CAPÍTULO 1 - NOTAS DO CORAÇÃO

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POV LUIZA

Estuda, estuda, estuda... é assim que tenho passado todos os dias dos últimos cinco meses. Desde que terminei o ensino médio, tenho me dedicado aos estudos do violino, o meu hobbie favorito e que agora tem a chance de se tornar minha profissão.

Conheci o instrumento na infância e me apaixonei logo de cara, o som era dos deuses e me acalmava tanto. Eu costumava observar os alunos mais velhos na minha escola tocando e morria de vontade de tentar também. Até que um dia, eles me viram espiando na porta e me convidaram para entrar. No começo foi difícil, mas eles me disseram que eu tinha talento e, sempre que podia, eu voltava para tocar com eles.

Assim foi até o início do ensino médio, quando em uma fatalidade minha mãe faleceu. Depois de sua morte eu nunca mais voltei a tocar na escola. Era ela quem mais me incentivava nesse hobbie e parecia que não fazia mais sentido tocar.

No final do ano passado, quando terminei os estudos, chegou a hora de decidir que caminho seguir, e meu pai foi enfático:

"Você vai pra faculdade, Luiza, nem que eu tenha que me desdobrar para conseguir pagar. Não me perdoo por sua irmã ter largado a faculdade de gastronomia quando sua mãe morreu. Eu entendo que a situação ficou difícil e precisávamos de ajuda em casa, mas agora estamos mais estáveis. É a sua vez, e você vai se formar."

Meu pai e minha irmã tem sido meu maior apoio depois da morte da minha mãe. O sr. Augusto passou a me incentivar a seguir meu sonho com o violino, mas era um hobbie caro. Eu não tinha o instrumento em casa, e assim era bem difícil estudar. Acabei deixando o sonho de lado.

No começo desse ano, já com os estudos terminados, falei para o meu pai que queria tentar uma bolsa na faculdade de música. Me apoiando como sempre, ele parcelou um violino e começou a me pagar aulas com a professora Nair.

A audição para a faculdade será no próximo mês, preciso chegar ao nível de quem já faz aulas há anos e não tenho outra opção a não ser passar. Tenho plena consciência que não tenho o mesmo nível de conhecimento dos meus concorrentes para a bolsa. Apesar de ter tocado de vez em quando na infância, não ter o instrumento em casa acabou dificultando o meu progresso. Ao mesmo tempo, me sinto muito mal, pois sei como vem sendo difícil para meu pai arcar com as parcelas do violino e com minhas aulas com a professora Nair. Ele diz que é tudo pelo meu futuro, que acredita no meu sonho. Não posso decepcioná-lo.

.....

Estou no meu quarto e me sinto exausta ao fim de mais uma aula intensa com a professora Nair, ela tem sido meu anjo, conseguiu me passar muito conteúdo em um curto espaço de tempo, o que me deixou bem mais confiante para tocar. Ela diz que tenho talento, mas apesar dos elogios de minha professora, sinto muito medo do que me espera na audição, no mês que vem.

Assim que a professora Nair sai do quarto, meu pai aparece animado na porta:

- E então Lu, como foi a aula? Tá chegando a hora...

- Nem me fala pai, cada vez que penso no dia da audição começo a suar frio. E a propósito a aula foi ótima, como sempre. Devo muito a professora Nair e a você, é claro.

- Imagina, Luiza, você é talentosa, não me deve nada... tenho muito orgulho das minhas filhas.

- Pai, eu quero tanto passar nessa audição, mas sinto que ainda não estou no nível dos outros candidatos. E, eu sei o quanto você tem se esforçado para me ajudar. 

- Não pensa assim, Lu. Você está se dedicando muito e tenho certeza que vai dar tudo certo.

Me levanto, vou até ele, sorrio e o abraço:

- Te amo pai! Obrigada!

- Assim eu choro Lu, te amo também!

As palavras ecoavam na minha cabeça enquanto eu abraçava meu pai. Seu apoio incondicional e seu amor eram minha força para continuar lutando pelo meu sonho. Mas a dúvida ainda persistia dentro de mim, será que eu seria capaz de alcançar o nível necessário para conquistar a minha bolsa?

.....

Os dias passaram rapidamente, e eu mergulhei de cabeça nos estudos do violino. Cada nota, cada movimento do arco eram praticados incansavelmente. A professora Nair se tornou não apenas minha professora, mas uma verdadeira mentora, ela me encorajava a explorar minha essência no som que saia do violino.

Em meio aos ensaios intensos, eu me encontrava em um turbilhão de sentimentos. Havia momentos de pura alegria, quando a melodia fluía perfeitamente, mas também os momentos de frustração, quando notas erradas ou técnicas difíceis me desafiavam. Nessas horas, eu me lembrava do rosto orgulhoso do meu pai e encontrava a força para persistir.

Bilhete - VALUOnde histórias criam vida. Descubra agora