meu bem

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Estávamos na cozinha terminando de lavar a louça do jantar. Eu lavava enquanto a Gio secava, estávamos em um silêncio confortável, sem constrangimento.

Eu tinha corrido daquele encontro.

Eu só queria a presença dela, sentir ela perto.

Ela era minha calmaria diante do caos que havia dentro de mim.

Não havia necessidade de preencher o ambiente com palavras, nós nos entendíamos e nos sentíamos confortáveis com a presença um do outro, como se apenas isso bastasse.

Não era como se não tivéssemos nada para conversar, geralmente quando começávamos era difícil até parar. Mas em dados momentos em que estávamos juntos parecia que nos compreendíamos até quando nenhuma palavra saia da boca um do outro.

Giovanna secava os talheres e colocava-os na gaveta, quando ela veio novamente em direção ao escorredor e pegou algumas facas e garfos com a mão, eu pedi:

- Gio, "meu bem", tá acabando o detergente, você tem aí na dis... - Fui interrompido pelo barulho dos talheres caindo no chão.

Olhei assustado.
Ela olhava para mim paralisada.
Eu rapidamente desliguei a torneira e peguei o pano de prato da mão dela para secar as minhas mãos molhadas.

- Gio?! Terra chamando?!- Passei as mãos pelos olhos dela que me fitavam em transe.

- O que você disse? - Ela finalmente conseguiu dizer algo aturdida.

- Que acabou o detergente. Nossa! Meu Deus! Por isso você vive roxa, destrambelhada desse jeito, imagina uma faca dessa caindo no teu pé? Vêm, deixa eu ver se você se machucou sem perceber. - Disse recolhendo os talheres espalhados no chão e verificando se algum havia a atingido.

Quando me coloquei de pé, percebi que ela estava com os olhos cheios de lágrimas, a ponto de jorrar um turbilhão de emoções por ali.

Ah não!

Porra! O que estava acontecendo? Comecei a me desesperar. O que teria acontecido com aquela mulher para ela ter gatilho com detergente?

- Gio, não têm problema se for o detergente, amanhã a gente vai no mercado. - Tentei dizer para acalmá-la. - Olha, nem precisa terminar a louça, já estava quase acabando, vêm - Eu a abracei.

- Não é isso seu bocó! - Ela disse.

- Eu quero saber do que você me chamou. - Finalmente ela disse, aquilo parece ter girado uma chave de pranto sobre Giovanna.

Era um choro que movimentava seus ombros em espasmos dentro do meu abraço.

Me abraçava com força como se sua vida dependesse daquilo.

Eu não me lembrava do que a tinha chamado.

Destrambelhada?
Será que ela estava naqueles dias e estava emotiva?
Resolvi não insistir em perguntar e continuei em silêncio a confortando.

Comecei aos poucos:

- Gio, eu te chamei de Gio. - Ela balançava a cabeça em negação, durante um choro infindável. - Vamos para sala, você precisa se acalmar.

Ela não queria largar meu abraço e nós seguimos meio desengonçados em um meio abraço para a sala.

Sentei no sofá e a puxei para perto de mim, ela continuava chorando enquanto eu a aninhava ao meu corpo.

Daria qualquer coisa para entender o que acontecia na cabeça daquela mulher, o que atormentava tanto aquele coração que parecia cheio de marcas e feridas da vida.

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