Capítulo 9 - Saudade do inexistente

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28/03/23.

Sentado no último banco dos cinco corredores, estou no segundo. Durante a aula de história, a conversa está alta e o professor tenta escrever no quadro, mas a conversa entre ele e um aluno está envolvente. Presto atenção em cada aluno na sala. O professor pede silêncio e todos se acalmam. Espero que ele não peça para desligar o meu celular. "Heart to Heart - Mac DeMarco" é a trilha sonora dessa situação. Embora todos na sala sejam meus amigos, neste momento, quero ficar sozinho, distante de todos. Apenas uma pessoa poderia me fazer feliz agora. Sinto saudades e estou ansioso para vê-la novamente, mas infelizmente vai demorar muito.

A voz calma do cantor me faz lembrar cada vez mais do rosto, do sorriso e da alegria que ela sentia ao me ver. Não mereço isso, não mereço tê-la. Por que eu? Há tantos por aí! Por que ela insiste tanto em mim? Vale a pena gastar tanto tempo comigo? Talvez sim, talvez não. Uma colega olha para mim e sorri, mas não retribuo. Não quero olhar para ninguém, nenhum deles tem aqueles olhos.

O ventilador balança rapidamente, mas produz pouco vento. É uma grande sala vazia e escura, sem paredes, apenas vazio. Ao andar sobre o vazio, sinto meus pés molharem, a água é rasa. O vento é frio e sinto calafrios de tempos em tempos. A mesa, a cadeira e o projetor de vídeo empoeirados me chamam a atenção. Ouço o som de "bip" quando ligo a máquina e a sala escura se ilumina repentinamente. A contagem regressiva começa.

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Os adolescentes cantam na pequena igrejinha. Todos levantam as mãos e se despedem. O grande salão ao lado da igreja está cheio de pessoas: idosos, adultos, jovens, adolescentes e crianças. A fila para pegar um espetinho de frango é grande. A jaqueta vermelha me faz suar enquanto estou na fila. Chega a minha vez, pego um espeto e um refrigerante. Dou a primeira mordida e sinto meu estômago pular de alegria. Converso com meus amigos, descontraídos, aproveitando o curto momento que temos juntos. Ao terminar de comer, só resta o palito e vou em busca do lixo para jogar fora a carcaça. Vejo decepção nos olhos da moça ao ver um pedaço do seu espeto no chão, rimos e aproveito a oportunidade para me aproximar.

As lágrimas tomam conta do meu rosto e as forças se esgotam. Minha única reação é de desespero. Sinto saudade desse momento, mas também arrependimento pelo que fiz depois. Peço perdão. Nós planejamos tantas coisas, tivemos tantos desejos e sonhos juntos... Não gosto de relembrar as discussões, brigas e pesadelos, mas este vídeo me faz voltar ao passado. Sinto saudade do que planejamos, mas não do que EU fiz. Desculpe por trazer isso à tona. Por favor, lembre-se apenas das palavras "eu gosto de você", que eu disse.

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