11 - Promessas Partidas

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Devimyuu reapareceu no Santuário das Sombras e se sentou em seu trono de ossos mórbido. O Lorde das Trevas suspirou, com a mão pressionando a testa e de olhos fechados. Sentia a angústia indescritível que o consumia intensificada, destruindo-o por dentro. Mas não era apenas pela briga com a filha; ele vinha se sentindo assim todos os dias desde a morte do príncipe Mewdarthe, quando ele e a gêmea Mewleficent tinham apenas seis anos.

Mesmo correndo o risco de ser alvo de um ataque furioso, Mewosek, que já o esperava ali, se aproximou lentamente de seu soberano.

- Majestade... o senhor está bem?

A resposta era óbvia, no entanto, o ministro real não conseguiu pensar em outra coisa a dizer para se aproximar do rei.

- O que você acha? - respondeu Devimyuu, mantendo os olhos fechados e a cabeça baixa, apoiando a mão na testa.

Mewosek se agachou em frente ao trono, na tentativa de olhar para ele.

- Escuta, milorde. A princesa Mewleficent só disse aquilo porque é o que a víbora da mãe dela diz. Não leve a sério, nós sabemos que nada do que aconteceu naquele maldito dia foi sua culpa - ele disse, tentando consolá-lo.

Devimyuu enfim ergueu a cabeça e abriu os olhos.

- "Nós sabemos"? Fale apenas por você, Mewosek - ele respondeu, olhando na direção de Mewosek, porém fitando o nada.

- O senhor não teve culpa. Além de ter que lidar com a perda do seu filho, não é justo que carregue esse peso pro resto da vida. Não importa o que aquela vadia diz, ela está errada! - O chanceler suspirou e pôs-se a falar com seu lorde da forma mais sincera possível. - Milorde, sabe que é muito mais do que o meu rei soberano. É o meu salvador, meu mestre e, principalmente, meu amigo; e eu não suporto ver alguém tão importante pra mim carregar o peso de uma culpa que não tem.

O Rei das Trevas olhou uns instantes para seu leal braço direito, mas em seguida virou o rosto.

- Se realmente somos amigos, então pare de tentar me convencer de algo que não é verdade. Meu filho estaria vivo se eu... se eu tivesse... - Devimyuu não conseguiu terminar de falar. Um horrível nó na garganta num misto de remorso e dor trancava sua voz.

Ele mordeu o lábio inferior e apertou seus olhos dourados consternados. Sentimentos insuportáveis numa tortura emocional lhe vinham à tona. Na verdade, nos últimos três anos tais sentimentos estavam sempre presentes e Devimyuu vivia numa luta interior constante para não demonstrá-los.

Mewosek se sentia péssimo por seu rei. Ele tentou chegar mais perto de Devimyuu, ainda sentado em seu trono.

- Milorde, o senhor fez tudo que podia para tentar salvar o príncipe Mewdarthe... - disse, arriscando-se a tocar no braço do rei na tentativa de confortá-lo. Ele lhe daria um abraço se pudesse, mas sabia que fazer isso seria equivalente a cometer suicídio.

Devimyuu puxou o braço e se virou de lado, dando as costas para Mewosek.

- Já chega. Me deixe sozinho, Mewosek...

Mewosek entendeu que ele precisava de espaço e se afastou. Todavia, antes de ir, o chanceler se virou para o rei uma vez mais.

- Posso até sair agora porque é o que deseja, mas saiba que jamais vou deixá-lo de fato sozinho, Lorde Devim.

O Lorde das Trevas não disse nada, encobrindo os olhos com a mão novamente, apenas virou o rosto e abaixou a cabeça. Ele nem retaliou ou reclamou de ter sido chamado de "Devim"; um claro sinal de quão inerte estava sua mente naquele momento.

O ministro leal por fim se retirou. Ele sabia o que aquilo significava. Sabia que Devimyuu só ocultava os olhos daquele jeito quando sua vontade de chorar era muito maior do que sua força de vontade para manter a pose de um Semideus Arquemônio inabalável. Talvez os arquemônios anteriores realmente não se sentiriam abalados pela perda de um filho. Simplesmente gerariam outro e o problema estaria resolvido. No entanto, o atual Lorde das Trevas definitivamente não era como seus antecessores.

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