Pablo Neruda

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Imagine que neste momento o tempo passe em câmera lenta.
Não sabíamos qual o próximo passo a se tomar.

Ele me olhava em silêncio.
Eu devolvia o olhar para ele em silêncio.

Estávamos ofegantes.

Nossos olhos conversavam, não eram preciso palavras.

Dizem que os olhos são a "janela da alma".

Nossos olhares se escancaravam, cruzavam-se à medida que se compreendiam.

Envolviam-se. Incorporavam-se. Abraçavam-se. Conectavam-se.

Dei um passo em sua direção cautelosamente.
Parecia que todos os movimentos teriam que ser calculados.

Como um caçador à espreita da presa. Qualquer passo em falso afugentaria aquele momento.

Nós dois.
Nós juntos formávamos o equilíbrio perfeito.

Eu fui em sua direção.
Levei minha mão até seu rosto.

Ele fechou os olhos.
- Alexandre, olha pra mim! - Eu o amava tanto.

Abriu os olhos.
- Eu não quero que você vá embora!

Sem tirar os olhos dos meus, ele me pega no colo, fecha a porta e me leva pelo corredor em direção ao seu quarto.

Ele não me beija.
Por que ele não me beija?

Passo os braços pelo seu pescoço o abraçando, passando as mãos por seus ombros, pelas suas costas. Sinto suas cicatrizes.

Ele continua sem me beijar.
Esconde o rosto em meu pescoço.

Eu quero que ele me beije.
Me ame.

Etta James começava a cantar At last:

"At last
My love has come along
My lonely days are over
And life is like a song"

Me coloca delicadamente sobre sua cama.

Ele está com medo? De quê?

Eu o puxo para cima de mim e o coloco entre as minhas pernas.

Meus olhos gritam, imploram, clamam por ele.

"Me beija Alexandre, me beija." Penso.

Nessa hora ele sustenta o peso do corpo nos seus cotovelos, me olhando nos olhos, admirando cada parte do meu rosto.

Ele espera, espera por mim, espera que eu corte a linha do limite. Que eu derrube qualquer barreira que exista entre nós.

Dou um selinho no canto dos seus lábios, ele fecha os olhos.

Olho para ele implorando.

Ele deixa um selinho no canto dos meus lábios.

Ele não avança. É como se estivesse com medo de me amedrontar.

Dou um selinho diretamente na sua boca agora.

O olho implorando.

Ele deixa um selinho nos meus lábios.
E permanece ali.
Com nossos lábios colados.

Quando descola os lábios dos meus, começa a percorrer meu rosto com sua boca, beija meus olhos cuidadosamente, meu nariz, as maçãs do meu rosto. É como se estivesse desenhando meus traços com seus lábios.

Minhas mãos alcançam seu rosto e eu o puxo para um beijo urgente.
Eu o quero, o desejo. Quero sentir seu gosto.

Dou abertura para sua língua.
Quando nossas línguas se encontram parecem fazer uma dança. Como se sempre tivessem pertencido uma à outra.
Como se fizessem uma coreografia que fora ensaiada em outras vidas.

soulmate | GNOnde histórias criam vida. Descubra agora