Luzes do amanhã

Lonely People

Pov. Draco

   A porta se fecha atrás de nós, assim que entramos no corredor. Lucius não se despediu, nem ao menos disse alguma palavra reconfortante, não que eu esperasse algo assim vindo dele. Ronald caminhava em minha frente, completamente calado, não havia nenhum sinal de Goyle e Crabbe, acredito que foram redirecionados a outro ambiente e que provavelmente nos encontraríamos mais para frente, então não me esforço em perguntar para o Weasley o que havia acontecido com eles.

   Sigo-o em direção ao elevador no final do corredor, em passos normais. Aparentemente não havia pressa em chegarmos em Askaban, contudo a curiosidade me cerca quando penso no que Lucius disse. O que seriam essas Horcruxes? O que eles estão escondendo nesse lugar?

Observo sorrateiramente Ronald Weasley e noto o quanto ele cresceu. Lembro dele quando garoto, sempre tivemos uma diferença de altura considerável e mesmo que ele se esforçasse, eu era sempre o maior, entretanto eu não era mais. Além disso, mais algumas coisas mudaram nele com o tempo. Seu cabelo antes curto, estava grande, caindo em ondulações sobre o seu ombro, diferente do habitual, isso lhe deixava mais elegante, maduro. Seu rosto continuava o mesmo, preenchido por uma barba rala, porém bem feita, como se a fizesse todos os dias sem falta. Contudo o que mais me surpreendia era suas vestimentas, tão formais, estava vestindo um terno preto e social, e o único detalhe que me trazia seu antigo eu, era um tênis esportivo com os cadarços desamarrados que ele calçava.

   Lembranças desse antigo Ronald Weasley ainda estavam em minha mente. E o que mais será que havia mudado nesse lugar?

   Estávamos aguardando o elevador chegar no nosso andar, após um pouco de espera. Não demorou muito para o barulho conducente soar e as portas abrirem em um breve rangido metálico, oferecendo passagem para os nossos corpos. Por um instante aguardei Ronald entrar em minha frente, porém ele continuou parado ao meu lado, apenas observando o elevador aberto e eu compreendi que ele não entraria antes de mim, ele não tomaria os cuidados que Goyle e Crabbe fizeram e queria que eu compreendesse isso. Não sou seu segurança. Imagino que seja isso que esteja pensando.

   Deixo que os cantos dos meus lábios se curvem em um sorriso condescendente e entro no elevador, com Ronald em meu encalço.

   — Desce. — ele disse firme.

   A mesma mulher que cuidava do painel de controle, guiou o dedo esquelético para um botão sem número, completamente prateado e o apertou. As portas se fecharam outra vez e Ronald se porta ao meu lado, sem em nenhum momento olhar em minha direção, era compreensível e eu faço o mesmo, permanecendo em silêncio. Em um tranco sútil, o elevador começa a descer. Imagino que aquele botão nos levará para Askaban, era um piso no sub-solo, abaixo do andar do estacionamento onde todos acreditavam que o prédio terminava. Faz tanto tempo que eu não piso nesse lugar, que um calafrio toma as minhas entranhas e suspiro pesado, tentando me reconfortar.

— Por que voltou?

Ouço esse questionamento e ergo meus olhos subitamente em direção a Ronald, vendo-o continuar estático, olhando para as portas do elevador com um olhar vazio. Eu não esperava essa pergunta, não aqui, não nesse espaço minúsculo enquanto essa mulher envelhecida permanece em observação.

— Não tive escolha.

Respondo-o com frieza e volto a olhar pra frente.

Será que eu realmente não tive escolha?

   Eu e Ronald Weasley nos conhecemos quando éramos crianças. Ele sempre fora um ano mais novo do que eu, apesar disso, ele era muito pequeno para a sua idade, tendo um corpo delicado e desajustado, parecendo ser bem mais novo do que aparentava ser. No começo eu acreditava que ele era igual a todo os outros que estavam ao meu redor pela conveniência ou por trabalharem para a minha família, contudo Ronald nunca foi agradável comigo, pelo contrário, sempre ficou no próprio canto e evitava responder aos meus desejos infantis, nunca se submetendo a mim quando meus pais não estavam perto.