08/09/23.Sentado em um banco de madeira ao lado da sala dos professores eu escuto música em meu novo e provisório fone de ouvido, sendo ele de pior qualidade, mas o importante é continuar vivo. Uma bota preta, preenchendo a canela. O chão é feito de pequenos blocos de pedra, acompanhado de pequenas linhas preenchidas por grama.
O sinal bate, e me desanimo. Não quero ver aquele rosto novamente. Não quero ter que ficar desviando olhar por causa dela. Aquele belo corpo, aquele cabelo ajeitado e cheiroso, aqueles lábios pequenos e delicados, aquela voz aguda e fofa. Não quero mais vê-la, nunca mais. Paralisado no tempo estou, como um relógio quebrado.
Mãos lentamente me puxam e cortam minha pele. Sangue escorre pelos ombros. O olho azul esverdeado já está cinza. A pele já está velha, o cabelo branco já está caindo. A fadiga já é imensa. O sangue já não é puro.
Em meio a chacina, um senhor de idade consegue me fazer sorrir, uma pessoa que eu nunca me importei, uma pessoa que eu nunca me interessei... como? Uma pessoa tão simples, que possui o dever de apenas palestrar o seu conhecimento por números e cálculos. Oh... como eu sou um fardo.
O céu é tão limpo, tão puro, tão belo... em meio a tanta destruição e caos, ele simplesmente consegue se manter perfeito. Ah, como eu gostaria de caminhar pelas nuvens. Como eu gostaria de sentir os dedos dos meus pés encostarem no grande "algodão" que está no céu. Deitar sobre ela e observar o que fica além do que enxergamos. Chorar sem ninguém ver, sem ninguém se preocupar.
Minha mente perturbada se destrói a cada segundo. Um dia com um grande potencial se transforma em um completo inferno por causa de um rosto. Será que isso é necessário?
As larvas e insetos saem do podre corpo. Os órgãos já quase não existem, o odor é terrível. A matéria começa a se quebrar, caindo ao chão e se tornando pó. O terror se encerra. A poeira se espalha com o vento, sendo levada aonde ele bem quiser. Ele o leva a desertos, praças, florestas, praias, residências, espalhando aquilo que uma vez já foi vida.
Sentado sobre as brancas e puras nuvens, o felino mantém o olhar fixo no infinito azul. Ao fechar os olhos ele sente a presença do vento, um senhor com cabelos grisalhos, gordo e de belas vestes, elegante. Mas o pequeno gato não consegue o ver, ele apenas o sente. O homem sentado ao seu lado olha para a mesma direção que tal.
O garoto chora.
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Minhas Letras Tortas
Non-FictionContar o dia a dia do perturbado garoto de olhos azuis esverdeados é uma forma dele poder desabafar e expressar ao mundo o que ele sente. Os relatos que esse livro carrega com sí são verídicos, contando os diversos problemas que o garoto sofre e co...