Dulce Liwes

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Anos depois

ㅡ Que injustiça ㅡ Esther gritou da cozinha, estava sentada no sofá, assistindo Moana com minha sobrinha, Clara.

Eu ri, certamente não uma injustiça que seu ídolo tivesse se casado com uma atriz famosa. Clara se virou pra mim e sorriu, achando graça da situação.

ㅡ Por quê? ㅡ Apareceu na porta da sala com uma expressão dramática.

ㅡ O cara nem te conhece ㅡ gargalhei.

ㅡ Mamãe, não seja dramática. ㅡ Clara repreendeu a mãe e eu ri mais ainda.

Minha sobrinha com cinco anos conseguia ser mil vezes mais madura que a mãe.

ㅡ Dramática? ㅡ Esther começou a se aproximar com uma expressão brincalhona. ㅡ Vou te mostrar a dramática, mocinha ㅡ e com isso só se ouvia a risada alta de Clara, com as cócegas de Esther.

ㅡ Mamãe, mamãe! Para ㅡ Clara dizia sem fôlego, peguei meu celular e comecei a filmar.

ㅡ Vai tomar banho, vai ㅡ Esther parou as cócegas e Clara correu em direção ao corredor. ㅡ Quer dormir aqui hoje? ㅡ Perguntou, indo até a mesa no canto da parede e pegando os brinquedos que clara havia espalhado ali.

Suspirei e assenti, olhando as horas. Se corresse, conseguiria passae em casa sem que meu pai ou mãe me vissem.

ㅡ Tenho que ir em casa pegar algumas coisas então. ㅡ Desviei o olhar. Esther tinha problemas o suficiente pra ter de se preocupar com o que vinha acontecendo na minha vida.

ㅡ  Você precisa deixar algumas roupas suas aqui. O quarto de hóspedes é praticamente seu, não recebo visitas mesmo. ㅡ Deu de ombros.

Peguei minha bolsa e chamei um Uber.

ㅡ Já volto. ㅡ Corri até o lado de fora assim que o Uber chegou. Compartilhei a corrida com Esther e esperei até chegar em casa.

Assim que o carro parou, paguei e corri até o portão de casa. Silenciosamente, abri o portão e entrei acenando para Roger, o segurança do meu pai, subi as escadas e peguei uma bolsa de roupas para vestir e deixar na casa de Esther. Procurei meus fones sem fio e o encontrei destruído no canto da minha penteadeira.

Aquilo tinha nome, sobrenome e dormia no terceiro quarto do corredor. Ayla Liwes, minha irmã dois anos mais velha e seguidora fiel dos meus pais. Ela me odiava desde que me entendia por gente e tentou destruir a vida de Esther inúmeras vezes, fracassando miseravelmente em cada uma delas.

Porém, ela sabia como me tirar do sério, destruindo minhas coisas e pagando de santinha para os meus pais. Na maioria das vezes a ignorava, em outras me estressava a ponto de querer mata-la.

Recolhi os pedaços do meu fone e sai do quarto com minha mochila nas costas, passei no quarto de Ayla e peguei seus fones sem fio que estava carregando, joguei o meu fone destruído encima da mesinha do computador e desci as escadas.

Ouvi vozes e me esgueirei pela ala dos funcionários, uma movimentação diferente na cozinha me deixou curiosa e corri até o corredor que levava a porta lateral da casa. A porta do escritório estava meio aberta e pude ouvir a voz do meu pai.

Deveria sair dali antes que ele me visse, porém algo estava estranho, olhei pela janela ao meu lado e vi dois seguranças diferentes e um luxuoso carro estacionado em frente ao jardim.

Parei bem próximo a porta e pausei a música que tocava alta no fone.

Pude ouvir uma gargalhada e logo um trilintar de dois copos de vidro se tocando, um brinde. Mas um brinde ao que? Meu pai não recebia muitas visitas além de seus colegas de trabalho e alguns sujeitos estranhos que eu sabia serem membros de alguma máfia.

Meu pai começou a falar e me pus a ouvir:

ㅡ Será ótimo! ㅡ Exclamou empolgado

ㅡ Sim, será. Desejo conhecê-la o quanto antes ㅡ Disse o homem que o acompanhava. Certamente um mafioso ou um gangster.

Quem? Quem este homem desejava conhecer o quanto antes? 

ㅡ Semana que vem meu filho estará na cidade. O namoro poderá ser divulgado na próxima semana e depois de um ou dois meses, o noivado ㅡ O homem mistérioso ordenou e meu pai assentiu, como um cachorrinho obedecendo ao dono.

A ficha enfim pareceu cair, meu pai estava casando uma de nós. A pergunta era: Quem? Estremeci ao imaginar a possibilidade de ser eu, uma imagem minha casada com um desconhecido me assustava pra caramba.

Recuei um passo, porém, a tempo de ouvir o homem dizer.

ㅡ Espero que ela venha a ser uma boa esposa, caso contrário, meu filho certamente a colocará na linha. ㅡ Meu pai riu e assentiu e eu recuei mais alguns passos e corri em direção a porta da frente.

Chamei um Uber e fiquei na esquina esperando, assim que ele chegou entrei e esperei ansiosamente até que chegasse na casa de Esther.

E se fosse eu? E se eu fosse a mulher da qual aquele homem se referia? E se me machucassem?

Não. Eu não seria a escolhida. Certamente ele se referia a Ayla ㅡ Tentei me convencer disso o trajeto inteiro e assim que ele parou na porta da casa de Esther, desci e corri casa adentro.

Esther estava na cozinha temperando uma salada e me sentei no banco do outro lado do balcão. Clara deveria estar no seu quarto brincando.

ㅡ O que foi? ㅡ Esther perguntou, assim que não consegui esconder minha aflição.

ㅡ Não é nada... ㅡ Sorri e me concentrei em montar a mesa para o jantar.

ㅡ Mentira.

ㅡ É sério. Não é nada ㅡ expus um sorriso e fracassei miseravelmente.

Esther parou na minha frente e me segurou pelos ombros, me obrigando a encará-la. Suspirei e a contei o que tinha ouvido e sobre o homen misterioso.

Esther me consolou e me garantiu que conversaria com nossos pais. Que não permitiria que eu me casasse de forma forçada com um desconhecido.

Era tudo que eu não queria. Preocupa-la com os meus problemas.

ㅡ Hora de dormir ㅡ Esther disse depois do jantar e Clara foi até a cozinha deixar seu prato. Levei a louça suja para a pia e levei Clara para o quarto dela, a aconcheguei no endredou e lhe dei um beijo na testa.

ㅡ Boa noite, pequena. ㅡ Desejei e ela sorriu, sonolenta e dormiu.

Fui para o quarto de hóspedes ao lado e, sem sono, dobrei as roupas que havia levado e guardei no armário embutido próximo a mesinha de cabeceira.

Esther apareceu para dar boa noite, porém continuei acordada, sem sono e repetindo as palavras daquele homen na minha cabeça.

Em algum momento adormeci e acordei com o toque do meu celular. Atendi e era minha mãe ordenando que voltasse para casa. Desliguei e voltei a dormir, acordando novamente com os gritos animados de Clara no corredor.

Sem forças, levantei e tomei um bom banho, vesti um macaquinho floral e o tênis que havia vindo ontem.

ㅡ Café na mesa ㅡ Esther gritou e saí do banheiro, pegando Clara no colo assim que apareceu correndo no corredor.

Tomei café com minha irmã e sobrinha e logo ambas saíram para seguir suas rotinas, me deixando sozinha com os pensamentos que tanto me assombravam.

Um amor mais que mortalOnde histórias criam vida. Descubra agora