Noah Collowey

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O silêncio que reina na casa é absoluto e entro, seguindo para o quarto de Liam e depois de Vivian, certificar-me que estão bem. Adormecidos no mais profundo sono com suas babás eletrônicas os vigiando.

Sigo até o fim do corredor, afim de ir para meu quarto e somente dormir, porém a lembrança da minha conversa com Dulce mais cedo, retorna.

Será que está dormindo?

Não duvido, vendo que são três da madrugada. Novamente penso em como tudo veio a ser tão repentino. Em como sem perceber a escolhi para se casar comigo e a resgatei da família psicopata. Em menos de uma semana e a garota já habita minha casa.

Não que não fosse vir a acontecer, já que ela é minha noiva, futura senhora Collowey e mãe postiça para meus filhos.

Mal conheço a garota que em breve se tornará minha esposa. Eu não a conheço, mas eu a escolhi.

Eu a condenei sem nem entender ao certo o porquê de realmente ter ido àquele jantar com os Liwes, quando pretendia voltar para Boston.

ㅡ Senhor? ㅡ Elise, babá temporária das crianças sai de seu quarto e sorri para mim.

ㅡ Somente Noah. ㅡ Desisto de ir ao quarto de Dulce ao ver as luzes desligadas.

A mulher acena e espero que saía, o que não faz, ao invés disso fica parada me observando com um sorrisinho bobo no rosto. Arqueio a sombrancelha em uma ordem explícita que volte a seu trabalho.

A mulher ri de nervoso e torna a se afastar, me deixando sozinho no corredor silencioso. Massageio minhas têmporas, realmente cansado do meu dia.

Tive de exterminar metade de uma das equipes do alto escalão italiano, formado por Joshua Hernandez, um dos homens de confiança de Alex. Icônico o fato de o homem ser primo de Mikaella, atual motivo das dores cabeças do meu irmão.

Logo, tive três reuniões com alguns líderes de negócios e encerrei minha noite visitando as minhas boates espalhadas pela cidade.

Abro a porta do meu quarto, apreciando o silêncio da noite. Ligo o ar condicionado e entro no banheiro, ligando a água quente o suficiente para relaxar.

Me despo e entro no box, aproveitando a água. Lavo por debaixo das minhas unhas, lavando o sangue que ficou ali durante minha conversinha com um dos desgraçados que tentou sequestrar minha sobrinha.

Saio do box e visto somente uma bermuda de malha, deitando para dormir. Fecho os olhos e me permito ser levado pelo sono.

O escuro me abraça e duas esferas cintilantes brilham o mais distante possível. As esferas esverdeadas de Dulce Liwes parecem me perseguir. Quase a sinto em meus braços, ao mesmo tempo parece tão distante, intocável eu diria.

O contínuo escuro parece escurecer cada vez mais e aquelas íris brilhantes me consumir.

Me forço a sair daquela espécie de pesadelo envolvente e voltar a realidade do meu quarto. O sol já nasceu e me surpreendo pela forma com que dormi pesado.

Não acordei nem uma única vez durante a noite.

Me levantei, fiz minhas necessidades e higienes e saí do quarto á procura dos meus pequenos. Os encontro na cozinha com Alessia e Dulce, brincando com algumas panelas e colheres.

Alessia me vê primeiro e acena respeitosamente. Dulce continua perdida em algo que assiste no celular. O celular que comprei para ela.

Sorrio com a constatação e me aproximo, espiando o conteúdo que assistia. Ela nota minha presença mas não se move, não me olha ou faz menção de me encarar. Seu corpo estremece ela finalmente me encara, as íris esverdeadas que me perseguiram em meus malditos sonhos.

ㅡ Bom dia, Dulce Liwes. ㅡ Adorno a mesa e me sento a sua frente, estendendo os braços para Liam que andava pela cozinha. Ele vem até mim e pula em meus braços. Sorrio para a expressão a animada do pequenino e o encho de beijos.

Ele resmunga e Dulce ri, olho para ela e encontro um olhar encantado sobre mim e Liam. Meu pequeno percebe a atenção e olha para Dulce expondo seu sorriso banguela.

ㅡ Paiiiii ㅡ Vivian corre até mim, notando enfim minha presença. A pego no colo e sento no meu joelho livre.

ㅡ Bom dia, pequena. ㅡ Dou um demorado beijo em sua bochecha e ela ri.

Gande papai, gande. ㅡ Me olha emburrada.

Rio.

ㅡ Certo, grande Vivian, minha menininha linda. ㅡ A aperto e Liam resmunga irritado e enciumado com nossa interação. ㅡ Meu pequeno ciumento. ㅡ Beijo seus cabelinhos e ele grita.

Dulce ri novamente. Liam é um pestinha mal-humorado na maior parte do tempo. No outro, um pequeno anjinho.

Fome. ㅡ Liam balbucia e Alessia se aproxima dele.

Meu celular vibra em uma ligação de Norman e antendo, me afastando da cozinha.

ㅡ O que aconteceu? ㅡ Para Norman me ligar algo havia acontecido.

Eu tenho uma filha. ㅡ Sua voz exasperada me dava a certeza de que estava em sua corrida matinal.

Fico em silêncio, eu já sabia que Clara era filha dele desde o momento que pus os olhos nela. A garota era a cópia escrita do meu irmão.

Você sabia, porra. Sabia e não me contou. ㅡ Havia mágoa em sua voz, porém não me abalei. Não era uma escolha a ser tomada por mim. Se Esther não lhe contasse, eu o faria, mas sabia que ele descobriria.

Norman era extremamente controlador e já deveria ter investigado totalmente a vida de Dulce. Nisso, provavelmente descobrira que minha noiva era também irmã de sua ex namorada.

ㅡ Sabia, mas isso não era algo que deveria ser contado por mim. Eu dei a Esther um prazo para que lhe contasse sobre Clara, caso não o fizesse, eu faria. ㅡ Pego uma caneca no armário e sirvo um pouco de café.

Dou um gole e Norman resmunga alguns diversos palavrões.

Quando você pretendia me contar? ㅡ Sua voz estava menos exasperada e certamente deveria ter parado um pouco para respirar.

ㅡ Até o final do mês. ㅡ Dei mais um gole no café e um dos meus seguranças se aproximou, junto do novo guarda-costa de Dulce. ㅡ Tenho que ir. ㅡ Desliguei a ligação e fui até a cozinha. ㅡ Dulce, estes são Marcos e Tommy, seus seguranças. ㅡ Apresento e ambos acenam, mantendo uma grande distância de Dulce. Ela os olha, desinteressada e expõe um mini sorriso, voltando a encarar o celular.

ㅡ Estava pensando. ㅡ Dulce desviou a atenção do celular. ㅡ Queria sair com as crianças. ㅡ Ela olhou para Vivian mordendo um biscoito e sorriu.

Arqueei a sombrancelha. Uma tentativa explícita de fuga, porém ela jamais conseguiria. Não deixaria.

ㅡ Você vai fugir. ㅡ Tomei o último gole do meu café e deixei a caneca suja encima da bancada da cozinha. Em seus olhos um faísca de fúria se instalou. Ela realmente não queria fugir?

ㅡ Não, eu não vou. Disse que eu podia sair, estou pedindo sua autorização pois quero sair com seus filhos. ㅡ Seu tom raivoso me fez sorrir, ela ficava bonita com as bochechas vermelhas da mesma cor do cabelo. ㅡ Por que está sorrindo? ㅡ Ódio novamente. Dei de ombros e me virei para sair do cômodo.

ㅡ Pode levá-los com você, sim. Porém, esteja ciente que há dois homens na sua cola, não tente fugir. ㅡ Avisei e saí. Precisava trabalhar e tirar Dulce de minha mente.

Um amor mais que mortalOnde histórias criam vida. Descubra agora