CAPÍTULO 14 - SEGREDO

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POV VALENTINA

A luz suave da manhã se infiltrava pelas cortinas enchendo o quarto com uma atmosfera serena. Abri os olhos, um tanto desnorteada, e levei um momento para entender onde eu estava. Virei-me ligeiramente e meus olhos pousaram em Luiza, que dormia tranquilamente ao meu lado. Um sorriso involuntário se formou em meus lábios, enquanto as memórias da noite anterior começavam a voltar.

Com esforço, comecei a juntar os fragmentos dos acontecimentos do dia anterior: Luiza me beijou no carro, fiz um dos melhores shows da minha vida com ela na plateia e bebi, mas bebi muito mais do que eu devia. Luiza tinha me trazido para sua casa, preocupada com meu estado pós show. Senti um calor reconfortante se espalhar em meu peito quando lembrava de como ela cuidou de mim, me proporcionando conforto e segurança.

Minhas lembranças foram interrompidas quando percebi que Luiza estava despertando. Ela esticou os braços se espreguiçando, ainda sonolenta. Seus cabelos caíam delicadamente sobre o rosto, mas pude ver o sorriso suave que se formou em sua boca ao perceber que eu a observava. Nossos olhares se encontraram e trocamos um selinho breve, um cumprimento matinal repleto de carinho.

- Bom dia dorminhoca. - brinquei tentando dissipar o nevoeiro que ainda pairava em minha mente.

- Bom dia, você. - Luiza respondeu com a carinha de sono mais fofa que eu já vi.

- Acho que acordei porque alguém estava roncando muito alto. - eu disse com um tom divertido.

- Ah, para com isso! Eu não ronco! - Luiza fingiu uma voz brava e cruzou os braços.

- Ronca só um pouquinho, assim... - fiz o gesto com os dedos.

- Não acredito que você está jogando isso na minha cara, depois de tudo que eu fiz por você... - ela franziu a testa de forma teatral, indignada.

- Eu sei, eu sei... você é meu anjo. - sorri sentindo uma onda de gratidão.

- Um anjo que não ronca! - ela respondeu de forma travessa.

As palavras de Luiza me arrancaram uma risada genuína, e a atmosfera do quarto se encheu de uma leveza reconfortante.

- Eu tava com saudades desse seu jeito assim bravinha. - eu disse e ela rolou os olhos.

Encarei-a por um momento, admirando sua beleza, mas logo uma dor latejante percorreu minhas têmporas, lembrando-me de que minha cabeça não estava exatamente em seu melhor estado. Eu me sentei na cama e levei a mão à cabeça.

- Está tudo bem? - Luiza se preocupou.

- Na verdade, Lu, estou me sentindo um pouco mal. - confessei. - Acho que exagerei um pouco ontem à noite.

Luiza imediatamente levantou, se oferecendo para buscar um remédio para mim.

Quando ela retornou ao quarto com um copo d'água e um comprimido, aproveitei para me desculpar.

- Lu, eu queria me desculpar... por ontem.

- Ei, tudo bem, eu sei que você só estava se divertindo.

- Sinto que estraguei sua noite, poderia ter sido diferente se eu não tivesse bebido tanto.

- Não se culpe por isso. - ela alcançou minha mão, apertando-a com carinho. - Aliás, estar com você sempre torna tudo melhor, não importa a situação.

- Eu deveria ter me cuidado melhor. - conclui.

- Deita aqui um pouco mais. vai ajudar na sua dor de cabeça.

Encontrei alívio em suas palavras e me deitei novamente na cama para relaxar até a dor de cabeça passar. Luiza voltou à cama e se acomodou ao meu lado, me abraçando suavemente pelas costas e senti um conforto imediato com seu gesto.

Seu braço pousou em meu peito e, quase de maneira automática, comecei a acariciar seu pulso, exatamente onde estava a minha pulseira. Senti a Luiza se arrepiar sob o meu toque.

A minha mente começou a voltar no tempo, naquele dia que, por impulso, resolvi colocar o bilhete e a pulseira junto ao violino da garota desconhecida. Revivi a sensação daquele momento, cheia de expectativas de que o meu gesto realmente pudesse trazer sorte e confiança para ela. Era inacreditável como o destino fez com que nossos caminhos se cruzassem depois.

Um nó se formou em minha garganta e percebi que era o momento de compartilhar com Luiza o meu segredo.

Abri minha boca para falar, mas antes que pudesse articular as palavras, Luiza me surpreendeu:

- Obrigada por isso. - ela sussurrou.

Bilhete - VALUOnde histórias criam vida. Descubra agora