pensando em você

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"Meu bem".

Alexandre havia me chamado de "Meu bem".

Meu bem.

Naquele momento fui atingida por uma dor, um desespero, uma angústia.

Eu me sentia amada, cuidada, desejada. Ele realmente me tratava como uma Deusa.

Eu o queria, queria ele por completo, sem amarras, sem impedimentos, sem o Pedro.

Porém me sentia angustiada.
Eu não poderia tê-lo.
Mas eu não queria deixá-lo.

O que eu faria agora?

Eu soube que estava caindo nos deleites de uma paixão naquela primeira madrugada em que estávamos no terraço.
A partir daquele momento eu soube.

"Alexandre, por que você não chegou na minha vida antes?
Por que eu tive que te conhecer dessa forma, nessas circunstâncias?"

Minha mente era uma confusão de pensamentos e indecisões.
Ao mesmo tempo eu sabia que não iria querer tê-lo por perto e não poder estar com ele.

Eu não queria enganar ele dessa forma.
Me sentia a pior das espécies.
Eu tinha consciência de que Alexandre sentia algo por mim, mas teria que fazê-lo acreditar que eu não o queria.

Ele nunca me desrespeitou em nada, nunca tentou ultrapassar limites. Desde o dia do Motel, se mantinha na posição que eu o fazia acreditar que queria que ele estivesse.

Aí é que começa meu desespero.

Eu não queria que ele me respeitasse, queria que ele ultrapassasse limites, queria que ele tentasse algo.

Eu estava em silêncio, mas meus olhos gritavam que eu o queria, que eu o desejava.
Que o amava.

"Desvende o segredos dos meus olhos Alexandre."

- Eu não quero que você vá embora.
Eu havia dito.

Mas ele se foi...

Quando o vi sair por aquela porta, soube que minha vida sem ele já não fazia mais sentido.
Ele era minha outra metade.
Nos completávamos.

Havia algo que nos unia de forma divina.

Talvez todo esse tempo nossas almas estivessem vagando pela terra, uma procurando pela outra, e infelizmente, quando finalmente se encontraram, foi na hora errada.

[...]

Ela é o oceano inteiro e eu sou a nascente de um rio que percorre caminhos sinuosos até desaguar na imensidão desse mar chamado Giovanna.

Me perdi no seu olhar.
Na sua voz.
No seu cheiro.
No seu toque.
No seu riso.
Nas ondas dos seus cabelos.
Nas curvas do seu corpo.
No coque que ela fazia pela manhã.
Em como ela tomava conta de toda a cama ao dormir.
Na sua curiosidade.
Na sua Implicância.
Na sua gula.
No seu desejo por chocolate.
Em como acariciava qualquer animalzinho que via na rua.
Em como sempre tinha que roubar um pedaço da minha comida.
Em como brincava com a pipoca enquanto assistíamos algum filme.
Quando ela dormia no meio de uma conversa e dizia que estava de olhos fechados, mas estava escutando.
E caia no sono.
Com o rosto pacífico.
E eu comtemplava aquele rosto.
EM PAZ.

Amo em silêncio quando na verdade queria gritar aos quatro ventos o que sinto aqui dentro.

Não consigo.

É como se eu estivesse preso em amarras de insegurança, questionamentos, confusão.

Enquanto dirigia para casa vagava em meus pensamentos. Elvis cantava:

"Wise men say
Only fools rush in
But I can't help falling in love with you
Shall I stay?
Would it be a sin
If I can't help falling in love with you?

Like a river flows
Surely to the sea
Darling, so it goes
Some things are meant to be

Take my hand
Take my whole life, too
For I can't help falling in love with you"

Chegando em casa, tentei desenhar algo para me distrair.
Sem sucesso.

Só conseguia desenhar ela, o rosto dela. A única imagem que preenchia minha mente era a dela.

Eu tentei, juro que tentei.

Tentei lutar contra algo que cresceu dentro de mim, algo que ainda nem sou capaz de nomeá-lo.

Algo que me tira do prumo, da rota, do eixo, da lucidez, do rumo, do foco.

Queria afastá-la, mas também queria estar perto.

Sabia que não conseguiria viver sem ela, não mais.

Queria beijá-la, queria tê-la...

Sabia que não podia ultrapassar certos limites, eu a respeitava, respeitava sua vontade de não querer nada comigo.

Sabia que ela gostava de mim, mas não era da forma que eu queria.

E eu pelo contrário, queria cada vez mais dela...

Dentro de mim ardia algo que eu nunca havia sentido por ninguém, não sabia explicar o que era.

Ardia. Queimava. Inflamava. Incendiava. Abrasava.

Eu só pensava nela.
Só queria agradar ela.
Queria dar meu mundo para ela.
Queria fazê-la sorrir.
Queria abraçá-la.
Queria acordar ao lado dela.
Queria sentir o cheiro dela.

Será que finalmente quando eu descubro esse sentimento que tanto se canta, se doa, se teme, se almeja, se descobre, se dedica, se entrega, se devota, se respeita, se venera, se aspira, se anseia, eu iria precisar afastá-lo?

Como eu posso amar alguém que não me pertence?

Quando finalmente descubro o que é "o amar", eu não poderei desfrutar desse amor?

Lembrei do olhar dela enquanto eu saía pela porta.

Decepção.

Eu disse que não iria embora.

Mas eu fui

Andava de um lado para o outro pensando, pensando, pensando.

PUTA QUE PARIU!
Tô fudido
Tô fudido de amor!

Corro para o quarto para colocar minha roupa.

Foda-se!

Não vou me angustiar pensando no que poderia ter sido, prefiro me martirizar pelo que tentei e não deu certo.

Porque viver é isso.
Nunca iremos saber o destrinchar das nossas escolhas se não dermos uma chance para elas.

Coloquei uma calça e fui procurar minha camisa que havia jogado em algum lugar do quarto.

Enquanto isso Ella Fitzgerald cantava na caixinha de som em cima do móvel do quarto:

Let's fall in love
Why shouldn't we fall in love?
Our hearts are made of it; let's take a chance
Why be afraid of it?
Let's close our eyes
And make our own paradise
Little we know of it; still, we can try

[...]

Sinto meu coração bater na garganta.

Meu estômago revira.

Imagine que todas as borboletas do mundo resolveram bater asas dentro da minha barriga agora.

Ele está sem camisa, suado, ofegante.

Seu olhar vai direto para a abertura do meu decote.

Um minuto atrás, quando ele abriu a porta eu percebi.

Ele estava de saída.

Ele iria atrás de mim.

Ele não foi embora...

Nenhum dos dois se movia, apenas nos olhávamos, como se estivéssemos entendendo e absorvendo o que sempre foi evidente aos nossos olhos.

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