Capítulo 14 - Desabafo

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06/05/23.

Era perto das 16:30 quando um poste explodiu, deixando o bairro inteiro sem energia. Eu estava na escola quando isso aconteceu, durante a aula de português para ser mais preciso. À medida que o tempo passava, o dia se transformava em noite, o que resultou no cancelamento da última aula. Todos comemoraram por não terem que ficar mais 45 minutos na escola e também por não precisarem fazer a prova de química naquele dia. Fiquei aliviado, pois não tinha estudado para a prova.

Depois de uma longa conversa com meus amigos na frente da escola, mais da metade deles foi para casa, mas eu, Sheldon, Izabelle e Luís decidimos ficar na praça em frente à escola. Não tínhamos muito o que fazer, então, no meio do tédio, convidei-os para se sentarem na grama, e todos aceitaram.

A conversa estava boa, discutimos sobre a vida, tiramos lições, esclarecemos dúvidas e desabafamos um pouco. Falamos bastante sobre a questão da "solidão" e sobre a diferença entre "estar sozinho" e "sentir-se sozinho".

Por volta das 18:00, Sheldon disse que tinha que ir para o treino de Muay Thai, e todos o acompanharam até o local. Ao chegar lá, me despedi de Sheldon e Izabelle, e Luís e eu seguimos nosso caminho. Conversamos sobre nossas infâncias, como éramos felizes e como éramos corrigidos por nossos pais. Falei sobre as vezes em que apanhei sem motivo algum, e Luís falou sobre o motivo da separação de seus pais. Depois de contarmos algumas piadas, ele foi para casa. Eu, sem ninguém ao meu lado, fui para casa no meio da escuridão. A música nos meus ouvidos me trouxe paz. A cidade escura me deixou estranhamente confortável.

Ao chegar em casa, com muita fome, só consegui comer um pão sem recheio, o que não saciou minha enorme fome. Sentei ao lado de meus pais por um tempo, mas depois percebi que demoraria bastante para a energia voltar, então decidi dar uma volta de bicicleta pela cidade. Estava com medo de não conseguir enxergar o que estava na minha frente e acabar caindo, mas nada de ruim aconteceu. Foi quando encontrei um velho amigo, Daniel, que estava pronto para a aula, mas que havia sido cancelada devido à falta de energia. Conversamos por um longo tempo sobre vários assuntos, colocamos as notícias em dia, e conversamos tanto que a energia voltou e continuamos a conversa.

As roupas jogadas nas cadeiras, os cadernos no chão, os desenhos grudados nas paredes. Não consigo tirá-la da minha cabeça. Tudo parece girar em torno dela, tudo parece fazer referência a ela, e isso me faz lembrar. Eu odeio aqueles olhos grandes e delicados, odeio a cor do seu cabelo liso, odeio sua estatura e seu sorriso. Você desvalorizou tudo o que eu sacrifiquei por você.

Desculpa, eu só precisava desabafar.

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