COSMOS E CHAOS - Uma história sobre amor.

CAPÍTULO XVII - QUESTIONAMENTO

Depois do episódio da janela, Priscila não conseguiu dormir mais de forma alguma e estava ficando faminta. Então se levantou, escovou os dentes e já colocou um biquíni com uma saída de praia.

Desceu as escadas em silêncio total, vendo Ângelo praticamente desmaiado no sofá, mas passou sem incomodar. Ao chegar na cozinha, comeu meia maçã e estava satisfeita, não tinha esse costume de comer muito de manhã.

Estava saindo para um passeio na praia sozinha, mas antes percebeu o seu caderno de rabiscos em cima da mesa. O olhou por alguns segundos, pensando que seria bom desenhar algo enquanto pode, então o recolheu e partiu.

Estendeu uma canga na areia e se sentou, deixando os pés ficarem de fora. Quando Pri abriu em uma página aleatória, buscando alguma vazia, viu uma nota.

"Lili esteve aqui! 27/06/2000."

Abriu um sorriso inevitável, destacando as palavras com sua lapiseira, nem ligando que Lilian tinha rabiscado uma página que estava vazia.

Sem nem pensar muito, esboçou a silhueta de uma mulher magra. Olhou para o horizonte, buscando inspiração, mas tudo o que olhava a lembrava apenas uma pessoa.

A luz branca do sol, a areia macia e clara, o mar azul, as conchas que se acumulavam em alguns cantos e o barulho da maresia. Existia uma pessoa exatamente igual a praia.

Priscila realmente gostava muito de praia, mesmo. Gostava daquela selvageria de água azul bem em sua frente, sentindo vontade de mergulhar de cabeça ali.

Viajando em pensamentos, Pri começou a desenhar em cima do esboço, sem sequer perceber que a garota que rabiscava era a "praia humana", por assim dizer.

Um tempo se passou, dando mais detalhe e mais vida ao desenho, que tomou bastante forma. Uma garota de cabelos lisos e claros, sorriso grande e olhos comprimidos, sobrancelhas finas e uma pintinha característica na bochecha, bem abaixo do olho.

No corpo, colocou uma mini-saia e uma regata que não cobria a barriga na garota, mostrando um piercing no umbigo.

Era a moda, Lilian falava o tempo todo que queria um, mas Katia nunca tinha tempo para levá-la para furar num profissional de confiança. Era mentira, Katia achava muito brega.

Lilian tinha um piercing de pontinho no lado direito do nariz, furos duplos nas orelhas e piercings nos dentes, que eram colantes. Era engraçado, porque Pri sequer tinha furos nas orelhas.

O desenho foi finalizado, de primeiro momento Priscila não percebeu, mas olhando mais de longe viu bem o que tinha feito. Lilian estava ali, em seu papel, fazendo uma pose igual fazia para capas de revista.

Era impressionante para Pri o jeito que a Lilian de grafite era linda, queria passar a tarde toda aperfeiçoando e lapidando os traços, apenas para tentar retratar a realidade.

- Buh! - Lilian chacoalhou os ombros de Pri, que voou de susto. A loira começou a ter uma crise de riso.

- Idiota. - Reclamou, respirando fundo.

- Não fica brava comigo, vai. - Lili pediu, abraçando a amiga - Vai ficar com rugas na testa.

- Mesmo?

- É, se fica com cara de irritada, fica com rugas na testa. - Lilian se repetiu, sentando-se ao lado da amiga, que por sua vez alisava a própria testa na tentativa de se livrar das marcas futuras - O que você veio fazer aqui tão cedo?

- Sei lá, estava entediada. - Respondeu, observando o movimento das ondas.

- Hm, entendi. - Apoiou sua cabeça no ombro de Pri, que apoiou sua cabeça por cima. Priscila nunca foi do tipo mega carinhosa, na verdade até evitava contato físico, mas algo no afeto de Lilian era diferente.