Luzes do amanhã

Turning Page

Pov. Draco
Dias corridos

   Eu estava consumido por tudo que Harry Potter poderia me oferecer, era como se eu estivesse preso há muito tempo e finalmente pudesse experimentar a suculência da vida, aquele caldo agridoce que escorre sem hesitação. Prestava atenção em cada movimento seu, ele era eufórico, deslizando seu esguio corpo pelo pequeno apartamento e organizando os insuficientes móveis, que preenchiam parcialmente o ambiente. Desde quando eu havia vindo pela primeira vez em seu apartamento, não havia mudado muito, talvez ele acrescentou alguns vasos de plantas e mais alguns arranjadores pela casa, contudo nada que fosse ocupar o mísero espaço que tínhamos.

   Em todo esse tempo, não havia um minuto em que eu não pensava em minha mãe e no que havia acontecido no último mês, entretanto estar com ele era como se me extasiasse por breves e importantes instantes. Tudo desaparecia da minha mente, tornando aquelas memórias esquecíveis e distantes, pelo menos por um determinado tempo. Tudo parecia possível quando eu estava com Harry Potter. Acredito que se eu encontrasse o Draco de meses antes e contasse o que o Draco do futuro está passando, ele com certeza desconfiaria, afinal, eu havia cruzado diversas barreiras, que há alguns meses eu acharia impossível disso acontecer.

   — O que está fazendo? — questiono-o, encostado confortavelmente sobre o sofá. — Está ocupado?

   — Estou regando as plantas. — ouço Harry dizer, com a voz um tanto distante. — Não acredito que vá adiantar muito, mas estou fazendo o possível.

   Seu rosto se vira na minha direção e ele esfrega o dorso da mão sobre a testa, enxugando as gotículas de suor que escorriam sobre a sua pele. Os cantos da sua boca transformaram-se em um sorriso juvenil, tão doce que parecia que eu poderia nadar sobre ele e deixou seu olhar se perder ao chão por breves segundos, voltando a levar aqueles globos esverdeados em direção ao meu olhar e arrancando todo o meu fôlego.

   — Tem chance delas ficarem vivas. — digo com calmaria. — Pequena, porém existem chances.

   Ele riu baixo.

   — Agradeço pela parte que me toca. — ele disse, voltando a olhar cuidadosamente a planta. — Pelo menos nada na natureza se desperdiça, caso elas morrão, elas virarão adubo para outras plantinhas. — rega a folha. — O ciclo da vida.

   Harry sempre carregara esse ar filosófico, encaixando-se em todos os padrões que um garoto da sua idade deveria se encaixar ou acima desses padrões. Olhando para ele nesse instante, ele parece maduro demais para carregar a idade que tem e posso levar isso tanto como preocupante, ou como algo positivo. Ele nunca fora algo que eu esperava, ele sempre ultrapassou todos esses limites e me mostrou alguém completamente o oposto do que eu pensava, colocando-me diversas vezes em um lugar que eu me sentia seguro, confortável, um lugar que eu pensei que não existia. Harry era tudo e muito mais do que eu imaginava.

   — Você acredita em outra vida? — questiono-o, intrigado pela espera da sua resposta. — Tipo, reencarnação?

   — Sim. — ele diz, dando de ombros. — Por que eu não acreditaria? — ele me olha com aqueles olhos esverdeados. — É meio fútil pensar que não existem outras formas de ideias por aí.

   — Concordo. — exclamo, encostando minha cabeça sobre o sofá. — Bom, eu também acredito, mas espero não reencarnar mais.

   — Você não quer reencarnar? — ele franziu o cenho.

   — Não. — digo, dando de ombros. — Estou cansado, desejo que quando eu morrer eu não volte para esse mundo.

   Ele para de regar as plantas, virando-se totalmente de frente para mim e encostando-se contra a bancada atrás dele. Seus braços se entrelaçam e descansam sobre o seu peito, enquanto sua respiração o move para cima e para baixo delicadamente.