CAPÍTULO 27 - SOB PRESSÃO

402 62 7
                                    

POV LUIZA

O primeiro dia de ensaio fechado para o grande evento da faculdade chegou com uma combinação de antecipação e ansiedade. A notícia de que o evento seria especial para o governo de Porto, Portugal, e que contaria com a presença de políticos e profissionais da renomada Universidade de Porto, me deixou ainda mais inquieta.

A parceria entre a nossa universidade e a Universidade de Porto era motivo de orgulho para todos nós. Diversos programas de intercâmbio e colaborações acadêmicas só fortaleciam com essa ligação. Saber que alunos da instituição europeia também se apresentariam aqui, em nosso país, acrescentava um peso ainda maior ao evento.

Enquanto me preparava para o ensaio, os pensamentos se entrelaçavam em minha mente. Nunca antes havia me apresentado para uma plateia tão distinta. Até então, minha experiência se resumia a algumas poucas pessoas que, de tempos em tempos, acompanhavam os ensaios. Agora, diante da perspectiva de encantar uma plateia formada por figuras tão importantes, sentia a responsabilidade pesar sobre meus ombros.

Para complicar ainda mais, o maestro propôs algo que me deixou sem palavras. Ele acreditava que eu estava pronta para uma apresentação solo no evento. Sua admiração pelo meu talento era evidente, e sua confiança em mim era tanto uma honra quanto uma fonte adicional de pressão.

Aceitei o desafio com um sorriso e uma gratidão que não conseguia expressar em palavras. No entanto, no fundo, sabia que não me sentia completamente pronta. Era como se uma tempestade de nervosismo se agitasse dentro de mim, fazendo com que cada nota e cada movimento se tornassem um desafio a ser vencido.

Durante o ensaio, tentei me concentrar, mas a pressão era palpável. As notas ressoavam em minha mente, como um lembrete constante da importância desse evento. Minhas mãos tremiam ligeiramente, e a sensação de incerteza se infiltrava em cada movimento do arco.

A voz do maestro ecoou pelo espaço, orientando-nos e ajustando todos os detalhes.

Ao final do ensaio, fui tomada por uma sensação de alívio. Sabia que ainda tinha muito trabalho pela frente, mas tudo havia saído bem até aqui. Eu ainda tinha que superar alguns medos e inseguranças, honrando a confiança que o maestro depositou em mim.

Ao sair do auditório, olhei para o palco vazio e respirei fundo. Estava pronta para enfrentar esse desafio, mesmo que a jornada fosse repleta de obstáculos. Sabia que, no final, valeria a pena.

Alcancei meu celular e digitei rapidamente uma mensagem para Valentina.

"Valen, preciso muito falar com você. Tá em casa?"

Ela não demorou em responder.

"Estou sim."

"Posso ir aí?"

"Claro, Lu. Eu já deixei a chave com você para vir sempre que quiser, nem precisa perguntar. Até porque eu também tenho uma novidade para te contar."

"Sério? Agora fiquei curiosa! Estou a caminho."

"Nos vemos em breve, meu amor." ela finalizou.

.....

Assim que cheguei em seu apartamento, Valentina estava na cozinha, concentrada em alguma tarefa. Ao me ouvir entrar, ela se virou com um sorriso luminoso no rosto.

- Lu, que bom que chegou! - ela veio em minha direção e me envolveu em um abraço caloroso, sua presença sempre me trazendo um conforto instantâneo.

- Oi, amor. - sussurrei, retribuindo seu abraço com carinho. - Me conta, o que você queria falar?

- A Giovana foi expulsa da faculdade. Me avisaram hoje. - ela anunciou, deixando escapar um suspiro de alívio.

- Sério? Isso é uma ótima notícia.

- Sim, estou tão aliviada. Só espero que ela nos deixe em paz.

Apesar da boa notícia, eu me sentia inquieta. Algo que ela logo percebeu.

- O que houve, Lu? Parece que tem algo mais te incomodando.

- Preciso te contar sobre o ensaio... - disse, buscando as palavras certas para expressar meus sentimentos.

- Claro, amor, o que aconteceu?

- O maestro me propôs um solo na apresentação do evento. - admiti, o nervosismo palpável em minha voz.

Valentina não pôde conter um brilho de admiração em seus olhos.

- Uau, Lu! Isso é maravilhoso! E você aceitou, né?

- Aceitei, mas... Valen, estou tão nervosa. Sinto que ainda não estou pronta para uma responsabilidade tão grande. - confessei, meus olhos buscando os dela em busca de apoio.

Valentina segurou minhas mãos com ternura, transmitindo confiança.

- Lu, escuta, você é incrível no violino. Eu tenho certeza de que vai brilhar. Confie em si mesma.

Apesar das palavras reconfortantes de Valentina, eu ainda me sentia tensa, como se o peso da expectativa fosse grande demais. Então ela me deu uma sugestão.

- Tenho uma ideia. Que tal se a gente passasse o fim de semana na casa da minha família lá na serra? Assim, você teria um tempo para relaxar, se concentrar, e voltaria renovada para a semana de ensaios. O que acha?

Ela não poderia ter feito uma proposta melhor. A imagem de um refúgio tranquilo em meio à natureza e ainda mais com sua companhia, me acalmou na hora.

- Valen, você não existe. Eu adoraria. - admiti, um sorriso se formando em meus lábios.

Então, nos juntamos na cozinha, e enquanto ajudava Valentina com as tarefas, começamos a planejar nosso fim de semana na serra. A ideia de estar longe da agitação da cidade e ter um tempo só nosso me deixou mais animada. A tensão do ensaio parecia ter se dissipado, substituída por uma sensação de calma.

Ficamos ali, trocando ideias e rindo juntas, enquanto o aroma de comida enchia o ambiente. Era reconfortante estar ao lado de Valentina, compartilhando momentos simples e preciosos como aquele.

Bilhete - VALUOnde histórias criam vida. Descubra agora