CAPÍTULO XV - COLAPSO

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Ângelo passou o caminho todo, da faculdade até sua casa, louco para bater o carro em um poste. Naquela sexta cinzenta, ele se perguntou o por quê de ainda não ter jogado a Maserati no rio.

Estacionou e saiu do carro, entrou na casa calado, aproveitando que não havia ninguém. Comeu um pedaço de queijo como almoço e voltou a fumar, igual sempre fazia quando estava nervoso.

Ângelo estava colapsando porque Theo estava o ignorando há uma semana. É besteira, ele sabia, talvez isso o frustasse mais do que a situação em si.

Desde quando ele era o tipo de homem que sofre por coisas assim? Se por onde passava, pisava em corações, por que agora que só a ameaça do seu ser pisado o apavorava?

Ângelo subiu até a sala de música, ia tocar um pouco de piano para ver se melhorava. Quando abriu a porta, se surpreendeu com Priscila lá, tocando algumas notas.

- Ângelo? Ah, me desculpa! - Se levantou, assustada - Não sabia que você ia usar aqui.

- Pri, não precisa ficar se esgueirando pelas sombras, você mora aqui agora. - Tentou parecer tranquilo, já que o assunto não era sobre ela. O fato de dividirem a mesma casa não era incômodo para Ângelo, de qualquer maneira.

- É que a casa é sua... - Se sentou novamente, ainda constrangida.

- A casa é nossa. - Sorriu, se sentando ao seu lado no banco do piano.

- Você não se incomoda que uma estranha esteja morando na sua casa agora? - Olhava para as próprias mãos.

- Claro que não. - Confortou - Você é uma amiga pra mim, gosto da sua companhia. - Quando a morena levantou os olhos, trocaram sorrisos - Você é muito legal.

- Obrigada, você também é.

- E mais, você faz bem para Lilian, o que é importante para ela é para mim também. - Colocou a mão em seu ombro, apertando de leve.

- É... - Só então, depois de tanto Ângelo elogia-la, ela ficou tímida - Você toca piano? - Mudou de assunto.

- Um pouco, só. - Respondeu, teclando despretensiosamente - E você?

- Quando eu era bem pequena, meu pai me ensinou a tocar algumas músicas infantis. - Começou a tocar "Brilha brilha, estrelinha", Ângelo a assistia com admiração.

Os pensamentos rodavam na cabeça do rapaz, todos sobre Priscila. Ela era uma garota linda, inegavelmente, além de muito gente boa também. Ângelo via verdade nela, no seu cabelo cacheado e fino, em seus olhos castanhos que combinavam com seu corpo dourado e também em seu sorriso doce.

A melhor coisa que ele via nela, muito além da beleza, era que não se preocupava em parecer de plástico.

Tinha pêlos nos braços e cravos no nariz, a coluna se curvava ao tocar o piano, uma penugem fina de "bigode", as unhas estavam irregulares e lascadas, haviam marcas de machucados e cicatrizes, era uma menina adolescente de verdade.

Ângelo queria cuida-la, protege-la, passar tempo com ela. Mas não queria levá-la para a cama ou beija-la em seu carro, longe disso! Priscila era uma criança ainda.

Enquanto Priscila apenas tocava a música, sem imaginar o que se passava na cabeça do amigo, que a olhava com doçura.

A porta rangeu e os dois pularam para trás, mesmo sem estar fazendo algo errado.

- Lili! - A garota exclamou, como quem é pega em uma mentira - Pensava que você estava mal.

- E estou. - Lilian disse, com a voz anasalada - O que tá acontecendo?

COSMOS E CHAOS - Uma história sobre amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora