Capítulo 6 - Sentimento neutro

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16/03/23.

"Todavia eu me alegrarei"

Estou sentado no quinto banco da igreja (contagem de trás para frente). O calor domina o lugar. A igreja possui oito ventiladores, mas nenhum deles resolve. Enquanto todos louvam e adoram, um menino está escrevendo juntamente com "A Noite Estrelada" de Van Gogh.

Dois jovens estão ao meu lado, um futuro casal. A conversa não me interessa, eu quero ficar sozinho, mesmo que a opção de estar sentado com eles fosse minha. O jovem Nícolas deseja rabiscar uma página vazia na Bíblia, mas "infelizmente" não possui uma caneta no momento. Ele fica surpreso ao saber o quanto eu escrevi.

O casal à nossa frente está incomodado pela conversa alta e paralela dos jovens ao meu lado. A companheira de Nic olha para mim e dá um minucioso sorriso ao ver o que estou fazendo, eu apenas devolvo o olhar sem sorrir. Fico desanimado ao saber que amanhã pela manhã terei que trabalhar, mas se eu receber, ficarei contente. O cansaço fica, as dores vêm, o calor aumenta, e a solidão permanece.

Não vem nenhum pensamento, sentimento ou emoção em minha cabeça. Estou neutro. Sem sorriso, sem choro, sem raiva, sem medo. Nada.

Um sorriso em meu rosto surge ao ver que Nic comprou chiclete. O gosto doce domina minha boca. Um sentimento surge em mim. Saudade. Saudade de algo que nunca aconteceu. Saudade do doce beijo, do beijo amoroso, sem rancor, sem mágoa. Do beijo que me trouxe novamente a vida. Tristeza emana de mim ao saber que nada disso aconteceu. Tudo é fruto de minha fantasiosa mente. Me perdoe, por tudo.

Não tenho mais nada a dizer.

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