Bilhete - VALU

CAPÍTULO 19 - ARREPENDIMENTO

POV VALENTINA

Eu não podia acreditar no que estava acontecendo, não bastava Giovana ter espalhado as mentiras sobre Luiza, agora ela estava suspensa da faculdade por minha culpa. Meus olhos se encheram de lágrimas de frustração e remorso enquanto eu lamentava a tolice que havia cometido.

Meu coração ainda estava acelerado pelo confronto com Luiza quando meu irmão apareceu no corredor.

- Valen, o que está acontecendo? - ele perguntou, percebendo imediatamente que algo estava errado.

Eu o encarei, a urgência na minha voz evidente:

- Igor, encontra a Duda. É importante. Luiza saiu daqui em um estado terrível, ela precisa dela agora.

- Mas me explica o que aconteceu, você também está péssima. - Igor franziu o cenho, claramente preocupado.

- Antes do início do semestre, eu entrei no sistema da faculdade para pegar o endereço da Luiza. Eu estava tentando ser legal, eu só queria me desculpar direito com ela. Mas agora descobriram o acesso e suspenderam a bolsa dela enquanto investigam se houve manipulação nas notas.

- Isso é sério? - Igor questionou. Suspirei e assenti, admitindo a verdade. - Valen, eu não acredito que você fez isso. - Igor balançou a cabeça, surpreso e desapontado.

- Igor, não tenho tempo para sermões agora. Eu vou falar com o papai, ele precisa saber o que aconteceu. Preciso dar um jeito nisso. E você precisa achar a Duda.

Eu senti um nó na garganta e as lágrimas ameaçando surgir, mas as engoli. Eu não tinha tempo para me sentir mal. Não enquanto Luiza estava passando por tudo isso por minha causa.

Igor não me questionou mais, ele saiu em passos rápidos, provavelmente rumo à sala de Duda para transmitir o recado urgente.

Com um suspiro, eu me apoiei na parede do corredor. A raiva que eu sentia por mim mesma era avassaladora. Como pude ter sido tão imprudente? Eu sabia que era errado, mas deixei a emoção me dominar e coloquei tudo a perder.

Minha raiva se transformou em frustração e auto-recriminação. Minha impulsividade poderia custar o sonho de Luiza. Eu tinha que fazer alguma coisa para consertar essa bagunça.

.....

Eu segui em direção à sala do meu pai, com o coração pesado e a mente turbulenta. Eu só esperava que, de alguma forma, pudesse encontrar uma maneira de fazer as coisas certas novamente.

Ao chegar à sala do meu pai, sua secretária telefonou e ele autorizou minha entrada. Fiquei aliviada ao ver que ele estava livre. Ele me olhou com surpresa quando entrei.

- Valentina, o que faz aqui? - ele perguntou, claramente curioso.

- Pai, é sobre uma das alunas novas de música, Luiza. Ela conseguiu uma bolsa, mas eu fiz algo estúpido e agora a bolsa dela foi suspensa. Eu tenho que resolver isso, pai. - eu disse rapidamente, minha voz trêmula.

Seu rosto se endureceu enquanto ele processava minhas palavras.

- Como assim algo estúpido? O que aconteceu, Valentina? - ele questionou, seu olhar penetrante.

Eu respirei fundo e contei tudo a ele, desde quando acessei o sistema com a senha dele até a suspensão da bolsa de Luiza e a investigação em andamento. Seu rosto ficou vermelho de raiva enquanto ele ouvia minha confissão.

- Valentina, não posso acreditar que você tenha sido tão irresponsável. Isso é inaceitável. - ele disse, sua voz severa.

- Eu sei, pai, eu sei. Eu só... Eu só fiz sem pensar... desculpa. - minha voz tremeu enquanto eu lutava contra as lágrimas.

- Essas auditorias são comuns para garantir a transparência do sistema das bolsas, provavelmente detectaram o acesso externo aos servidores da faculdade...

Ele suspirou, visivelmente frustrado comigo, e continuou:

- Você precisa entregar seu notebook para a auditoria imediatamente. Eles verificarão se realmente não houve nenhuma alteração nas notas como você diz. E, Valentina, como minha filha, você deveria ser um exemplo para os outros alunos. Em vez disso, você causou um escândalo. Além de tudo ainda envolvendo meu nome, roubando minha senha... inacreditável.

- Hoje não pai, por favor, já não basta as cobranças da minha mãe, e agora você... Eu já estou me culpando o suficiente. - disse em meio a lágrimas.

Mas meu pai não hesitou em impor a consequência das minhas ações.

- Valentina, não vejo outra alternativa. Como exemplo para os outros alunos e para mostrar que levamos a integridade acadêmica a sério, vou suspender você por 15 dias. - disse ele, sua voz soando inabalável.

Uma onda de alívio me invadiu. Naquele momento, a suspensão me parecia uma ótima solução. Pelo menos por esses dias eu não teria que frequentar aquele inferno de faculdade.

Tirei o notebook da minha mochila e deixei sobre a mesa do meu pai sem dizer mais nada. Ele pareceu me entender e apenas me observou deixando sua sala.

.....

Dirigi de volta para casa descontroladamente, minha mente tumultuada com pensamentos sobre Luiza e sobre o que eu tinha feito. Quando finalmente cheguei em casa, minha mãe já estava à minha espera. Meu pai deve ter contado tudo a ela.

- Valentina, que merda você fez agora? - ela estava com um olhar furioso.

- Mãe, eu... eu sei que foi péssimo, mas eu estou realmente arrependida...

- Arrependida? Ah, claro, porque o arrependimento vai resolver tudo, não é? - ela disse com sarcasmo.

- Não disse isso... eu só... - minha voz estava trêmula.

- Você só o quê? Estragou tudo mais uma vez? Você sempre age sem pensar, Valentina! Você é uma vergonha para nossa família. Suspensa... imagina o que as pessoas vão pensar...

- Tudo sempre sobre o que os outros vão pensar, eu já devia ter imaginado isso... vou para meu quarto, eu não preciso ficar aqui ouvindo isso...

Catarina não perdeu tempo em começar a jogar na minha cara o quão péssima filha eu era. Ela me ridicularizou, sem pesar suas palavras. Eu mal conseguia responder, só podia ouvir as acusações e me sentir como a pior pessoa do mundo.

Meu quarto finalmente foi um refúgio para escapar daquelas palavras cruéis. Tranquei a porta e me deixei cair na cama, chorando copiosamente. Eu me sentia tão perdida.

Quando finalmente consegui me acalmar, peguei meu celular e tentei ligar para Luiza. Ela não atendeu. Enviei mensagens, mas não obtive resposta. Ela devia estar devastada, e eu não podia culpá-la por não querer falar comigo.

Tentei mais uma vez, digitando outra mensagem:

"Lu, já estou resolvendo as coisas. Por favor, me dê uma chance de consertar isso. Me desculpa."

Olhei para o celular, esperando por uma resposta que não vinha. Eu tinha causado tanto sofrimento a Luiza, e agora eu era uma pessoa que ela provavelmente odiava naquele momento.