CAPÍTULO 10 - SENTIMENTOS INTENSOS

606 73 9
                                    


POV LUIZA

Eu me sentia perdida, sem saber como lidar com essa descoberta. As emoções me consumiam, e eu me via diante de uma grande decisão: confrontar Valentina ou esperar o tempo dela para ver se ela iria me contar em algum momento.

A verdade é que desde o momento que meus olhos enxergaram Valentina pela primeira vez, sempre senti uma conexão muito forte entre nós e nunca entendi o porquê. Poderia culpar algo mágico vindo dessa pulseira, mas tenho certeza que é algo muito maior, talvez o destino.

No meio dos meus pensamentos confusos, Valentina aparece atrapalhada, com várias coisas nas mãos. Tento me recompor depressa, para que ela não perceba minha tensão e empurro as anotações dela para longe. Valentina diz animada:

- Trouxe uma coxinha pra você. Todo mundo gosta de coxinha, né? Se você não gostar eu posso buscar outra coisa. Tem suco de laranja também.

- Eu amo, obrigada - aceito um pouco sem graça.

Tento refletir ali naqueles poucos minutos e decido que é melhor esperar o tempo da Valentina para me contar do bilhete, se ela não o fizer em breve, então vou ter que questioná-la. Para dispersar meus pensamentos, inicio uma conversa enquanto terminamos de comer:

- Eu to impressionada como você domina todos esses assuntos. Você deve adorar fazer esse curso, né?

- É, obrigada, mas, na verdade, eu odeio Direito. - Valentina sorriu agradecida, mas logo seu sorriso se transformou em uma expressão mais séria.

- Como assim? Então você engana muito bem.

- É que já que eu tenho que cursar, então me dedico, mas, daria minha vida pra trocar de curso.

- Não entendo, o que te impede de trocar para um curso que você goste?

- Minha mãe, eu só estou nesse curso por pressão dela. - ela confessa, abaixando o olhar. - Ela é advogada, e não aceita que eu siga uma carreira na música ou em qualquer outro campo artístico. Para ela, o curso de Direito é o único caminho certo.

- Eu sinto muito que você esteja passando por isso, eu não podia imaginar. Deve ser muito difícil viver com tanta pressão assim.

- Obrigada, Lu. É bom poder conversar com alguém que entende meu lado.

- Eu espero que você consiga seguir em algo que você goste em breve. Se tiver alguma coisa que eu possa fazer para te ajudar, pode contar comigo. - Valentina assentiu, a gratidão brilhando em seus olhos.

- Você já tá me ajudando. Só de aceitar fazer esse projeto comigo, já significou muito pra mim. Foi a melhor forma de usar meus conhecimentos junto de algo que é realmente minha paixão, que é a música.

Me senti muito feliz da Valentina ter se aberto assim comigo, mas ao mesmo tempo extremamente preocupada com a situação dela. Eu sempre tive tanto apoio em casa que não consigo nem imaginar ter que viver uma vida com situações impostas por outra pessoa, ela deve sofrer tanto.

.....

Acabamos de comer e voltamos a nos dedicar ao projeto. Cada vez mais, nossas vozes se tornavam mais animadas e nossas opiniões mais firmes. À medida que as horas passavam, o projeto estava tomando forma e se aproximando da finalização.

O tempo acabou voando e mal percebemos, estávamos comprometidas a fazer um bom trabalho.

Quando finalmente terminamos, nos levantamos da mesa, exaustas, mas satisfeitas. Nos encaramos por um momento, e pude ver um brilho nos olhos de Valentina. Ela quebrou o silêncio: 

- Não vejo a hora de apresentar esse projeto aos professores. - sorri e concordei.

- Eu também, Valentina. Foi incrível trabalhar com você.

Ao checar o celular, levo um susto com o quão tarde já estava. Duda havia me mandado várias mensagens, e eu não tinha nem visto. Como não respondi, ela acabou indo embora pra casa sem me esperar. Começo a ficar nervosa e Valentina percebe minha tensão:

- O que foi, Lu?

- A Duda já foi, acabou ficando muito tarde, vou ter que voltar sozinha e vai ser bem difícil de conseguir um ônibus agora. - falo desanimada.

- Hoje não vou ter show, posso te dar uma carona até sua casa.

- Tem certeza que não vai te atrapalhar? Eu moro meio longe e...

- Vamos logo, Luiza.

Embora eu tenha medo de andar de moto, acabo aceitando a carona. Era melhor do que ter de voltar sozinha àquela hora.

Valentina me entregou um capacete e eu subi na garupa. A adrenalina misturada com o receio faziam meu coração acelerar, mas eu confiava em Valentina para me levar em segurança. Apenas fecho os olhos e me agarro em sua cintura.

De repente, ouço a sua voz me chamando:

- Lu, pode soltar, nós já chegamos - ela fala rindo.

- O que?

- Chegamos na sua casa, pode descer.

Finalmente abro meus olhos e vejo que realmente chegamos. Solto a cintura de Valentina.

- Ah, desculpa... É que o medo, você sabe...

- Eu percebi o seu medo, quase afundou minha cintura. E isso não é uma reclamação! - ela continua rindo de mim. - Mas eu vim devagar, vai? Foi tão ruim assim?

- Não, nem vi, fechei o olho - acabo rindo também.

- Você pode ficar assim agarradinha comigo mais vezes que não vou reclamar. - ela me provoca, e eu coro.

- Valentina!!

Já estava bem tarde e eu tinha que entrar. Era perigoso ficar parada ali fora àquela hora, apesar de a minha vontade ser passar o resto da madrugada ao lado dela.

Quando vamos nos despedir, nossas bocas acabam se esbarrando bem no canto, e uma tensão acaba se criando no ar. Nossos olhares se encontram de muito perto e sinto que Valentina está prestes a me beijar.

Antes que ela possa continuar, a luz da entrada da minha casa acende, e meu pai sai na porta.

- Luiza, é você que está aí?

- Sim, pai, sou eu, já estou entrando. - digo extremamente nervosa.

Olho para os olhos chateados de Valentina. Eu também estava inconformada com aquela interrupção. Vou em direção a casa e a agradeço:

- Obrigada por me trazer até aqui.

Ela me lança um beijo no ar. Ainda um pouco sem jeito, entro em casa e fecho a porta atrás de mim. Meu coração estava muito acelerado e meus pensamentos confusos com a intensidade do que quase aconteceu.

Subo para meu quarto e me jogo na cama com a mente cheia de questionamentos. A tensão entre nós era palpável, mas também havia algo mais profundo, algo que eu não conseguia explicar, mas que me fazia ansiar por mais interações com Valentina

Era uma sensação que algo especial estava se formando entre nós e eu mal podia esperar para ver o que o futuro nos reservava.

Bilhete - VALUOnde histórias criam vida. Descubra agora