CAPÍTULO VI - PESQUISA

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- Você viu que alagaram o corredor do segundo andar? - Foi a primeira coisa que Theo falou, tirando Ângelo de seu transe.

- Ham? Não, não vi. - Respondeu meio ríspido, igual sempre fazia.

- Estão falando que alguém estourou o cano. - Se sentou ao seu lado, sem se importar muito com a resposta um pouco mal-educada do colega.

Já havia se passado uma semana de aula e eles viraram, de certa forma, amigos. Gostavam de conversar e tinham muitas opiniões parecidas, por mais que ainda não se falassem tanto quanto ambos gostariam. Falavam sobre música, sobre as matérias, sobre filmes e livros e tudo o que é impessoal.

- Se lembra que hoje temos que começar aquela pesquisa do Rodrigo, não é? - Relembrou, olhando para o nada. Ângelo odiava direito romano com todas as suas forças e odiava ainda mais o seu professor.

- Lembro, podemos fazer assim que sairmos daqui. - Sugeriu, os olhos de Ângelo se voltaram para Theo.

- Não posso, preciso buscar minha prima na escola. - Não tirou seus olhos dos do ruivo, que só deu um breve sorriso tímido, desviando o rosto – Mas se você não se importar, pode ir junto comigo e depois vamos fazer a pesquisa.

- Se for por mim, tudo bem. - Deu de ombros - Não sabia que tinha primas. - Deu um sorriso de canto, como se gostasse bastante da notícia. Algo murchou dentro de Ângelo, não soube explicar direito o que seria, só sabia que não gostou daquela reação.

- É, tenho família, acredita? - Foi rude, o sorriso de Theo desapareceu, sendo tomada por uma reação breve de espanto, logo uma expressão mais fria, optou por não responder e apenas abrir sua leitura atual.

Poucos minutos depois, o professor entrou, iniciando a matéria. Theo sacou o fichário e anotou cada palavra que foi dita, tirando o máximo de informação, enquanto Ângelo gostava mais de ouvir e usar gravadores para estudar depois.

Ao se virar para o lado, não pôde evitar de reparar como Theo estava bonito no dia. Os cabelos ruivos caindo em sua testa, as sobrancelhas franzidas, os óculos de armação fina, os olhos bem verdes e focados, as sardinhas pipocadas por sua leve queimadura nas bochechas, a boca rosada sendo mordiscada sem pretensão, a perna nervosa que fazia a mesa balançar...

Ah, se as revistas descobrissem esse garoto! Ângelo pensou consigo mesmo, dando um sorrisinho. O ruivo se virou para ele e percebeu que estava sendo observado, imediatamente desviaram os olhos para outro canto.

Theo voltou a copiar, mas agora as palavras não faziam mais sentido e tudo que o professor falava entrava por um ouvido e saía pelo outro. A verdade é que Theo está louco por um beijo de Ângelo.

Não que fosse novidade para alguém, mas era gay. Não era difícil saber, morava em um armário de vidro faz anos, já teve até namorados! Mas, de qualquer forma, ainda era complicado lidar com esse desejo por homens heterossexuais, principalmente quando são bonitos daquele tanto.

Bem, beijo a mais, beijo a menos, não faz diferença, Ângelo podia ser um rude estúpido às vezes, mas não era uma má companhia. Não eram exatamente amigos ainda, sabiam muito pouco um sobre o outro, porém definitivamente combinavam.

Theo sabia apenas sua idade, o modelo de seu carro, que morava nos Jardins e agora que tinha uma prima.

- Terra chamando Theo. - Dedos se estalaram na sua frente, o arrancando de seu transe, que murmurou confuso – Eu fui até a cantina e te trouxe isso. - Era uma esfiha de carne e um café.

- Obrigada. - Deu um sorrisinho, nem se lembrando de quando o amigo saiu de seu lado, o viu dando um gole em seu café e queimando a língua pela quinta vez, não conseguiu segurar a risada e gargalhou, tapando a boca.

COSMOS E CHAOS - Uma história sobre amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora