Dois meses se passaram
E tanta coisa já tinha mudado, Philippa e Enrico me ajudaram com algumas mudanças no quarto, segundo eles, quanto mais eu mexesse na decoração tradicional da pousada mais eu me sentiria em casa. Mudamos a cor das persianas de creme para brancas, e também colocamos uma pequena poltrona ao lado das enormes janelas e uma boa estante de livros também foi adicionada a nova decoração.
O quarto simples de pousada, ganhou um pouco de personalidade e por mais que pareça estranho, eu já me sentia em casa muito antes de tudo isso. Gostava daqui, de ouvir as pessoas falando durante a madrugada, da agitação não tão agitada que só Oklahoma era capaz de me oferecer.
Sem falar na família Dallas que a cada dia me deixava ainda mais encantada, tudo começou com Judhy Dallas, uma mulher de 34 anos que fugiu para se esconder de um marido abusivo. A mãe de Philippa e Daniel fundou a pousada que logo depois expandiu para o restaurante, Judhy era incrível, pelas histórias eu podia ter uma pequena noção do quanto ela precisou ser forte. E da força que deu aos filhos, eu amava ouvir sobre ela e Philippa e Daniel sempre que podiam me contavam um pouco mais sobre a história.
É claro que isso só fez com que eu me encantasse ainda mais, e também fez com que eu entendesse o porquê deles terem me abraçado sem nem me conhecer. É uma pena que eu não tenha conhecido a forte Judhy Dallas, que morreu ano passado aos 88 anos de causas naturais, mas de algum modo eu me sentia próxima dela, talvez por ela também ter fugido em busca de algo melhor. Ou pelo amor e carinho que passou para seus filhos.
Não saberia ao certo, mas após conhecer um pouquinho da história dos Dallas eu conseguia entender o porquê meus instintos me trouxeram até aqui, de algum modo muito estranho eu sabia que me sentiria em casa mesmo estando longe para cacete de Carmel. É óbvio que as mudanças e as adaptações sugiram gradualmente, mas mesmo assim foi ainda mais rápido do que imaginei.
E agora eu estava aqui, parada em frente ao espelho e simplesmente não conseguia parar de admirar o minúsculo monte que se formava em minha barriga. Estávamos na metade do terceiro mês de gestação e caminhávamos muito bem, uma vez ou outra eu ainda sentia enjoos e tonturas, mas não era nada comparado ao que senti nas primeiras 3 semanas.
Agora eu passava horas conversando com o bebê, todo dia de manhã e a noite, tirava uns minutos depois do banho para me olhar no espelho e ver a pequena vida se formando dentro de mim. Não tinha preço, e a noite eu ouvia música, consegui comprar um celular, ou melhor, fui forçada ou Philippa me mataria. Mas para ser sincera, entendo sua preocupação, e o celular não foi má ideia, já que posso me comunicar com todos com mais facilidade.
Li em alguns livros sobre maternidade o quão é benéfico ouvir música e conversar com o bebê e venho colocando em prática, apesar de passar mais tempo conversando com o bebê do que de fato ouvindo música. Aqueles eram nossos momentos, onde eu podia demonstrar todo o amor que eu tinha para lhe dar.
Hoje era aniversário de Daniel e o Dallas estava em festa, cheio de clientes e amigos que ficaram para comemorar, eu estava sentada no balcão com Philippa e Geórgia conversando sobre o quão homens podem ser barulhentos. Em instantes o restaurante calmo de família se tornou no cabaré que Enrico costumava falar, chopp, gritaria e música, enquanto eu enchia a mim e ao bebê de panquecas.
— Por isso me casei com Daniel. — Geórgia fez uma pausa para beber quando viu o marido subir em uma das mesas. — É louco igual a mim. — Preciso ir antes que ele assuma sua personalidade de stripper. — Geórgia correu.
Philippa sorria feliz observando a festa, não era segredo nenhum sua admiração pela família e isso me hipnotizava, eram unidos e cheios de vida, mesmo que carregassem mágoas. Eu podia entender perfeitamente porque todos eles amavam esse lugar, Judhy havia criado os filhos para serem unidos e independente de qualquer coisa um sempre deveria cuidar do outro.
— Está ansiosa? — Philippa chamou minha atenção, hoje era o dia que faria meu ultrassom e se tivesse sorte saberia o sexo do bebê.
— Muito, nem consegui dormir direito. — Falei a verdade tocando na minha pequena barriga.
— Eu já estive no seu lugar, sei exatamente como se sente. — Ela sorriu, o jeito que ela falava, a maneira como seus olhos brilhavam me deixavam ainda mais agoniada. — Um turbilhão de emoções deve estar passando pelo seu corpo nesse momento.
— Nem me fala, consigo sentir minha carne tremer. — Falei rindo de nervoso.
— Que bom que hoje é uma festa, assim, mesmo que eu ache que vai ser impossível, você pode tentar relaxar e colocar a ansiedade um pouco de lado. — Ela se aproximou envolvendo os braços ao meu redor. — Que tal se dançarmos um pouco?
— Não acho que seja uma boa ideia. — Falei, mas ela não deu ouvidos.
— Que bom que não convidei você, eu chamei o mini Muller para dançar e não a mamãe molenga dele. — Ela piscou para mim, e embora eu estivesse me sentindo mais cansada que o normal, não pude resistir.
A energia daquela família animada tinha me contagiado. A Cloe Norris, sumia pouco a pouco e cada dia que se passava a Cloe Muller tomava conta do meu corpo, eu estava diferente e puta merda, como aquela sensação me fazia bem, era como se finalmente tivesse me encontrado.
Rebolei ao ritmo de uma música que nem sabia o nome, deixei que a ela penetrasse meu corpo e a cada batida eu me mexia ainda mais, sem ter medo e muito menos vergonha, essas duas palavras não existiam mais em meu vocabulário. Foi então que senti, um pequeno tremor misturado a uma das melhores sensações que já senti em toda minha vida, minhas mãos foram direto a minha barriga e sem controlar as lágrimas caíram pelo meu rosto.
— Cloe, querida, está bem? — A mão de Philippa veio sobre a minha.
— Mexeu! — Consegui falar em meio a choro e sorriso.
— Eu sabia que ele queria dançar. — Philippa ainda segurava minha mão.
— Meu Deus, essa é a melhor sensação do mundo. — Deslizei a mão com delicadeza pela minha barriga.
— É só a primeira de muitas. — Philippa me abraçou forte e eu retribui sentindo o coração quentinho, essas pequenas coisas me faziam acreditar que eu estava no lugar certo.
— 1h até sabemos quem está aí dentro. — Enrico se aproximou. — Apesar de que tenho certeza do meu palpite.
— Cloe acabou de sentir o bebê mexer. — Philippa contou ao filho que sorriu e também me abraçou.
— Essa princesinha vai chegar para abalar as estruturas. — Enrico disse sorrindo enquanto me abraçava.
— Como tem tanta certeza que é uma menina? — Perguntei intrigada, ele e Dafne pensavam o mesmo.
— Minha intuição nunca falhou. — Disse, mas logo outra música começou a tocar e ele deu um gritinho me chamando para dançar.
O resumo da festa em horário de almoço é que perdermos a hora, dancei e comi por um tempo e quando olhei pro relógio vi que estava atrasada 10 minutos. Enrico, como um bom piloto de picape, correu o mais rápido que pôde, e não era pelo atraso e sim pela ansiedade de sabermos o sexo do bebê, todos estavam no carro, até mesmo Dan e Geórgia que apostaram com Philippa que seria um menino.
— Espero que no dia do parto o trânsito esteja tão bom quanto hoje. — Enrico disse sorrindo.
Descemos do carro e caminhamos até o consultório, logo fui chamada e como adorava um suspense pedi para que todos me esperassem na recepção, entrei sozinha e logo o médico começou seu trabalho. Ele colocou o gel em minha barriga e com cuidado deslizou o aparelho, os primeiros minutos foram de completo silêncio, eu estava vidrada na pequena tela apenas admirando o que, na verdade, nem dava para entender, mas de algum modo eu conseguia enxergar meu bebê.
— Vocês estão indo bem, temos um bebê bem grande e forte. — O médico disse sorrindo. — Talvez as panquecas da Philippa tenham algo a ver com isso. — Ele mexeu mais um pouco o aparelho sobre minha barriga. — Vamos ouvir o coração?
— Nem precisa perguntar! — Respondi eufórica, e logo o som das batidas ritmadas ecoou pela sala e instantaneamente meus olhos se encheram de lágrimas. — A mamãe te ama tanto. — E nesse exato momento senti ele ou ela se mexer mais uma vez, e o mais incrível pude ver suas perninhas se esticarem e logo relaxarem. — Meu Deus, isso é incrível, já posso saber o sexo?
— Claro, vamos ver se ele ou ela coopera comigo. — E logo o aparelho deslizou novamente. — Hum… — Ele disse só para me deixar mais ansiosa, porque pelo seu sorriso já dava para ver que ele sabia.
— Não me faça ter um ataque cardíaco. — Falei olhando para tela em busca de respostas.
— Temos uma linda menininha aqui. — Ele disse sorrindo, e naquele instante meu coração bateu tão mais rápido que cheguei a levar uma das mãos ao peito.
Minha menina, a única pessoa no mundo capaz de me fazer feliz só pelo simples fato de existir, ela estava ali, crescendo dentro de mim, me dando forças para continuar, mesmo tão pequena ela pôde dar tudo aquilo que eu mais desejava.
— Uma menina cheia de força está vindo aí. — O médico disse me arrancando um sorriso em meio às lágrimas. — Posso chamar a todos, ou…
— Quero fazer uma surpresa, obrigada por tudo. — Falei e ele sorriu enquanto me entregava um papel para limpar minha barriga.
Sai da sala em silêncio e todos vieram para perto de mim, sorri ao vê-los ansiosos, e depois de muita conversa consegui convencê-los de que só lhes contaria o sexo do bebê em casa, já que eu havia preparado algo especial. Uma coisa extremamente engraçada na família Dallas, eles não lidam bem com a espera, são ansiosos e isso só me fazia sorrir mais.
— Cloe você é péssima, se eu tiver um infarto e morrer a culpa é toda sua! — Philippa disse.
— Calma, eu preparei algo especial e quero que isso seja um momento incrível. — Falei sabendo que não adiantaria nada já que todos estavam ansiosos.
O caminho até o Dallas foi cheio de conversa e até chantagem, era engraçado vê-los tão eufóricos, mas mesmo assim segurei o meu segredo assim como havia planejado. Chegamos ao restaurante cerca de trinta minutos depois e eu posso garantir que aqueles foram os trinta minutos mais demorados da minha vida.
— Sei que estão todos ansiosos, mas eu precisava contar isso só aqui. — Falei assim que cheguei ao balcão. — Primeiro quero agradecer por terem me abraçado, por me acolherem e por me apoiarem antes mesmo de saber quem eu era.
— Sabe que não fizemos nada de mais. — Philippa disse, seus olhos já estavam cheios de lágrimas.
— Quando tomei a decisão de fugir, e procurei num mapa para onde eu iria, Oklahoma pareceu piscar, no começo eu não encontrei o motivo, mas depois que conheci vocês eu consegui entender. — Sequei as lágrimas. — Quero agradecer por tudo que já fizeram por mim, eu não sei o que seria de mim sem vocês.
— Eu não tava preparado para isso. — Enrico falou emocionado e secou as lágrimas. — Tá pegando pesado, mas agora conta logo!
— O bebê está ótimo, está bem e saudável, ouvimos o coração e está mais forte do que nunca. — Dei uma pausa dramática porque queria fazê-los sofrer. — A Judhy vai chegar em alguns meses e sei que ela trará muita alegria para essa família. — Falei revelando o sexo e também minha pequena surpresa. — O nome da minha menina será Judhy, para homenagear a mulher forte que construiu essa família.
Todos ficaram em silêncio, como se me analisassem para ter a certeza do que acabei de falar, Philippa foi a primeira a cair no choro e logo veio me abraçar, depois, Daniel, Geórgia e Enrico também vieram.
— Significa muito para nós. — Daniel confessou com a voz embargada. — Saiba que estaremos aqui, para cuidar de você e da pequena Judhy.
— Judhy Muller, minha princesa que fez o titio ganhar uma aposta! — Enrico me levantou no ar e girou comigo em seus braços, fazendo com que sua mãe lhe desse algumas bofetadas.
— Coloca as meninas no chão, seu sem juízo. — Philippa disse brava, e assim ele fez. — Cloe, desde que entrou por aquela porta eu sabia que você seria especial para essa família. — Philippa beijou o topo da minha cabeça. — E você pequena Judhy, venha com força total e traga ainda mais sorrisos a esse lugar. — Ela tocou com carinho a minha barriga.
Foi impossível segurar as lágrimas, eu desabei em um choro descontrolado que perdi as forças, precisei sentar na cadeira mais próxima e mesmo tomando água e respirando fundo a emoção demorou a sair do meu corpo, eu jamais conseguiria expressar minha gratidão pela aquela família.
— Agora é hora de comemorar!
E assim fizemos, nem abrimos o restaurante, Geórgia preparou drinks, com e sem álcool, e juntos comemorarmos, aquele momento ficaria para sempre em minha memória, pois existiam pessoas incríveis que celebravam a vida da minha filha, e para uma mãe, nada significa mais que isso.
Por isso dancei, comi mais que o normal, eu estava feliz, me arrisco até a dizer que nunca fui tão feliz antes, aquele dia era especial e estava repleto de pessoas especiais, eu não podia querer mais. Quando cansei o céu já estava escuro, nem notei o tempo passar e logo uma moleza surreal tomou conta do meu corpo.
— Vai descansar querida, cuidamos de tudo por aqui. — Philippa disse tocando meu ombro.
— Eu adoraria dizer que não, mas a descarga de adrenalina que tive hoje sumiu do meu corpo. — Falei encostando a cabeça no balcão. — Estou exausta.
— Vamos, vou com você até o quarto. — Philippa segurou minha mão. — Assim já fico no meu também, não estou mais aguentando em pé, acho que a Geórgia colocou álcool demais nessas bebidas.
— Ela sempre coloca uma dose ou até duas a mais. — Falei tentando apoiar a Philippa de qualquer jeito.
— Você nos deu um lindo presente hoje Cloe. — Philippa disse quando paramos em frente ao seu quarto. — Você e a pequena Judhy já faziam parte dessa família antes mesmo que a gente se encontrasse. — Ela acariciou minha barriga com delicadeza.
— Obrigada por tudo, Philippa, eu nunca vou poder agradecer o suficiente. — Sorri, e segurei o choro, ando bastante emotiva nos últimos dias.
— Você não precisa agradecer, somos uma família. — Ela sorriu para mim. — Agora vão descansar, tivemos um dia cheio.
Após me despedir de Philippa fui direto para o meu quarto, assim que passei pela porta tirei minhas roupas e fui em direção ao banheiro, queria caprichar num banho quente e relaxar todo meu corpo já que cada centímetro dele estava dolorido.
Deixei que a água tocasse meu corpo por alguns minutos, antes de finalmente começar a tomar um banho normal passei aqueles primeiros minutos alisando minha barriga e deixando que o choro guardado no fundo da garganta simplesmente escapasse. Eu adorava esses minutos, onde o mundo parecia parar e só existam nós duas, minha pequena Judhy.
— Hoje tivemos um dia e tanto em mocinha. — Falei com voz de choro. — Espero que tenha se divertido. — Sorri, e só depois comecei a tomar banho.
Quando sai do chuveiro fui até o pequeno guarda-roupa, peguei o primeiro pijama que avistei na minha frente, mas travei ao ver a caixa tão familiar, Dafne me entregou ela e disse que eu só abrisse quando soubesse o sexo do bebê. De repente meu coração dispara e preciso me sentar e acalmar a respiração, tudo ao meu redor parece girar e inevitavelmente começo a chorar.
Levanto e pego a caixinha, seguro ela tão forte que a ponta de meus dedos ficam brancas, não consegui segurar a emoção, eu sentia saudade daquela maluca bem mais do que sentia dos meus pais.
— O que será que você aprontou em Dafne? — Abri a tampa da caixa de madeira bem devagar e me deparei com um envelope de carta e algo mais embrulhado em um papel branco cheio de nuvens. — Sem pensar muito, eu abri a carta.
Então quer dizer que já sabemos o sexo? Não fingirei surpresa, sei que será a princesa da titia e com certeza já deve estar bem gradinha, queria estar com vocês e participar desses momentos mágicos, é uma pena que eu não esteja acompanhando a evolução da sua barriguinha Cloe! Mas tenho certeza que esta linda. Quero que você se cuide, que esteja feliz e que saiba que Henry e eu sempre estaremos aqui para qualquer coisa, alimente-se bem minha irmã, seja forte e não esqueça da mulher incrível que você é, eu te amo, eu amo vocês duas. Agora abra logo meu presente!
PS: Minha intuição nunca falha, então espero realmente de coração que esse ser humaninho seja uma menina haha… beijos!
O sorriso e o choro descontrolado se misturavam, era uma mix de tristeza e alegria que eu seria incapaz de controlar, Dafne saiba, na verdade, ela sempre soube e isso me conectava a ela ainda mais. Enxuguei as lágrimas e rasguei o papel de presente dando de cara com uma linda roupinha de bebê, toda rosinha e cheia de arco-íris.
Meu coração quase parou, a peça delicada era o primeiro presente da minha filha e não poderia ter significado melhor, Dafne será uma tia incrível disso eu não tenho a menor dúvida.
Vejo vcs em breve... 💜
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Cloe Muller - Livro 2 🍇
RomanceGosto de pensar que destino não existe que isso é pura criação de histórinha de contos de fada, porque se fosse verdade o meu foi traçado por um filho da puta que me odeia com todas as forças. "Machucada e desacreditada do amor, Cloe fechou o seu co...