Dulce Liwes

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Me joguei na grama fria e úmida, observando o céu nublado. O vento frio que ressoava contra mim era reconfortante, me fazia sentir viva. Eu precisava tanto me sentir viva e dona de mim mesma, precisava parar de sobreviver.

Não havia soluções que não fossem aceitar o casamento e, consequentemente, Noah Collowey e sua família.

Amava sua família, a parte das crianças e irmã, porém desconhecia o real sentimento que nutria por Noah. Era algo forte o bastante para me fazer sonhar com ele por três noites consecutivas. Algo forte o bastante para me aquecer com sua simples presença e me fazer deseja-lo como nunca desejei ninguém antes.

Ódio, desejo, interesse ou curiosidade? Todos eles pareciam tão fracos perante meu real sentimento, este que eu desconhecia.

Novamente, me senti perdida, sem rumo ou apoio. Senti-me assim quando tinha dezesseis anos e tive de ser o refúgio de minha irmã que acabara de perder o filho e acreditava ter perdido a filha. Eu não tive refúgio, não quis ter para não preocupar a única que me amava.

Agora, me sentia assim. O passado martelando em minha mente com um lembrete do quão impura e suja era. Do quão danificada me tornaram.

Me obriguei a voltar a realidade, quando passos soaram um pouco a distância. Me sentei e avistei Esther caminhando com lentidão, observando a paisagem ao redor.

Assim que me avistou, sorriu fraco e se aproximou.

ㅡ Dulce, o que está fazendo aqui sem casaco? ㅡ Ela perguntou, vestindo um moletom preto alguns números acima do seu.

ㅡ Respirando ar puro. ㅡ Murmurei e bati na grama próxima a mim, indicando para que se aproxima-se. Ela se sentou ao meu lado e me puxou para deitar a cabeça em seu colo.

ㅡ Respire ar puro agasalhada, por favor. ㅡ Ela disse em um tom maternal e sorri, amava a forma com que minha irmã se preocupava comigo.

ㅡ Sim, capitã. ㅡ Ri e minha irmã me deu um tapa de leve.

ㅡ Por que anda tão quieta e reclusa?

Suspirei, não queria dizer a minha irmã que detestava sua aproximação com Norman. Ele era pai de Clara, de qualquer forma, e o único amor que Esther teve em toda a sua vida. Se minha irmã, aquela quem mais sofreu com sua partida, via motivos para perdoa-lo, não podia interferir, mesmo que isso me afetasse para caramba.

ㅡ Não é nada. Só não me sinto a vontade aqui. Essa ideia de casamento, realmente não me anima. ㅡ Disse uma meia verdade e minha irmã suspirou.

ㅡ Eu sei. Eu queria poder mudar isso. Você deveria se casar por amor, não por um contrato que não lhe favorecerá em nada. Mas, infelizmente, não posso fazer nada. ㅡ Esther mantinha um tom triste.

ㅡ O que aconteceu para ser sequestrada, Esther?

ㅡ Depois que Noah te levou, Norman se aproximou de mim e de Clara, querendo conhecer a filha. Porém, alguns de seus inimigos descobriram sobre Clara e tentaram sequestrar a mim e ela. Graças a Deus, Clara saiu ilesa desses planos e não foi sequestrada, eu não. ㅡ Esther contou e a encarei, me sentindo culpada por não estar presente quando Esther precisou. ㅡ Hey, não se sinta culpada por algo que não teve culpa. Te conheço e sei bem que está se culpando neste momento. ㅡ Esther acariciou meu cabelo, sorrindo com ternura.

ㅡ Eu te amo tanto, Esther. ㅡ Sorri de leve.

ㅡ Eu também, Dulce. Muito mesmo ㅡ sorriu de volta e me sentei. ㅡ Vamos entrar. Está frio e você está sem casaco. ㅡ Esther voltou ao assunto do casaco e me levantei. Entramos pela porta da cozinha e encontrei Jenny, a cozinheira, e duas funcionárias conhecidas.

Um amor mais que mortalOnde histórias criam vida. Descubra agora