com abas ou sem?

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- Você quer ficar aí enquanto eu vou lá comprar? Você tá muito pálida, tô ficando preocupado já. Não quer ir no hospital? - Ele pergunta enquanto estaciona em frente à farmácia.

- Não precisa, é só um banho e remédio que eu fico boa. Vai lá por favor então, Ale. – Ele tira o cinto. - Deixa eu anotar o nome do remédio no celular.

Anoto e entrego para ele.

- Ai cê traz um pacote de absorvente noturno, e um pacote de OB também. - Ele olha para os nomes no celular, coça a cabeça e sai meio sem entender.

Cinco minutos depois ele volta correndo.

- Gio, eu tive que pedir ajuda pra atendente. Ela tá me ajudando, mas tá rindo de mim. – Eu dou risada da cara dele. 

- Para de rir zé! A gente não sabe qual pegar, têm um monte de marca desses trem lá. Sem abas, com abas, não sei o quê de gel, de cobertura seca.

Começo a me dobrar de rir.

- Para de me fazer rir, tá descendo forte aqui sô. – Ele me olha com uma carranca. - Pode ser qualquer um amor, o que você trouxer tá bom.

Ele volta para a farmácia, depois de dez minutos volta com um monte de sacola.

- O que é tudo isso? – Pergunto espantada.

- Eu fiquei na dúvida em qual escolher e peguei um de cada uai.

- Sério? – Começo a rir de novo. - Num guento você não!

- Não ri! E também comprei umas coisas pra você comer que eu não vi você comendo nada hoje.

Enquanto ele dirigia coloquei a mão esquerda na sua nuca, fazendo carinho.

Essa tinha se tornado minha forma de agradecimento.

[...]

Seguimos até meu apartamento em silêncio.
Giovanna olhava pela janela do carro calada, o semblante triste. Não sei se era pelo cansaço ou pela cólica. Olho para ela vez ou outra, esperando ela dizer algo.

Quando me canso de esperar coloco a mão na barriga dela.
- Tá muito ruim Gio? -  Ela segura minha mão sobre a sua barriga.

- Não, não, tranquilo.

- Você ainda tá sem cor.

- Já, já volta.

Ficamos em silêncio.
- Ale? – Ela chama minha atenção.

- Oi?

- Você quer ter filhos?

Puta que pariu!
E agora? O que eu digo?
“Não Giovanna, não quero ter filhos.” Não poderia dizer isso.
Era a verdade, mas eu não queria verbalizar dessa forma.
Penso, penso, penso.

- Gio, eu teria um filho, aliás, eu teria vários filhos. – Olho para ela que me observa atenta. - Se eu soubesse que esses filhos teriam o melhor dessa vida, que teriam uma vida feliz, que eu soubesse que eu seria o melhor pai para eles. – Dou uma pausa olhando para a estrada. - Se eu tivesse certeza dessas coisas, eu teria sim. Filho é um ser muito sagrado. Infelizmente muitos nascem filhos de alguém, mas não são preparados e nem capazes de serem pais de alguém.

Ela assente com a cabeça, concordando.

Depois de algum tempo, ela quebra o silêncio.

- Mas Alexandre, você nunca vai ter essa certeza... – Vejo quando ela olha para o meu rosto.

- Eu sei Giovanna... – Continuo olhando para a estrada.

[...]

Subimos para o meu apartamento. Me deparo com uma Giovanna em péssimo estado. Ela reclama de dor e eu não sei o que fazer.

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