Repeat Until Death

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Pov. Draco

   — Draco?

A voz ecoa, interrompendo meus pensamentos enquanto permaneço imóvel diante da porta do apartamento de Harry, apoiado no batente, perdido em reflexões sobre a absurda decisão de ter vindo até aqui. Há meses que não o vejo e também cortei totalmente o contato por mensagens; não temos mais ligação. Considero minha imprudência somente agora, no entanto, é tarde demais. Harry está à minha frente, olhando-me com aqueles olhos tão atenciosos e gentis. Antigamente, aquele olhar me faria sentir bem, contudo, agora me sinto sujo, como se eu fosse uma terrível visão manchando a sua pureza.

Peça desculpas.

Cogito em meus pensamentos.

Diga que sentiu falta dele.

Exclamo em minha mente.

Não se aproxime dele.

Mando em meu corpo.

   Tento dizer algo, entretanto, somente consigo obter respostas desconexas. Harry fisicamente permanece o mesmo, mas eu mudei por nós dois; estou irreconhecível. 

   — Entre! — ele exclama gentilmente, convidando-me para entrar.

   Cogito ir embora, contudo, minhas pernas se movem para dentro, e eu me sento no sofá. Harry se senta ao meu lado; estamos os dois em silêncio, observando as mudanças que o tempo fez conosco. Estou envergonhado por me encontrar desse jeito; cada detalhe em mim se perdeu ao longo desses meses, e me encontro distante do que já fui um dia. Mas Harry está intacto, como se tivesse parado no tempo e costurado minhas memórias sobre ele em sua pele. Não há nenhuma diferença desde a última vez que o vi, enquanto em mim, não há nenhum resquício do que fui.

   — O que faz aqui?

Harry pergunta.

Não tenho resposta.

  Abruptamente, sinto um toque suave em meu rosto, tão delicado que parece que pode quebrar com um pouco mais de força. Não consigo conter a surpresa, não quando Harry, à minha frente, vasculha todos as feridas e cicatrizes, novas e antigas, em meu rosto. Sua face se contorce, parecendo se perguntar de onde vieram todos esses machucados novos.

   Assentei minha mão direita sobre a dele, da mesma forma delicada que ele fazia comigo, e naquele gesto, minhas pálpebras aceitaram o peso da gravidade, fechando-se. Eu estava exausto, consequência desses últimos meses e principalmente, eu estava exausto da minha própria existência.

   — Eu não sei... — murmuro envergonhado, abrindo os olhos em seguida. — Eu só queria te ver.

   — Eu fico feliz que esteja vivo.

Ele sorri.

Com os segundos que seguem, sinto meu rosto umedecer com as lágrimas que rolam. Primeiramente, penso que são de Harry, mas logo compreendo que são minhas. Meus olhos são como torneiras abertas, escorrendo água sem parar e inundando todo o espaço ao nosso redor. Eu tive controle dessas emoções na maior parte da minha vida, mas neste instante não havia mais nada que pudesse impedir. A dor que sinto me invadir é tão grande que parece esmurrar as portas do meu peito, quebrar as janelas e todos os móveis que organizei em meu interior. Era incontrolável, desesperador e desumano.

   Desmorono sobre seu colo, encolhendo-me sobre suas coxas que sustentam minha cabeça sem hesitar. Seus dedos deslizam sobre meu cabelo, me acariciando, e tudo o que meu corpo faz é se manter trêmulo e em prantos, derramando todas as lágrimas que ficaram presas há anos dentro de mim. O mundo ao nosso redor parece desaparecer, deixando apenas o som dos meus soluços e a sensação do toque reconfortante de Harry. Pela primeira vez em muito tempo, sinto-me seguro, como se todo o peso que carreguei finalmente pudesse ser compartilhado e, aos poucos, aliviado.

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