Noah Collowey

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Encarei a figura baixa e ruiva, andando pela cozinha de forma desastrada e distraída.

A sensação de tê-la se desmanchando em minha boca era incrível e me fazia deseja-la cada vez mais. Não era santo, nunca fui, porém desde que aceitei me casar, minha vida poderia ser comparada com a de um monge. Não, por querer ser fiel e, sim por ter Dulce ao meu lado.

A ruiva gostosa e afiada me excitava como nunca antes e ouvi-la confessando que era recíproco, me deixou louco.

Observei enquanto ela se abaixava para pegar algo no forno e colocava com cuidado a forma quente sobre o balcão. Pegou outra forma e quando foi colocá-la, deixou cair sobre seu pulso.

ㅡ Aí! ㅡ Dulce gritou e me aproximei rapidamente. A puxei para mais perto e ela continuou encarando a pulso avermelhado. Encarei seu rosto e seus olhos estavam lacrimejando.

ㅡ Meu Deus, você está chorando. ㅡ Constatei o óbvio e ela resmungou algo, escondendo o rosto em meu peito. Ao que conhecia de Dulce, percebi que ela gostava de contato físico, estar perto e sentir que estava perto.

ㅡ Estou, porque isso está doendo, Noah. Está doendo muito. ㅡ Resmungou e eu gargalhei, ela me encarou com raiva e a ergui no ar, colocando sentada sobre o balcão. Me encaixei entre suas pernas e seus olhos úmidos me encararam. Limpei suas lágrimas

Ouvimos passos no corredor da ala dos funcionários e Tommy apareceu.

ㅡ Oh, desculpe. Não sabia que estavam aqui. ㅡ Ele se desculpou e fez menção de se afastar. Sinalizei com a mão para que não o fizesse e ele se aproximou.

ㅡ Tommy, por favor, me traga um kit de primeiros socorros. Dulce se queimou com a forma quente. ㅡ Expliquei e ele se afastou em direção ao corredor de onde saiu, voltando em seguida com o kit de primeiros socorros.

Abri a caixa e peguei uma pomada para queimadura e gase.

ㅡ A gase é desnecessária, Noah. ㅡ Dulce disse, observando atentamente tudo que eu fazia.

ㅡ Eu sei, mas seu desespero também. Seu desespero merece um braço enfaixado. ㅡ Eu ri e ela me olhou carrancuda.

Passei a pomada no local da queimadura e fiz um curativo ao redor do pulso.

ㅡ Pronto. ㅡ Fechei a caixa e entreguei a Tommy, que saiu para guarda-la no lugar.

ㅡ Dulce, a torta já deve estar pronta. ㅡ Esther entrou na cozinha e parou com a imagem de Dulce sentada no balcão e eu, entre suas pernas.

ㅡ É... Eu sei. ㅡ Dulce levantou a mão enfaixada, o rosto rubro destoava com os cabelos ruivos.

ㅡ Por isso, e outros muitos motivos, você não mexe com fogão ou forno. Você é um desastre com tudo que envolva fogo. ㅡ Esther riu e segurei a cintura de Dulce, colocando-a no chão.

Dulce riu e parou em frente as formas encima da bancada. Ouvimos vozes no corredor e Alessia entrou com Vivian, Liam e Clara. Vivian me viu e correu até mim, gritando com alegria. Amava com todas as minhas forças, a alegria de Vivian. Seus sorrisos e sua constante animação.

ㅡ Paiiiii, olha, olha! ㅡ Ela extendeu uma folha de papel com um desenho em giz de cera de quatro bonecos rabiscados.

ㅡ Que lindo, filha. Quem são esses? ㅡ Apontei o papel e minha menininha sorriu.

ㅡ É eu, o Liam, você e a Dulce ㅡ explicou empolgada e um sentimento de alegria se espalhou em meu peito. Minha filha estava aceitando Dulce tão bem, que me sentia completo.

Dulce se aproximou e olhou o desenho.

ㅡ Oh meu Deus, temos uma pequena artista entre nós! ㅡ Dulce brincou e Vivian sorriu, empolgada.

ㅡ Eu sou atista, papai. ㅡ Vivian disse.

ㅡ Titia. ㅡ Clara chamou Dulce e ela foi até ela e Liam, que gritou ao vê-la.

ㅡ Oi, pequena. ㅡ Dulce pegou Clara no colo e a sentou na cadeira próxima a mesa.

Me aproximei e coloquei minha filha em sua cadeira alta, me sentando perto de Liam e Dulce.

ㅡ Eu fiz torta. Vocês querem? ㅡ Esther perguntou á Clara e Vivian e ambas assentiram.

Assim que todos comeram e Alessia saiu com as crianças e Esther, Dulce fez menção de segui-los, porém a parei.

ㅡ Você é uma espécie de bruxa, certo? ㅡ Sondei e ela me olhou confusa.

ㅡ E você, uma espécie de retardado, certamente. ㅡ Ela cruzou os braços com um sorriso debochado.

ㅡ Quando estou perto de você, talvez eu seja. ㅡ Sorri, galante e ela corou.

ㅡ Cale a porra da boca, Collowey. ㅡ Ela resmungou e retribui o sorriso irônico. ㅡ Por que eu seria uma bruxa? ㅡ Murmurou curiosa e pegou o celular encima da mesa.

ㅡ Vivian é uma criança extremamente tímida e para ter a relação que tem hoje com Alessia, demorou cerca de um ano. Você chegou a dois meses e conquistou o coração de minha pequena com a maior facilidade do mundo. ㅡ Me levantei e Dulce estava sem uma reação real. ㅡ Ela gosta de você, Dulce. Vivian é uma criança traumatizada pela própria mãe e tem uma timidez grande com pessoas do sexo feminino. ㅡ Expliquei o que ninguém, além de meus irmãos e pais, sabia.

Aquele era um assunto doloroso.

ㅡ Vivian é fruto de um relacionamento meu com uma prostituta, que quando descobriu a gravidez, a ocultou de mim. Ela seguiu a vida e se casou com um homem algumas semanas depois do nascimento de Vivian. Ambos eram terríveis com minha menininha e a machucavam tanto física, quanto mentalmente. Quando descobri sobre sua existência, pouco mais de um ano atrás, a encontrei em um estado grave de desnutrição em uma casa pegando fogo. Até hoje, Vivian tem pesadelos com o fogo, já sua mãe e o padrasto, nunca comentou. ㅡ Me aproximei e Dulce me encarou, assimilando tudo com bastante calma, baixou os olhos e suspirou.

ㅡ Como puderam machucar um ser tão inocente quanto Vivian. Uma criança, Noah. ㅡ Seus olhos encontraram os meus e vi raiva, incompreensão e dor, estampados nas pupilas esverdeadas.

ㅡ Eu não faço ideia. Me questiono o mesmo. Mas, o que realmente importa é que tudo acabou e agora Vivian não só está superando o trauma, como encontrou confiança em alguém com rapidez.

ㅡ Me sinto tão sortuda por poder receber aquele sorriso brilhante de Vivian logo ao acordar. Como alguém, em sã consciência, a machucaria de propósito? ㅡ Dulce estava indignada.

Prendi seu rosto entre minhas mãos e lhe dei um beijo calmo. Beijá-la era tão bom que chegava a ser viciante. Dulce sorriu contra meus lábios e se afastou, se aproximando da bancada.

ㅡ Tenho que te avisar que viajaremos daqui uma semana. ㅡ Lembrei e ela me olhou, os lábios rodados consertos do chocolate que havia pego na geladeira.

Tudo começou comigo indo dar a Dulce a notícia da viagem e então, a fiz gozar, lhe contei sobre o passado e presenciei um pequeno drama graças a uma queimadura. Tudo era assim quando estava com ela. Louco, fora de linha e completamente insano. Essas poderiam facilmente se tornar definições de Dulce Liwes.

ㅡ Por que não disse antes? ㅡ Ela murmurou, se aproximando.

ㅡ Não tive tempo e foi tudo de última hora. De qualquer forma, você e as crianças teram de ir as compras. Viajaremos para uma pequena ilha e nem você e nem as crianças tem coisas aptas para tal viagem. ㅡ Observei e Dulce me olhou com atenção.

ㅡ Certo. Já que a viagem está perto, podemos ir amanhã. ㅡ Ela determinou, seu tom demonstrava o quão queria ter o mínimo de controle sobre tudo.

ㅡ Tudo bem. Avisarei Tommy para que prepare tudo. ㅡ Peguei meu celular e haviam três mensagens de minha secretária e quatro ligações de Norman. Liguei de volta e me aproximei de Dulce com o celular no ouvido, beijei sua testa e saí, respondendo as perguntas de Norman e conversando com minha secretária por mensagem.

Um amor mais que mortalOnde histórias criam vida. Descubra agora