Bilhete - VALU

CAPÍTULO 2 - HISTÓRIA INESPERADA

POV VALENTINA

E mais uma vez estou atrasada para faculdade, mas veja pelo lado bom, hoje é o último dia de aula e depois férias, não aguentava mais esse martírio. Você deve estar se perguntando: "mas porque martírio Valentina?", simples, eu odeio o curso que estou fazendo, simplesmente fui obrigada pela minha mãe, que é advogada, a cursar direito. Ela foi irredutível, eu queria mesmo era cursar música, mas segundo ela era faculdade de "vagabundo". Bater de frente com dona Catarina é desgastante, resolvi aceitar e ver qual seria a desse curso, pelo menos tenho a companhia do meu irmão que já cursa direito.

Toda sexta depois da aula eu toco num barzinho perto da faculdade junto com a minha banda, e com a minha ex que é a vocalista, mas estou tentando deletar essa parte da minha mente. Desde que terminamos a Giovana não larga do meu pé, não supera nunca, eu até tento ser educada, mas tem hora que não dá, isso acaba gerando um clima estranho na banda as vezes, mas paciência, é culpa dela, eu juro.

Bom, como hoje é sexta e tenho que levar a guitarra, chamo um uber para ir para aula, seria impossível levar na minha moto, com certeza hoje será o melhor show do semestre, vamos celebrar o início das férias.

Depois de três motoristas cancelarem a corrida, finalmente um aceita e está a caminho, tá vendo o atraso não é só minha culpa, não sei porque cancelam tanto.

Quando finalmente o motorista chega, pergunto:

- Boa noite! Posso colocar a guitarra no porta-malas?

- Claro D. Valentina. Apenas tenha cuidado com o violino, por favor. - o motorista responde.

Já fico curiosa, um motorista violinista, chique demais. Coloco a guitarra e entro no carro.

- Desculpa a pergunta, mas o senhor toca?

- Não, quem me dera ter esse talento, o instrumento é da minha filha. Foi uma sorte e tanto pegar a sua corrida agora para a Universidade Órion, estou indo até lá deixar o violino com ela.

- Ela estuda música lá? - pergunto

- Não, ainda não, mas se Deus quiser ela vai. Hoje é a audição dela, está tentando uma bolsa de estudos, sabe como é, a situação da nossa família não permitiria pagar uma faculdade tão cara, mas tudo vai dar certo e ela vai conseguir.

Começo a me interessar pela história, espero que o sr. Augusto não se incomode com o tanto de perguntas.

- Que demais um pai que a apoia a cursar música, eu tinha muita vontade de cursar também, mas estou fazendo direito, minha mãe jamais suportaria que eu optasse por outro curso - sorrio sem graça.

- Pois o talento da minha filha é meu maior orgulho. - ele diz, e completa: - Desde que minha esposa faleceu, venho incentivando a minha filha a voltar a tocar, no começo desse ano ela aceitou, então parcelei o violino e comecei a pagar as aulas para que ela pudesse treinar para a audição, confesso que não vem sendo fácil, dobrei a jornada para aumentar a renda, mas é o sonho dela, eu só poderia apoiar.

- Sinto muito pela sua esposa. Mas é muito bonito o que o sr. faz pela sua filha. Tenho certeza que ela é muito grata e vai brilhar muito na audição.

- Obrigado D. Valentina. É muito bom ouvir isso.

Fico pensativa por uns minutos, que história incrível, quem me dera que minha mãe me apoiasse desse jeito. Tenho tudo desde criança, financeiramente falando, mas o principal que é o carinho de minha mãe, não posso dizer o mesmo. Essa garota precisa conseguir essa bolsa. Eu poderia até mexer meus pauzinhos e pedir pro meu pai, o reitor da faculdade, para ajudá-la, mas seria difícil convencer o velho e pelo que esse motorista fala, a filha dele deve ser bem talentosa.

Essa história mexeu comigo de uma forma que eu não imaginava, estou me sentindo estranha, não consigo explicar, é como se de alguma forma eu precisasse ajudar.

Ainda perdida nos meus pensamentos, fixo meu olhar em meu braço, lá estava a pulseira com o pingente de trevo da sorte que meu avô me deu assim que completei 15 anos, ela não tinha saído do meu braço desde então.

Já sei!

Já estávamos quase chegando na faculdade, mas ainda tenho um tempinho. Rasgo um pedaço da folha do meu caderno e escrevo um bilhete.

Quando finalmente chegamos, agradeço o motorista e vou até o porta malas pegar a minha guitarra. É nessa hora que rapidamente abro o case do violino e jogo lá dentro a minha pulseira da sorte e o bilhete. Entro na faculdade torcendo para que a audição da filha dele seja um sucesso.