Capítulo 4 - Provações

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11/03/23.

Acordar com um sorriso é gratificante. Saber que há alguém que se importa comigo, que me ama independentemente do que eu faça, é muito agradável para o coração. À espera do meio-dia, irei fazer trabalhos para a escola. No total, são quatro, todos em grupo, mas apenas eu e meu amigo iremos fazê-los. Peixe assado com arroz é a combinação perfeita para um almoço em família, mesmo sentindo a falta de uma maionese, estava muito bom.

Meu pai estava dormindo quando Sheldon chegou em minha casa. Entramos silenciosamente, mas o silêncio foi quebrado quando meu cachorro o viu. O olhar de raiva e surpresa apareceram no rosto do meu pai, que estava em um sono profundo. Me pergunto por que ele não dorme no quarto. Entramos no meu quarto e logo retiramos o computador da mochila que trouxe. Ligamos e botamos a mão na massa, tudo isso ao som de C418 e Donkey Kong Country.

Dois, apenas dois trabalhos fizemos. Cinco horas de trabalho para fazermos apenas dois trabalhos. Ao chegar da despedida de Sheldon, o computador decidiu descansar um pouco. Ele desligou. A dor no peito surge só de imaginar nossas três horas sendo jogadas fora. Desespero e risos é o clima. A escolha de reiniciar o computador era a mais arriscada. Após perceber que não tínhamos mais o que fazer, apenas aceitamos o destino e reiniciamos o computador. Fé tínhamos de não termos perdido nosso progresso. Ao abrir o aplicativo, estava lá, um salvamento automático feito pelo aplicativo. Felicidade e um longo suspiro tomaram conta do quarto. Após termos a certeza de salvar o arquivo, Sheldon foi para sua casa.

Andando pelo corredor, sinto um toque em minha perna. Gustavo estava lá, abracei-o e fui para o meu banco. A sensação dos joelhos sendo puxados para baixo pela gravidade é dolorosa. A conversa é necessária. A conversa se estende por um bom tempo, mas logo é interrompida por uma oferta de Halls, obviamente aceita. Sheldon chega e me cumprimenta na frente de todos. Ele se senta ao meu lado e presta total atenção ao culto. O sono é forte, mas dou tudo de mim para poder ficar concentrado no que o pregador diz.

Coloco o violão no carro e vou a pé. As bíblias e a pequena bicicleta verde nos acompanham durante a longa caminhada. Conversas paralelas voam com o vento e caem nas poças feitas pela recém-passada chuva.

A despedida chegou. Espero vê-lo na segunda-feira para podermos falar sobre os trabalhos. Gustavo está em cima de sua bicicleta verde, desabafando junto comigo. A intimidade que criamos foi muito rápida. Já somos praticamente irmãos!

Assuntos muito delicados e íntimos fazem parte de nossa conversa. Um ajuda o outro, um confia no outro. Estamos distraídos. Apenas conversa vai, conversa vem.

- Que livro é esse?!?

O cheiro desagradável que sai de sua boca, provocado pelo cigarro, pergunta. Ele era praticamente do tamanho do Gustavo. Boné sujo, regata cinza mostrando os braços tatuados. Três pequenas garotinhas acompanham esse homem. Todas pareciam ter entre 2 e 5 anos.

- Uma bíblia - respondo sinceramente.

- Você acredita mesmo nisso? - O olhar malicioso que ele tinha dava arrepios e ódio, mas eu mantinha a concentração.

- Claro que sim! Eu vivo isso! - Gustavo diz isso com um sorriso no rosto.

O homem cutuca o peito de Gustavo, parecendo ameaçá-lo, dizendo:

- Você acredita de corpo e alma?

- Sempre!

O homem sorri com nojo, dizendo enquanto segue caminho:

- Você vai rasgar isso para fumar maconha!

Gustavo mantém o pé firme, olho no olho, dente por dente. O homem dá uma tragada e vai embora. As crianças que o acompanham me dão uma tristeza e angústia enormes. O que ele já fez com essas crianças? Que dor...

Passamos pelo circo, chegando perto de um posto recém-construído. Um homem nos segue. Suspeito, mas continuamos nossa conversa. Ao atravessar a rua, o homem vai embora. O carro vermelho para ao nosso lado. Continuamos nosso caminho, mesmo estando assustados. Ele tenta dar ré, mas alguns carros passam, fazendo-o parar por alguns instantes. Ele dá ré novamente, mas já estamos mais à frente. O desespero de querer subir na bicicleta me deixa atrapalhado. Desculpe, eu sou assim. O carro só continua seu caminho. O suspiro de "muito obrigado" é a principal coisa que fazemos. Três provações.

Ao chegar na curva para a minha rua, Gustavo se despede e fazemos um abraço de agradecimento. Vou correndo, já é tarde. Quando chego em minha rua, vejo dois grandes cachorros. Um deles é meu amigo. Chamo-o para perto para que ele me reconheça e me proteja. Dois garotos estão fugindo do outro cachorro. Ao perceber melhor, era um Pit Bull adulto. Sinto medo, mas sigo firme e vou para casa. Abro o portão e o fecho rapidamente. Alívio e suor são a combinação.

Deitado na cama, digito enquanto penso cuidadosamente em cada palavra que quero expressar para você. No momento, a música "Chamber of Reflection" de Mac DeMarco está tocando ao fundo.

"Alone again, Alone again, Alone again, Alone again, Alone..."

Sempre sinto o mesmo sentimento: solidão. No entanto, quero que saiba que, apesar das dificuldades que enfrento, eu te amo. Desejo sentir o seu perfume e o toque do seu cabelo castanho liso. Imagino o quão doce devem ser seus lábios. Espero que tudo isso não seja apenas um sonho.

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