51° Capítulo

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CONTINUAÇÃO...

Ela leu a carta sete vezes seguidas para ter certeza de que realmente estava lendo certo.

Ludmilla: Deve ser brincadeira - Sorriu sem humor.

Ludmilla largou a carta e se sentou no sofá. Como ela iria chegar no aniversário da filha e dizer para ela que a mãe não iria? Seu coração apertou só de imaginar aqueles olhinhos cheios de lágrimas.

Ela tentou ligar para a esposa várias vezes, mas apenas caía na caixa postal. Provavelmente ela já estivera dentro do avião.

A mulher juntou suas forças, se levantou e respirou fundo.

Ludmilla: Você tem que ser forte - Ela lutava com as lágrimas que insistiam em sair de seus olhos.

Foi até o banheiro, lavou o rosto e logo voltou para a sala. Ela pegou a bicicleta e levou para o carro partindo para o salão de festas onde estava ocorrendo a celebração do aniversário de sua filha.

Ela estacionou o carro e ficou lá dentro por alguns minutos ensaindo o que falar para os filhos, mas logo percebeu que nada seria bom o suficiente. Tomou coragem e saiu do carro. Pegou a bicicleta no porta-malas e partiu para dentro do salão com o coração na mão.

Nina/Léo: Mama! - Eles foram correndo até ela quando o mesmo adentrou a porta - Cadê a mamãe?

O olhar da morena foi diretamente para a irmã que estava sentada em uma mesa próxima a porta. Ela arqueou as sobrancelhas e ela apenas negou com a cabeça, contado, sem palavras, que a esposa não estava mais lá.

Ludmilla: Vamos ali na cozinha? - Sorriu e sentiu novamente o nó na garganta.

Ela pegou a mão dos filhos e partiu para a cozinha tentando não chamar a atenção para não ser questionado.

Ludmilla: Filhos - Ela se ajoelhou para ficar da altura deles - A mamãe não vai conseguir vir, mas não fiquem tristes, tá bom? - Falou rapidamente ao ver o bico que se formava nos lábios de Nina - Ela deixou um presente muito legal pra você.

Nina: Por que ela não vem? - A menina já tinha a voz chorosa.

Ludmilla: Lembra da viagem? - Eles assentiram com a cabeça - Ela teve que ir mais cedo. Mas não foi escolha dela, foi por outros motivos - Explicou.

Léo: Ela não vai voltar nunca mais? - Perguntou.

Ludmilla: É claro que sim, filho! Inclusive, assim que ela chegar lá em Portugal, vai ligar pra vocês - Sorriu e acariciou o cabelo dos dois - Não fiquem tristes, tá? A mamãe volta logo.

Nina: Por que ela não se despediu da gente então? - Nina passou a mão na bochecha limpando a lágrima que escorreu.

Ludmilla: Ela não queria deixar você triste na sua festa.

Nina: Eu não to triste - Forçou um pequeno sorriso, mas as lágrimas inundaram seu rosto.

Ludmilla: Oh, meu amor - Ela a pegou no colo a abraçando fortemente enquanto a menina chorava em seu ombro - Calma - Acariciava as costas dela - Amanhã a gente já consegue falar com ela, tá?

Léo: Por que amanhã? - Questionou.

Ludmilla: A viagem é bem longa, então só vamos conseguir falar com ela amanhã - Explicou.

Quando a filha se acalmou, ela voltou a deixar ela no chão.

Ludmilla: Vamos fazer um acordo? Hoje nada de choros! Vamos festejar os quatro aninhos da Nina, sem tristeza e nem choro. Amanhã, quando a gente for falar com a mamãe pelo celular, a gente dá um monte de beijos e abraços virtuais nela, o que acham? - Propôs com um sorriso no rosto.

Nina: Sim! - Disse animada.

Ludmilla: Então vamos no banheiro lavar esse rosto primeiro e depois vou te mostrar o presente que a mamãe deixou pra você!

A festa seguiu de maneira tranquila, para as crianças pelo menos. Ludmilla já não aguentava mais ouvir a pergunta "cadê a Brunninha?”. Isso já estava a deixando irritada, pois a cada cinco minutos, alguém ia falar com ela sobre sua esposa e o que ela menos queria naquele momento, era se lembrar dela.

Luane: Agora você pode chorar - Disse para a irmã enquanto elas estavam sentadas no sofá da casa dela.

A festa havia acabado e, como Ludmilla contou para os sogros o que havia
acontecido, eles resolveram levar as crianças para sua casa e entretê-los já que sabiam que a morena não teria forças para isso. Não naquele dia pelo menos.

Ludmilla: Quem disse que eu quero chorar?- Perguntou mordendo o lábio inferior e segurando as lágrimas.

Luane: Olha, eu sei que o que ela fez não foi certo, mas entenda o lado dela. Não deve ser nada fácil não poder participar da festa da filha e ter que falar isso pra ela.

Ludmilla: Claro, e como a egoísta de sempre, ela deixou essa bomba nas minhas mãos, não é? - Disse me um tom de indignação.

Luane: Entenda o lado dela - Repetiu - Olha tudo que ela passou nesse...

Ludmilla: Olha o que eu passei também!- Alterou o tom de voz - As pessoas ficam dessa de "tadinha da Brunna, perdeu a memória, nossa que triste”, mas ninguém liga pra Ludmilla que ficou um ano com a esposa em coma e quando ela acordou sequer se lembrava dela! - As últimas palavras saíram em um tom super alterado.

Luane: Hey, calma - Acariciou o braço da irmã vendo que ela respirava ofegante.

Ludmilla: Eu... eu só queria que ela não tivesse sido egoísta pelo menos hoje. É o aniversário da nossa filha! Que merda ela tem na cabeça? - Socou o sofá com força.

Luane: Não foi uma escolha dela.

Ludmilla: Foi! Se ela não quisesse era só ter dito não!

Luane: Mas talvez essa resposta não era uma opção.

Ludmilla: Ela poderia ter me contado e a gente dava um jeito! Nem que tivesse que alugar um helicóptero, sei lá, eu faria qualquer coisa pra ela estar aqui no aniversário da Nina.

Luane: Eu sei que sim.

Ludmilla se acalmou e então as lágrimas vieram à tona. Luane a abraçou quando o choro começou a ficar mais alto e incontido.

Ludmilla: Imagina como a minha filha não tá se sentindo.

Luane: Imagina como ela deve estar se sentindo - A mulher fazia de tudo para defender a cunhada - Olha, você tá com a cabeça quente, melhor não ficar pensando nisso. Eu sei que é difícil, mas é melhor você dormir e ligar pra ela amanhã. Vocês precisam esclarecer isso.

Ela chorou por mais um tempo e logo se acalmou. Luane ajeitou o quarto do Yuri e Ludmilla se deitou lá. Só depois que ela lhe deu um copo de leite quente, que ela conseguiu relaxar e pegar no sono. Luane entendia o lado de sua irmã perfeitamente, sabia que não deveria ser fácil para ela, mas ao mesmo tempo não conseguia deixar de pensar na cunhada.

Quase Tudo Perdido...Onde histórias criam vida. Descubra agora