Capítulo 13 - Medo

48 6 3
                                    

01/05/23.

Novamente o mar me deixou. Não sinto mais a brisa do vento, não vejo mais as ondas. Só sobrou o deserto. O garoto chora de saudade e arrependimento, sabendo que os lindos cabelos castanhos nunca mais irão acompanhá-lo novamente. Ele pensou estar resolvido na vida e dando um passo para frente, mas ela o deixou.

O garoto relembra os momentos e pequenos encontros, vê todas as fotos que tinha dela e chora. Ele se sente perdido, caminhando pelo enorme deserto. As lágrimas escorrem pelo seu rosto e ele as seca com sua pequena capa cor de vinho. O sol o machuca, a areia quente queima seus pés e a enorme cicatriz em seu peito permanece. Toda a sua vida passa diante de seus olhos enquanto anda, e ele se pergunta por que tudo isso aconteceu, consequência do passado.

Seus pés afundam e logo o enterram no mar de areia. A escuridão toma conta e há um vazio imenso. Os pés molham e não há nada na grande sala. Ele chora.

De repente, ele sente uma mão tocar seu ombro e, ao olhar para a pessoa, vê um homem acompanhado de um belo cachecol.

- Me acompanhe - o homem diz suavemente.

Os dois começam a andar pelo vazio, mas logo o grande local começa a se modificar. Pequenas bolinhas brancas começam a surgir no teto do salão escuro e a escuridão logo se torna um ambiente iluminado. O toque da grama em seus pés faz o garoto relembrar sua infância. O homem se senta no gramado e o garoto senta ao lado dele. O homem questiona:

- Por que choras, menino?

- Eu perdi tudo o que tinha. Minha casa, minha família, meus amigos, meu amor... - responde o garoto.

- Você não precisa dessas coisas para se manter vivo. Aprenda que a vida te entrega nas suas mãos um presente e, em algum momento, ela vai retirar de você esse presente - diz o homem.

O jovem escuta atentamente ao que o homem diz em meio a pequenas lágrimas.

- As pessoas vão te amar, vão cuidar de você, mas elas também vão te odiar e te abandonar, independente da situação. É nessa hora que você consegue entender a vida. Ela é um ciclo infinito - continua o homem.

- Mas... Por que ela faz isso? Por que não de outro jeito? Tem que mesmo ser desse jeito? - questiona o garoto.

- Se acalme, minha criança - o homem acaricia a cabeça do garoto e o abraça.

- Você nunca conseguirá mudar o que já foi estabelecido há décadas atrás. Você tem que viver o agora, o amanhã não nos pertence. Siga o caminho.

- Mas qual... Qual é esse caminho? - pergunta o garoto.

- Eu sou o caminho. Eu te amo, meu filho - Ao pé da montanha eles choram.

O jovem deitado na cama escreve estas palavras em meio a tantos pensamentos e abalos. As lágrimas e a saudade tomam conta do local. Ele sabe o que deve fazer, a quem deve seguir. Por mais que ele saiba qual é o seu objetivo, ele não consegue...

Ele tem medo.

Minhas Letras TortasOnde histórias criam vida. Descubra agora