Bilhete - VALU

CAPÍTULO 18 - DESTRUIÇÃO

POV LUIZA

A sensação de apreensão aumentava a cada passo, enquanto eu caminhava em direção à sala da coordenação. Quando finalmente entrei na sala, a coordenadora estava sentada atrás de sua mesa com uma expressão séria.

- Luiza, por favor, sente-se. - ela disse, apontando para a cadeira à sua frente.

Engoli em seco e obedeci, sentando-me nervosamente.

- Recebemos uma notificação do sistema da faculdade sobre um acesso suspeito ao seu perfil. Houve uma tentativa de acesso não autorizado, e estamos conduzindo uma auditoria para entender melhor o que aconteceu. - explicou a coordenadora, olhando para mim com seriedade.

Minha mente começou a girar. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Meu coração batia tão forte que parecia que ia explodir.

- O quê? Eu não fiz nada, eu juro. Eu não mexi em nada no sistema. - eu disse rapidamente, minhas palavras tropeçando umas nas outras.

- Eu entendo sua preocupação, Luiza. É por isso que estamos conduzindo uma investigação para esclarecer o ocorrido. No entanto, enquanto isso estiver em andamento, infelizmente precisamos suspender temporariamente sua bolsa. Se a investigação concluir que não houve manipulação indevida, sua bolsa será retomada, e você poderá continuar seus estudos normalmente. Caso contrário, você terá que interromper seus estudos aqui na universidade. - explicou a coordenadora, sua voz calma, mas firme.

Tudo parecia estar desmoronando ao meu redor. Minha bolsa suspensa? Meus estudos interrompidos? Era como se alguém tivesse puxado um tapete debaixo dos meus pés.

- Mas eu juro que não fiz nada de errado. Deve ser algum engano. - implorei, as lágrimas começando a escorrer pelo meu rosto.

- Eu entendo sua frustração. Infelizmente, até que a investigação seja concluída, não há muito que possamos fazer. Espero que você entenda que precisamos garantir a integridade do sistema e a justiça no processo de concessão de bolsas. - ela disse com compreensão. - Inclusive, por enquanto os ensaios com a orquestra estão suspensos também. São restritos aos alunos sem pendências.

Senti-me impotente. Meu sonho estava pendurado por um fio, e eu não podia fazer nada a respeito. Até a orquestra, que havia se tornado meu refúgio, estava fora de alcance agora.

- Mas... posso tirar uma dúvida? - ela assentiu com a cabeça. - Isso não tem nada a ver com os boatos que estão circulando sobre mim, né? - perguntei com a voz trêmula.

A coordenadora pareceu confusa por um momento e depois negou com a cabeça.

- Que boatos? Eu não tenho conhecimento de nenhum boato. - ela respondeu com sinceridade.

Eu estava atônita. Apesar de Giovana ter espalhado uma mentira sobre mim, isso não havia chegado aos ouvidos da coordenação. Era apenas mais uma reviravolta em uma situação que já estava fora do controle, obviamente pela imprudência da Valentina que acessou o sistema para conseguir o meu endereço.

Eu saí da sala da coordenadora, minhas pernas tremendo, minha mente uma confusão de emoções.

Fui em direção à sala de Valentina e a cena que encontrei do lado de fora era tensa e acalorada. Valentina estava gritando com Giovana, defendendo minha honra e deixando claro que eu havia conquistado a bolsa por mérito e talento.

No momento em que me aproximei, os olhos de Valentina se encontraram com os meus, mas eu não conseguia ver o usual brilho de alegria neles. Em vez disso, havia fúria. Valentina estava perdendo o controle.

- Valentina, chega! - gritei, sentindo meu peito apertar.

Valentina e Giovana se viraram para mim, e Giovana não perdeu tempo em provocar:

- Ah, olha só, a coitadinha da bolsista apareceu.

Antes que eu pudesse pensar, a raiva borbulhou dentro de mim. Eu não conseguia conter minhas emoções.

- Chega, Giovana! Você não sabe de nada do que está falando! - gritei, sentindo as lágrimas voltarem a escorrer pelo meu rosto.

Valentina tentou se aproximar de mim, mas eu a empurrei.

- Tudo isso é por sua causa! - eu disse, minha voz carregada de raiva e tristeza.

Valentina parecia atordoada, incapaz de compreender o que estava acontecendo. E então eu explodi de uma vez.

- Eu perdi a bolsa por sua causa, Valentina! Eles descobriram que alguém acessou meu perfil no sistema, e agora estou suspensa. Você acabou com tudo, meu sonho, meu esforço, tudo em vão!

As palavras saíram como facadas, e eu vi a dor nos olhos de Valentina. Mas a raiva que eu sentia era mais forte do que qualquer outra coisa naquele momento. Eu tinha perdido tudo.

Giovana não perdeu a oportunidade de continuar sua provocação.

- Viu só, Tina? Eu não estava tão errada afinal. A bolsista teve seus privilégios, e agora eles foram devidamente retirados. - disse com um sorriso sarcástico.

Valentina não suportou mais e interrompeu Giovana com voz firme:

- Cala a boca, Giovana. - sua voz estava cheia de raiva reprimida.

As pessoas ao redor perceberam a discussão e voltaram suas atenções novamente para nós. Uma garota que não conheço veio puxar Giovana, ela deu uma risadinha de deboche e se afastou, deixando Valentina ainda mais furiosa.

Eu não podia mais conter minha frustração. Tudo estava desmoronando. Gritei, soltando todas as emoções que estavam fervendo dentro de mim:

- Você é um monstro, Giovana!

Valentina voltou seu olhar para mim, ela parecia atordoada, sem saber como reagir a minha explosão de raiva.

- Lu, tem que ter um jeito, eu não mexi em nada no sistema... - ela parecia desolada.

- Não tem jeito, já estou suspensa. Você estragou tudo!

Eu estava fora de controle, as palavras saíam de mim como uma torrente de emoções incontroláveis. Minha raiva era palpável, uma mistura de frustração, tristeza e desespero que me engolia.

Ela parecia querer falar mais, mas eu não estava disposta a ouvir. Eu estava cega pela dor que eu sentia.

Antes que Valentina pudesse continuar, virei as costas e saí correndo dali, as lágrimas embaçando minha visão. Eu mal sabia para onde estava indo, mas qualquer lugar era melhor do que continuar ali.

- Luiza... espera... - Valentina tentou me seguir, mas eu a impedi, gritando.

- Não! Não vem atrás de mim que vai ser pior! - continuei correndo, sem olhar para trás.