CAPÍTULO 22 - INDEPENDÊNCIA

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POV VALENTINA

Assim que saí do banho, senti um vazio no quarto. Luiza já não estava mais lá. Toda a energia positiva que ela trouxe com sua presença se foi junto dela. A conversa que tivemos, a sua música, as lágrimas compartilhadas e o beijo apaixonado ainda estavam em minha mente.

De repente, algo brilhante chamou minha atenção sobre a minha mesa de cabeceira. Caminhei até lá e vi um objeto familiar: minha pulseira da sorte. Ao lado dela, um bilhete de Luiza.

Com as mãos trêmulas, peguei o bilhete e comecei a ler:

"Amor,

Eu sei que você está prestes a enfrentar uma conversa difícil com seus pais, e eu queria que soubesse que estou aqui com você, mesmo que não possa estar fisicamente. Usa a pulseira durante a conversa para te acompanhar e te dar sorte.

Tenho certeza de que você vai se sair maravilhosamente. Você é forte, Valen, e merece seguir seus próprios sonhos e desejos. Estou aqui com meus pensamentos, sempre. Vamos juntas, lembra?

Com todo o meu amor,

Luiza"

Lágrimas de gratidão encheram meus olhos enquanto eu segurava a pulseira e lia as palavras de Luiza. Seu gesto de apoio significava o mundo para mim. Rapidamente, coloquei a pulseira no pulso, sentindo-a como uma conexão com Luiza e um símbolo de coragem para enfrentar o que estava por vir.

Decidi me preparar para a conversa com meus pais. Era hora de falar com eles sobre minhas decisões, sobre trancar o curso na faculdade e sair de casa. Eu estava determinada a seguir meu próprio caminho, sem ser influenciada pelos pensamentos da minha mãe.

Com a pulseira no pulso e as palavras de Luiza em meu coração, desci as escadas e me preparei para a conversa que poderia mudar o rumo da minha vida. Era o momento de buscar minha independência e trilhar meu próprio destino.

Encontrei meus pais na sala, eles haviam acabado de chegar do jantar, e minha mãe estava ocupada mexendo na bolsa.

- Podemos conversar? - perguntei, minha voz trêmula de nervosismo.

Meu pai olhou para mim com seriedade e assentiu, enquanto minha mãe apenas resmungou um "fale logo". Respirei fundo e comecei:

- Eu tomei uma decisão. Eu não vou continuar no curso de Direito.

O silêncio pesou no ambiente por um momento, e minha mãe foi a primeira a reagir, com um tom de voz elevado:

- O quê? Você está completamente maluca? Você vai desperdiçar todo o nosso investimento!

Meu pai, por sua vez, permaneceu em silêncio, apenas me observando.

- Eu não me vejo seguindo essa profissão, mãe. Já faz algum tempo que venho pensando nisso, e essa suspensão me fez perceber que não posso mais fingir. - falei calma, não queria me igualar a sua histeria.

Minha mãe parecia à beira de um colapso. Eu desviei o olhar para a pulseira em meu pulso, como se ela fosse uma âncora de coragem. As palavras da Luiza ecoaram na minha mente, e senti uma onda de determinação. Respirei fundo novamente antes de continuar.

- E não é só isso. Eu também vou sair de casa.

- Ótimo! É bom que vá embora mesmo! - a reação de minha mãe foi imediata.

Dessa vez meu pai falou, preocupado.

- Mas, Valentina, para onde você vai?

Eu já estava preparada para essa pergunta.

- Falei com a tia Vânia e ela vai me alugar aquele apartamento dela que estava vago.

- A vida é sua, faça o que quiser. Mas não conte comigo, nem com o meu dinheiro. Se vai sair da faculdade e de casa, que arque com as consequências e banque sua própria vida. - minha mãe respondeu, com desprezo.

As palavras dela doeram, mas eu já esperava essa reação. Eu estava disposta a enfrentar as consequências das minhas decisões, porque finalmente estava tomando controle da minha própria vida.

.....

Ao recostar na cama, respirei fundo e permiti que a tranquilidade finalmente me envolvesse. Aquela conversa com meus pais havia sido um passo necessário, e agora, refletindo sobre tudo, percebia que a realidade superou em muito as sombras que minha mente ansiosa havia desenhado. A rejeição de minha mãe, embora dolorosa, não foi surpreendente. No entanto, a atmosfera que pairava entre nós era muito menos hostil do que eu temia. É engraçado como, por vezes, a nossa imaginação cria cenários mais assustadores do que a própria realidade. E nesse caso, a coragem de enfrentar tudo tinha sido recompensada com uma sensação de liberdade que eu nunca havia sentido antes.

Não demorou muito e meu pai subiu até o meu quarto. Ele pareceu surpreso ao ver as caixas e malas prontas.

- Valentina, quando você vai sair de casa? - ele perguntou, preocupado.

- Amanhã, pai. - respondi, olhando nos olhos dele.

Ele suspirou e se sentou na beira da minha cama.

- Sinto muito por como sua mãe reagiu. Ela cobra muito de você. Às vezes, é difícil confrontá-la, até mesmo para mim. - ele admitiu, olhando para suas mãos.

Fiquei surpresa com a franqueza dele.

- Sabe, quando eu tinha a sua idade, meu sonho era ser piloto de avião. Mas vim de uma família toda acadêmica, e eles esperavam muito de mim nesse sentido. Eu acabei seguindo outro caminho, e hoje até gosto do que faço, mas por muito tempo me culpei, imaginando como teria sido se tivesse conseguido seguir meu sonho.

Ouvir isso do meu pai me fez sentir mais próxima dele, como se ele estivesse compartilhando um pedaço importante da vida dele comigo. Ele continuou:

- Quero que saiba que estou aqui para apoiar as suas decisões. Farei o que estiver ao meu alcance para ajudá-la a seguir o seu sonho. Quero que você tenha essa chance.

Eu, definitivamente, não esperava essa demonstração de apoio do meu pai.

- Muito obrigada, pai. - sussurrei, emocionada.

Naquele momento, eu senti uma nova força e determinação para enfrentar o que estava por vir. Estava pronta para começar esse novo capítulo da minha vida, com a certeza de que tinha o apoio de Luiza e, agora, também o do meu pai.

Bilhete - VALUOnde histórias criam vida. Descubra agora