CAPÍTULO XLII - BAILE DOS NAMORADOS

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- Pode me passar o batom, por favor? - Lilian pediu, após falhar em pegar o item que estava na frente de Theo.

Os dois amigos estavam retocando a maquiagem para o baile de dia dos namorados, promovido pela Cosmos. Em junho de 2002, após o lançamento da terceira coleção da marca, Priscila e Lilian entraram em um dos poucos consensos que estavam conseguindo ultimamente e decidiram planejar um evento beneficente.

Lilian e Priscila ainda não estavam se falando como antes, mas tudo estava bem mais leve na casa, em uma convivência quase amigável e respeitosa. Por mais que às vezes se desentendessem, não traziam mais o assunto à tona, era quase como se não tivesse existido. Apagaram os últimos dois anos de suas mentes e apenas seguiram o caminho.

- Não. - Brincou, passando o batom para Lilian logo em seguida - Seu vestido está muito bonito, eu gostei.

- A Priscila que fez. - Sorriu, erguendo a alça do vestido, que insistia em cair - Eu gostei também, é inegável o quanto essa desgraçada é talentosa.

- Você ainda gosta dela, né? - Theo perguntou, com um sorriso solene.

- Eu? Tá louco? - Franziu a sobrancelha, também sorrindo, mas de forma irônica - Não sei como você perdoou o Ângelo.

- Eu não sei como você não perdoou a Pri. - Retrucou - E ela ainda gosta de você, tenho certeza.

- Depois eu que sou a loira burra. - Brincou, voltando a retocar sua maquiagem com o batom - Deveriam inventar o termo ruivo trouxa.

- Vai se foder. - Mostrou o dedo médio para a loira, que riu - Eu tô falando sério, tenta conversar com ela.

- Esse assunto já morreu, e nosso sentimento também. - Esclareceu - Não vou ficar chutando cachorro morto, meio que já perdoei na medida do possível.

- Eu vejo o jeito que vocês se olham. - Continuou insistindo um pouco mais, a fim de fazer Lilian enxergar algo que apenas ele enxergava, aparentemente.

- Eu mal olho para ela. - Afirmou - E outra, ela não é igual ao Ângelo, que se arrasta feito um cachorrinho atrás de você. - O criticou, usando um tom irônico.

- Bem que você queria. - Respondeu.

- É, bem que eu queria. - Confirmou, dando um longo suspiro - Mas não faz mais diferença.

- Sei. - Apenas concordou - Vamos? - Ele chamou, guiando a loira para o lado de fora da casa, onde um Mustang o esperava.

Ângelo presenteou Theo com um carro milionário em seu aniversário, o qual nem cabia na garagem minúscula do prédio em que morava.

Lilian olhava para aquele carro azul marinho e sentia pura inveja. Não por não ter um, mas por Ângelo ter se desdobrado por inteiro apenas para manter Theo por perto, enquanto Priscila sequer tentou.

Não queria um carro, queria uma declaração de amor verdadeira, que a fizesse acreditar que talvez valesse a pena.

Foram para o baile em silêncio, enquanto a brisa do carro em movimento invadia as janelas abertas. São Paulo estava movimentada como nunca, então pegaram um trânsito absurdo até o evento.

Aquele lugar estaria repleto de casais felizes, o destaque da noite era o casal queridinho da mídia. Ângelo e Priscila para cá, Ângelo e Priscila para lá, será que ninguém percebe o quanto essas pautas repetitivas ficam insuportáveis?

Mas bem, se elas são escritas e publicadas, as pessoas compram. Engolem esse casal nojento com pimenta, como se fosse a coisa mais gostosa do mundo inteiro.

Lilian não gosta nem de pensar neles dois, mas infelizmente hoje teria que posar com um sorriso de orelha a orelha ao lado dos pombinhos.

Olhou Theo de canto de olho, estacionando despreocupado, sabendo que seria recheado de amor quando chegasse em casa mais tarde.

COSMOS E CHAOS - Uma história sobre amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora