Heavy

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Pov. Draco

   Embaçada estava a minha visão, enquanto eu acelerava meus passos por aquela grama. Descalço e ensanguentado eu corria o mais rápido que eu conseguia, visualizando parcialmente Narcisa em minha frente, tentando protegê-la, tentando me proteger, tentando proteger Ronald e a todos os outros. Ergo o cano da Glock em direção a um homem que estava no meu campo de visão e puxo o gatilho, acertando-o na testa e o derrubando ao chão de imediato. Sinto meu estômago latejar em dor, rompendo nele mesmo e espalhando um choque agonizante por todo o meu corpo. Eu não havia levado um tiro, entretanto após todos os últimos dias de tortura eu não estava muito bem.

   Com certeza estava com um ou mais dedos quebrados, além do meu nariz que estava em processo de cicatrização. Em meu corpo haviam várias fissuras de cortes, profundas e rasos, era difícil dizer. Meu olho direito estava completamente cego, inchado ao ponto de eu não conseguir enxergar nem um pouco dele e o esquerdo estava bom, entretanto a visão estava borrada pelo sangue que escorria de minha testa e era misturado com todo o meu suor. Por outro lado o meu estômago estava pior, todos os socos que eu havia levado, fizeram com que algo mudasse aqui dentro, eram mais do que somente costelas quebradas.

   Nesse meio tempo eu não conseguia mais diferenciar o que era suor, do que era sangue, água e catarro, tudo viraram uma coisa só e faziam parte do meu corpo como uma só unidade. Sair desse buraco havia se tornado a melhor coisa que o universo poderia me proporcionar, nada no mundo irá me satisfazer tanto do que sair daqui com a minha mãe ao meu lado. Consigo ver as árvores ficando mais próximas e por fim a nossa liberdade. E eu poderia dizer que a minha boca se curvou num sorriso juvenil e meus olhos brilharam somente pela ideia de ser livre de novo, de mostrar tudo o que eu prometi para a minha mãe, de rever Harry.

   Harry Potter... O que será que aquele garoto está fazendo? Será que está assistindo televisão ou está fazendo algum tipo de exercício? O que ele vai achar quando eu voltar? Será que ele vai ficar feliz ou vai ficar chateado? É claro que ele não irá me ver assim, eu vou esperar alguns dias, ou semanas, bom, o tempo suficiente para eu ficar apresentável. Ele não pode me ver nesse estado, eu não sou nada do que um objeto sujo e descartável, irei assustar-lo. Irei apresentá-lo para Narcisa. Falamos sobre isso, eu disse que havia conhecido alguém e que ele era especial para mim. Eu gostaria que ela o conhecesse, que ela visse o que eu vejo nesse garoto. Harry é especial para mim e eu quero vê-lo de novo.

   E caído sobre a grama me vejo desabar dessa ilusão, como se eu tivesse me jogado em um precipício sem nenhuma proteção. Em questão de segundos sou atingido por um tiro vindo da minha direita, que acertou meu ombro próximo ao meu peito, levando-me ao chão em passos conturbados. Em outras circunstâncias esse tiro não teria me desestabilizado desse jeito, entretanto nesse instante eu mal consigo parar em pé. Havia troca de tiros por todos os lados e todos corriam para direções diferentes, fugindo ou atacando, uma guerra onde todos que estavam ali sabiam que iriam morrer se não fizessem uma rápida escolha, mesmo tendo suas consequências.

   Minha consciência entra em falha de sistema, sinto-me sem fôlego, despertando e apagando por breves instantes. Tento me reerguer quando vejo Narcisa olhar para trás para me procurar, contudo caio de novo. Entrelaço a arma entre meus dedos e miro no homem que atirou em mim, apertando o gatilho tantas vezes que acabo sem munição e ele acaba morto em um canto qualquer. Tudo isso foi tão rápido, que quando ergo meu olhar de novo, vejo Narcisa correr em minha direção, com Ronald e George em seu alcance. Minhas pálpebras se fecham rapidamente e quando se abrem Narcisa está sobre mim outra vez, amarrando um pedaço de pano na minha ferida, enquanto grita algo para Ronald, que está mirando em alguém e atirando, sem responder ela de volta.

   — Corre.

   Exclamo sem forças, cuspindo sangue junto com a mesma. Eu sabia que esse sangue não era somente do tiro, algo havia acontecido em meu corpo. Greyback havia quebrado minhas costelas na última hora e era um sofrimento respirar, falar ou me manter vivo, contudo acredito que não sejam somente as costelas, acredito ter alguma hemorragia interna, era isso, ou ele havia rompido algum órgão no meu corpo, de qualquer forma, meu tempo de vida se tornou escasso. Se ele pudesse me ver agora, tão moribundo, ele torceria sua boca em um sorriso lunático e diria que era seu adorável presente de despedida.

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