CAPITULO XXXII - PIANO

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- Você nunca me disse que sabia tocar pandeiro. - Pri sorriu, assistindo Lilian batucar o instrumento.

- Um dos namorados da minha mãe me ensinou, eu gostava bastante dele. - Respondeu, levando a memória ao passado - Minha mãe vem deixando o padrão alto de lado.

- É, Aage que o diga. - Trouxe o namorado novo e insuportável de Katia à tona - O pior é que está durando demais.

- Ele apareceu depois do nosso primeiro mês, não? - As duas garotas estavam juntas desde janeiro, era junho. Em seis meses juntas, Pri percebe que não foi feliz durante sua vida toda, mas era agora.

Não percebia o quão importante era o amor de Lilian em sua vida, e tê-la para si foi a melhor coisa que já aconteceu. Não a marca, não o dinheiro, não o status, Lilian.

- É. - Só concordou.

- Quer me ouvir tocar piano? - Perguntou, guardando o pandeiro.

- Claro! - Se sentou na banqueta do piano, a loira logo veio e se sentou ao seu lado - O que você vai tocar?

- Surpresa. - Piscou, alongando os dedos e os posicionando.

Quando começou a tocar, Priscila reconheceu logo na primeira nota, a música era "Girassol da Cor de Seu Cabelo", do Clube da Esquina.

Lilian começou a cantar, e sua voz era linda, combinava muito com a garota. A sua cantoria melódica penetrava nos ouvidos de Pri como se os acariciassem.

Ouvi-la cantar era um presente divino, uma massagem espiritual, fazia Priscila suspirar como se fosse sua primeira vez experimentando o oxigênio.

Priscila a amava com todo o seu coração, e Lilian fazia questão de fazê-la lembrar todos os dias o porquê a ama.

Lilian terminou e tomou um longo segundo para respirar, depois se virou para a namorada.

- E aí? - Perguntou, buscando uma avaliação positiva da garota.

- E você ainda pergunta? - Calmamente pousou a mão na bochecha rosada de Lilian, que aconchegou o rosto na palma da mão de Pri.

- Quero ouvir da sua boca. - Colocou a própria mão por cima da de Priscila.

- Eu acho que é isso que toca quando alguém chega no céu. - Trocaram sorrisos, depois deram um longo beijo.

Trocaram carícias amorosas na banqueta, depois mais alguns beijos e sorrisos apaixonados.

Lilian amava Priscila, amava tanto que doía. Sentia um medo absurdo de quebrar seu coração tão bom, sentia medo de ela não ser sua para sempre.

Se a perdesse, perderia uma boa parte de seu coração. Se perdesse aquela garota, talvez nunca mais se achasse.

- O que foi isso? - Ficaram alertas ao ouvir um barulho alto do jardim, que podia ser visto da janela. As duas correram para a grande vidraça e se apoiaram no parapeito, uma do lado da outra.

Era Ângelo, só Ângelo sendo ele mesmo.

- Esse cara é esquisito. - Lilian torceu o nariz, vendo ele reclamar de ter pisado em uma pá de jardinagem.

- Ele não é, ele está. - Pri corrigiu, e Lili concordou.

Ângelo está esquisito há mais de seis meses, não deprimido como antes. Ele comia, bebia, saía, estudava, conversava, só que algo tinha mudado dentro dele. Talvez sua personalidade, talvez sua visão de mundo, nem o próprio sabia.

Ele parecia estar amigo de um cara da faculdade, um tal Ícaro, faz artes cênicas e parece ser um cara legal. Mas mesmo na frente das pessoas, Ângelo se confundia e o chamava de Theo.

- Eu nunca vi ele assim. - Lilian admitiu, perdida em pensamentos.

- É tão diferente do que ele é? - Perguntou, pois só conheceu Ângelo durante Theo, não antes.

- Porra, demais. - Sorriu, negando fraco com a cabeça. Se lembrava do Ângelo irritado que era antes, parece que alguém o matou e substituiu. Ele nunca mais foi malvado, só foi muito, muito cansado.

- E então, Lili, o que você queria me dizer? - Pri relembrou o porquê estavam ali, Lilian disse que queria a contar algo.

- Bem, antes de começar, você tem que me prometer que não vai ficar brava. - Iniciou, engolindo o seco.

- Tudo bem, prometo. - Disse da boca para fora, sabia que poderia sair dali muito chateada.

- Antes de eu te conhecer, meu sonho era fazer um intercâmbio. - Iniciou, Pri franziu o cenho - Minha mãe me deu um de presente, mas foi fechado antes de te conhecer.

- Ah, e você vai? - A loira assentiu, testando sua reação - Espero que seja legal lá, onde é? - Sorriu forçado, tentando engolir a bola de ciúmes que subiu por sua garganta, queimando-a por dentro.

- Mesmo? - Agora a confusa era ela, que esperava uma reação negativa da menina - Você sabe que vou passar cinco meses fora, não?

- Sei, e eu vou morrer de saudades, mas não vou te segurar aqui. - Se aproximou de Lilian e a abraçou pela cintura - Me conta como vai ser.

- Eu também vou, amor. - Passou seus braços pelos ombros de Pri - Mas olha, eu vou para a Itália! - Exclamou, seus olhos começaram a brilhar, era o seu sonho - Vou ficar em Florença por cinco meses e terminar o segundo ano lá, volto no fim de novembro.

- Promete me mandar e-mails? - Pediu, ainda sentindo aquela coisa ruim borbulhar em seu estômago.

- Todos os dias, meu bem. - Beijou sua testa. Pri admite, não gostou da ideia nem um pouquinho, mas não podia impedir a pessoa que mais ama de viver.

Depois daquilo, mais tarde, Lilian foi até o quarto de Kátia e bateu na porta, apreensiva.

- Pode entrar. - Kátia disse, então Lilian entrou. A mãe estava de roupão de cetim rosa, touca de hidratação no cabelo e argila no rosto - Oi filha, o que foi?

- Mãe, a Pri pode ir comigo para o intercâmbio? - Sorriu, sem enrolar a mais velha, que fez uma careta estranha.

- Não, óbvio. - Deu um sorrisinho incrédulo, desmanchando o semblante esperançoso de Lilian.

- Por que não? - Reclamou.

- Primeiro, está muito em cima da hora, outra coisa, os documentos dela estão todos vencidos. - Retrucou - Ela é quase uma indigente!

- Não fala isso dela! - Cruzou os braços, odiando o tom da mãe.

- Nada está bom para você, não é? - Lilian se encolheu pelo tom acusatório - Tudo o que eu faço é ruim! Faz assim, pede para a Nelci pagar o intercâmbio dela. - Kátia era ciumenta com a filha, por mais que nunca estivesse presente na vida dela.

- Você nunca me entende. - Respondeu baixinho, baixando a cabeça.

- Não, Lilian, eu não entendo mesmo. - Diminuiu um pouco a intensidade da voz - E você também não me entende. - A filha olhou para a mãe com os olhos vazios - Era isso?

- Era.

- Estamos conversadas, então.

- Tá. - Deu as costas e saiu, pisando forte e bufando de ódio.

No dia seguinte, Katia deixou uma caixa Louis Vuitton cheia de roupas e acessórios novos na cama de Lilian. Era sua maneira de pedir desculpas.

COSMOS E CHAOS - Uma história sobre amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora