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21/04/68.Desde pequeno, eu me lembro do homem alto de olhos azuis claros e cabelos castanhos que, com o tempo, ficaram grisalhos. Eu me lembro da sua risada genuína, do homem que me criou. Ele sempre esteve presente durante a minha caminhada, tanto nos momentos ruins quanto nos bons, me ajudando, me instruindo ou apenas fazendo parte do momento. Tivemos e ainda temos muitos conflitos, um contrariando o outro, um opinando e o outro retrucando, um afirmando e o outro perguntando ou resmungando. Ele me educou com abraços, beijos, palavras e até com tapas. Ele me deu brinquedos, pastéis, balas, amor e carinho. Lembro-me dos dias em que passamos juntos, do dia em que ele me ensinou a andar de bicicleta verde sem rodinhas na pracinha da Alvorada, de quando andamos na montanha-russa do Beto Carreiro uma ou duas vezes e de quando assistimos ele jogar Super Mario Bros e rimos quando caía nos buracos ou perdia para uma tartaruga.
Muitas vezes, ele foi duro comigo, me xingou e me ofendeu, e mesmo que fosse momentâneo, isso me deixava triste, porque me fazia sentir que ele não gostava dos meus desenhos ou não os entendia, que não gostava dos meus pensamentos de futuros trabalhos usando tecnologia, que não gostava que eu conversasse com pessoas na internet ou jogar jogos "violentos". Isso sempre me deixou deprimido, porque ele nunca buscou entender o porquê de eu gostar dessas coisas, ter esses pensamentos. A sua ignorância gerava em mim tristeza, raiva e derrota. Seus pensamentos são diferentes dos meus, mas sei que ele quer me ver bem. No entanto, por mais que ele sempre estivesse presente, ele nunca estava comigo nesses momentos e nunca procurou saber sobre mim e sobre quem eu me tornaria. Tenho que confessar que sim, já o odiei, já desejei o mal para ele e já falei mal dele pelas costas, mas de algum jeito ele sempre fazia eu me arrepender do que eu fazia, peço que me perdoe.
Eu sei que não sou o filho perfeito e que nunca vou ser. Nunca serei o seu orgulho, o seu destaque, mas saiba que eu tentei muito tempo ser alguém aos seus olhos, tentei ser educado, quieto e obediente, mas você mesmo fazia eu desistir. Talvez você não perceba mas, eu também tenho dificuldades. Sei que você está avançado em idade (sem querer ofender) e que já passou por muita coisa, mas eu estou vivendo o agora, e o meu agora é difícil, seja com trabalhos da escola, com meu emocional, com meus relacionamentos, com minhas emoções, com minhas responsabilidades, que, por mais que sejam poucas, ainda são responsabilidades! Entenda que por mais que para você seja fácil, para mim talvez não seja, talvez para outras pessoas também não seja fácil.
O enfermo garoto sentado na cama escreve este texto durante a noite em meio a muitas lágrimas e memórias. Lembrar das vezes em que você me fez rir, me fez chorar, me fez ser quem eu sou hoje faz o pobre garoto chorar. O que ele mais tem medo é de perdê-lo. Por mais que ele entenda que a morte não é o fim de tudo e que, sim, ela é necessária, só de pensar em perdê-lo, de não poder mais sentir sua presença ou de ouvir a sua voz, faz o jovem se derramar em lágrimas. Por mais que você me estressou, me ofendeu, fez eu ter raiva de você, eu sei que você também deu tudo de si para me educar, me ensinar, me ajudar, me abraçar, me amar.
Por mais que eu te estressei, que eu te ofendi, que eu tive raiva de você, eu me arrependo, de tudo.
É difícil falar essas coisas, mas são necessárias, sem isso não haveria mudança. Eu quero ser alguém forte, alguém educado, alguém calmo, paciente, alguém de caráter, alguém disposto a enfrentar as responsabilidades que hão de surgir, mas para isso eu tenho que me reconciliar com você. Por favor, que você seja para mim uma inspiração. O pequeno Jesiel que corria, gritava, chorava e resmungava, hoje quer poder te dizer de todo coração:- Eu me orgulho de você, eu agradeço por ter você, que isso não seja em vão, porque por mais que a gente passe por dificuldades, saiba que o seu filho, Jesiel Lucca Cadorin, diz de todo coração, eu te amo pai, feliz aniversário.
A sua família:
Catiuce Lucca Cadorin
Jefferson Lucca Cadorin
Ester Beatriz Steffens de Souza Cadorin
Jesiel Lucca Cadorin
Guria
Lhe deseja um feliz aniversário!
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Minhas Letras Tortas
Non-FictionContar o dia a dia do perturbado garoto de olhos azuis esverdeados é uma forma dele poder desabafar e expressar ao mundo o que ele sente. Os relatos que esse livro carrega com sí são verídicos, contando os diversos problemas que o garoto sofre e co...