Capítulo 24 - Complexidade

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24/07/23.

Deitado na minha cama às 01:15 da manhã, eu observo minha vida. Observo minhas escolhas, minhas decisões, minhas palavras. Apenas observo, pois não posso mudar o que já foi estabelecido pelo magro garoto de olhos azuis esverdeados. Sinto pena de mim mesmo. Sinto raiva de mim mesmo. Sinto tristeza por mim mesmo. Compaixão, arrependimento, ansiedade.

Ver a garota nos braços do velho homem e vê-lo tomar uma escolha arriscada para salvar quem ele ama, faz o garoto se conectar com o rapaz. Às vezes, a decisão que tomamos nem sempre é a melhor. Correr um risco às vezes é preciso para que possamos estar bem conosco, independentemente se isso custa vidas ou lágrimas.

Estou entediado. A longa semana de férias passou, finalmente. Sinto-me triste ao saber que tenho mais uma semana de "liberdade". Com esse tempo, poderei aproveitar meus jogos, minha televisão... e só. Eu queria tanto férias durante as aulas, mas agora, durante as férias, eu desejo as aulas. O ser humano é um ser hipócrita e bipolar, alguns mais, outros menos. Fazemos de tudo para ter algo A, mas quando conseguimos, queremos mesmo é a coisa B. Dizemos e aconselhamos as pessoas a não fazerem certos atos, e logo depois, estamos fazendo exatamente o que desaconselhamos.

Minha vontade é levantar da cama e sair andando pelas ruas da minha cidade. Vestindo um moletom cinza, uma calça jeans velha de cor preta, um tênis novo e um par de fones de ouvido. Caminhar pela calçada e observar a movimentação das folhas das árvores com o movimentar do vento sobre elas. Ver a cidade ser iluminada pelas lâmpadas nos postes, criando uma atmosfera questionável de se compreender. Observar a quantidade de carros que passam pela estrada e as pessoas que trafegam pelas ruas. Sentar em um banco em frente ao mar e poder olhar para cima, vendo todas as estrelas do céu acompanhadas de uma grande e amarelada lua cheia. Ouvir os elogios, os carinhos dados pelos tais pontinhos iluminados no infinito céu. Mas algo me chama a atenção, a luminosidade do grande satélite natural. Ela me chama pelo meu sobrenome suavemente e me leva até ela lentamente, levitando-me até lá.

- Por que estás triste? Não estou eu contigo? Sou eu a causa dessa sua enorme solidão?

- Não, minha menininha, nunca foi. É apenas um sentimento que carrego comigo há muito tempo.

- Por que não abrir mão desse sentimento? Você dizendo assim não parece algo muito prejudicial.

- Você que pensa... Acha que eu já não teria abrido mão desse peso há muito tempo?

- Me desculpe se te causei raiva, não era esse o meu objetivo. Saiba que estou tentando te ajudar, e o que eu mais desejo é o seu bem.

A mão é levada até meu rosto, acariciando-o suavemente com os dedos.

- Eu te amo, quero que saiba disso.

Os lábios se encostam e o céu se ilumina. O beijo é perfeito, doce e sem mágoa. A garota volta à sua forma padrão e retorna ao céu, deixando o garoto no local onde estava. De pé, em frente ao mar, ele a observa e volta à sua forma padrão. As orelhas e os grandes olhos azuis esverdeados dão destaque ao animal. O gato de pelagem preta sobe em um telhado e se senta, olhando para sua paixão.

Ao abrir os olhos, vejo meu celular com diversas palavras que formam caóticas frases. Não há ninguém para conversar, para compartilhar ideias, maluquices ou loucuras. Eles não entendem minha mentalidade. Não entendem a complexidade das minhas expressões e propostas, minha visão de mundo. O que eu mais quero é poder me sentir vivo novamente.

Minhas Letras TortasOnde histórias criam vida. Descubra agora