A sensação de passar dias em casa lastimando o que vem pela frente, chorando tanto que tudo doía fisicamente e querendo acordar de um pesadelo corroía Chapa. Um verdadeiro pesadelo.
Foi pior ainda quando chegou o dia da prova de vestidos, da qual era obrigada a ir. Sam foi com ela, e chegando lá, descobriram que não era pra escolher, literalmente era apenas provar e ajustar.
Não que o vestido fosse feio, tinha sido escolhido e recebido ajustes no modelo por uma super estilista, mas nem isso a noiva pôde escolher. Não sabia o modelo de aliança ou calçado que ia usar. O penteado ou a maquiagem.
Tudo tinha que passar uma imagem de puro luxo, então ela não podia interferir.Entrou dentro da peça de roupa off white.
Talvez quase todas as mulheres no mundo entrassem dentro daquela peça com um sorriso de orelha a orelha e uma felicidade descabida. Elas estariam pulando de felicidade.Mas Chapa queria rasgar e fugir. Se sentiu mais uma vez sufocada, acorrentada.
Sam olhou pra ela através do espelho, Chapa estava linda. Mas seu olhar carregava um pesar, uma dor inexplicável e isso tornava tudo totalmente pesado e doloroso. Não se sabe como ia ser quando ela subisse no altar e visse pessoalmente pela primeira vez o tal noivo.Sam: Elena, da tempo de desistir. Que tipo de loucura é essa que você tá fazendo amiga? - Disse cruzando os braços e olhando Chapa.
Chapa: Eu não sei. - Se virou pro espelho, olhou o vestido. - Eu acho que... todo segundo que penso em desistir, eu lembro da minha mãe chegando tarde em casa por causa do trabalho. Ou dela contando toda orgulhosa do duro que tinha dado pra chegar ali Sam. Ela não queria isso pra mim - A voz de Chapa embargou mais uma vez. - Ela não queria isso pra mim. - Repetiu.
Chapa sentiu o rosto molhado novamente, começou a procurar o zíper lateral do vestido de forma um tanto quanto desesperada e não conseguindo, o choro aumentava mais. Sam a ajudou, abrindo o zíper e descendo o vestido. Agora no espelho, Chapa estava com o corset preto e uma calça preta justa. Sua verdadeira imagem, dolorosa e assustada.
Teve mais uma crise de choro, ali mesmo, no meio da loja. E outra quando chegou em casa. Sam lhe deu um calmante, pediu comida e a obrigou a comer.
E cada dia que passava, se aproximando, era mais angustiante. Ela já não dormia mais, atendia a várias ligações pra passar informações que agregassem com o evento e chorava.
Até que dois dias antes, Chapa já não tinha mais nada que chorar. Começou a ficar calejada e quieta demais.
A única pessoa ao seu lado por todo esse tempo, era Samanta.
A única pessoa que permaneceria ao seu lado verdadeiramente, provavelmente seria ela.Porque o que ela podia esperar do noivo e das pessoas que o rondavam?
Um homem que aceitou se casar com uma mulher que não fazia ideia de quem era.
E ela? Tudo que sabia daquela família é que tinha aquele homem maldito como patriarca, dois filhos, uma filha e uma mãe que ela não entendia como podia deixar o próprio filho se prestando a esse papel.Ela queria um pequeno sinal de que as coisas ficariam bem. Qualquer coisa que lhe fizesse dar um sorriso sincero e pensar que era forte o suficiente pra suportar tudo que ainda estava por vir. Apenas aquele sinal.
Era véspera do dia do seu casamento. Acordaria na manhã seguinte, colocaria uma máscara de noiva feliz e subiria no altar. Porque assinou um contrato, em nome do amor, pela pessoa que mais a amou no mundo, sua mãe.
Sam: Você devia vir comigo e tomar um drink, o que acha? É só pra você se distrair. - Chapa estava sentada no sofá da sala, olhando pro nada. - Eu fiz um free lance hoje e arrumei uma graninha, vamos lá! É sua última noite antes dos próximos três anos, e estou convencida de que lá te convenço de fugirmos. Drink de refri, nada de bebidas!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Oneshots Bapa - Bose e Chapa
RomanceCompilados de Oneshot Bapa - pequenas histórias de Bose e Chapa da Força Danger.