Luzes do amanhã

Train Wreck

⚠️AVISO DE GATILHO: O capítulo a seguir contém cenas focadas em transtorno psicológicos, tais como: Depressão, Ataque de pânico e crise de ansiedade. Tais cenas podem gerar crises, então peço que leiam com cuidado e tenham consciência dos seus limites⚠️

Pov. Draco
Três dias depois.

   Sabe quando somos crianças e as pessoas nos perguntam o que queremos ser quando crescer? E respondemos, astronauta, médico, dançarino e entre outras profissões que achamos maravilhosas. Eu nunca tive essa opção. Não era como se eu pudesse escolher quem eu gostaria de ser quando crescesse, meu futuro estava programado desde o momento que eu nasci e essa escolha era indiferente, eu poderia até pensar em tê-la, entretanto eu não chegaria a alcançá-la e eu pensava nisso a todo instante enquanto eu arrumava minhas malas para voltar pra Liverpool, o lugar que eu havia saído há muitos anos e pensei que conseguiria não voltar mais.

    Liverpool era minha cidade natal e não tenho muitos lembranças positivas de lá, nem da minha infância e nem da minha adolescência. Não tive a chance de ser astronauta ou de ser um médico renomado, eu estava e estaria sempre preso a tudo aquilo, para sempre.

   Nós Malfoys não fazemos promessas, fazemos acordos e não seria diferente comigo, porque por consequência há dez anos eu fiz um acordo com o meu genitor. Eu fiz um acordo pela minha vida, ele me deixaria ser livre se eu conseguisse encontrar Narcisa, minha mãe. Era um acordo daqueles com limite e esse limite estava para finalizar amanhã, e eu não havia cumprido com o meu lado. Eu a procurei, todos os dias da minha vida, a cada minuto eu a procurei e não havia nenhum sinal dela, além de uma pasta velha com informações sobre lugares que ela havia passado e desaparecido em seguida. Meu relacionamento com Astória nasceu e se deteriorou nesse caminho, e hoje percebo que estávamos fadado a esse fracasso.

   Meu primeiro erro.

   Narcisa havia desaparecido quando eu era criança e ela foi uma das boas poucas lembranças fraternais que eu tinha sobre família. Eu queria tê-la de volta, queria poder conversar com ela e ouvir seus motivos, não somente os que eu sabia, eu queria ouvir da sua própria boca, sentir seu abraço novamente e reafirmar as memórias boas que eu tinha em minha cabeça. Por isso eu fiz esse acordo, se eu a encontrasse poderíamos ser livres, poderíamos ser outras pessoas, juntos, como uma família de verdade e Lucius não teria controle sobre mim, nunca mais. Era isso que eu pensava quando eu fiz esse acordo, quando concordei em entregar minha vida na palma da mão dele, visto que eu achei que eu conseguiria. 

   Eu jurava que eu conseguiria.

   Eu tinha certeza...

   Em passos lentos caminho até a cozinha e abro a geladeira, pegando uma cerveja que não estava gelada o bastante e a abro em um estalo seco, tornando a bebida para dentro do meu corpo em rápidos goles. Encosto-me sobre a bancada e cruzo meus braços sobre meu peito, uma dor pontiaguda afligia minhas têmporas há horas e por isso acendo um cigarro na boca do fogão, tragando a fumaça para dentro dos meus pulmões.

     Pensava que eu havia quase conseguido e sabe qual era a sensação de quase conseguir algo? Era péssima. Sentia-me perdido, incapaz e destruído. Eu havia perdido minha única chance de ser livre, de poder viver como eu bem quisesse, de poder amar quem eu quisesse amar, de poder ser tudo o que uma criança gostaria de ser e eu havia falhado, havia perdido essa chance para mim e para Narcisa. Vinha refletindo se eu realmente deveria cumprir esse acordo, entretanto eu sabia que esse pensamento era irreal, ele tinha informantes em todos os lugares, ele iria me contatar e viria atrás de mim, eu não tinha escolha.

   — Merda. — esbravejo irritado, passando a mão pesadamente sobre meu rosto. — Porra.

  É horrível pensar que eu passei dez anos sentindo o gosto da liberdade, para acabar tendo que voltar para o mesmo lugar de onde eu saí. Parecia que eu havia partido em milhões de pedaços, voltado para a linha de partida ou nem saído do lugar. Eu havia vivido tantas coisas, havia tido tantas emoções e para quê? Para ter que abandonar tudo e voltar a ser quem eu era? Para viver tudo o que eu vivia antes? Para deixar tudo o que eu conquistei para trás? Toda essa infelicidade estava me consumindo.