capítulo 28 - Crescer

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28/10/23.

As mãos tremem, clamam por sangue; as pernas movem-se em ritmos diferentes, resultado do estresse. Os olhos fixam-se aleatoriamente, conflito entre mente e coração. Música após música, desenho após desenho, palavra após palavra, morte atrás de mim.

Os olhos não conseguem mais se concentrar; o corpo já não se mantém fixo, sempre em movimento. Penso em tudo, mesmo quando não quero - alguma vez eu quis? As mãos marcadas com grandes roxos entre a articulação dos dedos. Olheiras profundas e escuras. Há alguns dias, descarreguei minha raiva em um garoto, empurrei-o contra o chão e o ofendi em alto tom. Todos da minha sala viram e ouviram, câmeras capturaram o ato, e o que fizeram? Nada. Alguns me elogiaram e disseram para pegar mais pesado na próxima vez. Por quê? Eu fiz o mal e fui tratado com benevolência. A respiração acelerada, a sede de sangue, o olhar apavorado.

Não sinto mais prazer em nada, não tenho vontade de terminar meus jogos, desenvolver uma boa história, conhecer pessoas novas, viajar, nada. Virou rotina sair da sala de aula por motivos bobos; ninguém vem atrás de mim, então não tenho intenção de voltar. A cada dia que passa, sinto mais vontade de retirar meus olhos de minha face. Odeio ter que ver todos aqueles pedaços de carne ambulantes sobre os pisos cinzentos da grande instituição pública de ensino - eles prometem um bom futuro, mal sabem onde estão se metendo. O que me chama a atenção é meu físico. Quero deixar de ser pequeno e aparentar fragilidade. Quero ser grande, demonstrar força e dedicação. Quero agradar a mim mesmo. É isso o que importa.

- Oi, pode chutar a bola pra mim? - Um pequeno garoto vestido de vermelho, carregando o brasão de seu time, com um grande moicano, chama minha atenção. O cenário é totalmente branco, não há nada além de nós dois. Me viro para pegar a bola de futebol e a entrego nas mãos do garoto.

- Qual o seu nome? - o garoto diz com um pequeno sorriso no rosto.

- Lucca...

- Sério? Que nome legal! Quantos anos você tem?

- 16.

- Eu tenho 10. Quer jogar bola com a gente? - ele aponta para o lado, parecendo indicar alguém.

- Tá...?

Um grande gramado surge ao meu redor, com árvores grandes de folhas verdes, calçadas de areia e um céu azul acompanhado de grandes nuvens brancas. O garoto corre e chuta a bola para um jovem descalço na grama, o jovem aparenta ter entre 14 e 17 anos.

- Vem! Vamo jogar "driblinha"!

Ao dar um passo no gramado verde, tudo some, exceto o garoto que se aproxima.

- Você parece muito comigo, quem é você?

Desvio o olhar dele, não o reconheço. De repente, um grande calor toma conta de meu tronco. A sensação é ótima, adoro abraços, faz me sentir melhor.

- Quando eu crescer, quero ser que nem você, alto e bonito - uma risada engraçada soa pelos meus ouvidos. Ele se despede e corre, sumindo entre as sombras. Uma lágrima escorre pelo meu rosto, uma dor no peito surge e grandes calafrios tomam conta do corpo.

- Sinto saudades de minha cidade natal, de meus antigos hobbies, de minha inocência. Quando criança, queria crescer, agora que cresci, o que mais quero é poder voltar atrás.

Não valorizei o que eu tinha.

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