22/05/23.
Sentado na última carteira dos quatro corredores da grande sala de aula, vejo algumas pessoas em pé, todas conversando, rindo, fofocando, enquanto eu estou escrevendo sozinho. O novo espelho da sala melhorou o desempenho da turma. Depois de muito tempo sem a presença do professor, que saiu para buscar seu livro, ele retorna faltando apenas 15 minutos para o fim da aula.
Os últimos dias têm sido intensos, especialmente ontem. Eu estava com meu amigo Sheldon, que estava super animado para dar uma volta com sua nova bicicleta. Percorremos vários lugares diferentes, desde ruas movimentadas até praças e outros locais. Tentamos atrair um cachorro para acariciá-lo, mas ele não estava confiante o suficiente para se aproximar de nós. Estávamos pedalando por uma ampla rua vazia perto de um rio poluído. Eu estava cansado e com dor na perna de tanto pedalar. De repente, ouço uma buzina e viro meu rosto na direção do som, e vejo um carro em alta velocidade. Nesse momento, fui avisar Sheldon, que estava no meio da pista. Fiquei assustado ao ver o quão tranquilo ele estava desviando do carro. Quase vi meu amigo ser atropelado e possivelmente morto. Tranquilamente ele ri de mim, enquanto eu estava quase desmaiando. Após rirmos bastante, cada um foi para sua casa. Nessas horas, percebemos o quanto nos importamos com nossos amigos e que não estamos preparados para a morte.
Mesmo sabendo que tenho muitos motivos para sorrir, estou me sentindo um fardo. Vejo todos copiando, respondendo as questões, e percebo que sou inútil e insignificante. Estou tentando mudar minha postura em sala de aula, quero mostrar aos outros que posso ser um bom vice-líder. Mas o que me deixa angustiado é minha ignorância e hipocrisia.
Sinto-me cada dia mais sozinho. Tenho pessoas ao meu lado, com quem conversar e rir, mas nada consegue preencher esse vazio enorme que sinto dentro de mim. Tenho a impressão de que estou piorando cada vez mais, e isso é o que menos desejo.
O pôr do sol e o surgimento da lua me trazem grande conforto. Mal posso esperar para encostar minha cabeça no meu macio travesseiro. Seus cabelos negros cacheados, tênis branco e lábios pequenos chamam a atenção. Sua voz aguda gruda na minha mente como chiclete. Sua positividade e otimismo elevam qualquer um, mas poucos sabem que ela esconde várias cicatrizes. Mesmo que eu não queira, isso vai acontecer. Tudo vai recomeçar, aqueles sentimentos, aquelas descrições detalhadas. Espero que, desta vez, tudo dê certo.
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Minhas Letras Tortas
Non-FictionContar o dia a dia do perturbado garoto de olhos azuis esverdeados é uma forma dele poder desabafar e expressar ao mundo o que ele sente. Os relatos que esse livro carrega com sí são verídicos, contando os diversos problemas que o garoto sofre e co...