado no lugar dela.Bose a amava tanto. E o amor podia doer de um jeito que não se comparava com as outras dores.
Dia após dia, noite após noite, segurando a mão dela, cantando pra ela, lendo pra ela, contando toda e qualquer coisa. Ansiando pela melhora.E ela não se lembrava dele. Ele não sabia por quanto tempo. Estava tão confuso, tão mal, tão exausto.
A esperança tinha sido sua melhor amiga durante todo esse tempo, mas parecia querer abandoná-lo.Deus, como o amor podia doer tanto?
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Oneshots Bapa - Bose e Chapa
RomanceCompilados de Oneshot Bapa - pequenas histórias de Bose e Chapa da Força Danger.