12 - A Princesa Solitária

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Algum tempo depois, a princesa ainda chorava, quando ouviu uma voz chamar, e a figura de certo alguém apareceu diante dela.

- Hey... Fica calma, Mewlee-chan. Não chora não, vai...
Disse, no tom mais terno e reconfortante possível, a fim de consolá-la.

- Não é justo - a menina dizia, fungando, ao passo que esfregava os olhos para limpar as lágrimas - eu não fiz nada pra merecer castigo! Começo a achar que a mamãe está certa quando diz que o papai não liga pra mim, só pra aquele bebê estúpido!

- E qual é a desculpa dela?! Porque ela não é muito diferente quando o assunto é não ligar, eu diria que é até pior... - A figura com quem a princesa conversava se colocou ao lado dela.
- Mas, aqui entre nós, você não devia ter dito pro papai que eu morri por culpa dele...

Mewleficent ergueu a cabeça e olhou para o fantasma ao seu lado, a manifestação do espírito do irmão Mewdarthe. Como gêmeos, ambos sempre foram muito ligados; uma ligação que foi capaz de até mesmo ultrapassar os limites entre a vida e a morte. A conexão inquebrável dos irmãos tornou a aura de Mewleficent o receptáculo do espírito de Mewdarthe, mas, curiosamente, a irmã era a única capaz de vê-lo e ouvi-lo.

Justamente por isso, as aparições do irmão causaram certas complicações para a princesa, quando Mewleficent contou aos pais que ainda o via. Devimyuu a princípio, se propôs a investigar para ver se o espírito do filho de fato continuava presente. No entanto, toda tentativa de invocá-lo era falha, já que Mewdarthe não conseguia manifestar nenhum vestígio de sua presença para qualquer um além de Mewleficent, e o próprio príncipe fantasma não entendia a razão disso. Era como se uma força sobrenatural mais poderosa do que ele próprio conseguisse bloqueá-lo.

Como nunca conseguiu sequer uma interação com a alma de Mewdarthe, Devimyuu concluiu que devido ao trauma de perdê-lo, Mewleficent havia feito dele um tipo de amigo imaginário, já que na época era muito pequena para entender o conceito da morte.

Diferente de Devimyuu, que deu à filha o benefício da dúvida, Mewlith insistia categoricamente que Mewleficent parasse de afirmar que via, conversava e brincava com Mewdarthe. Ela estava tão determinada a pôr um fim àquilo que conseguiu convencer Devimyuu que, o melhor para Mewleficent lidar com o "trauma" e parar de "fingir" que ainda via o irmão, seria com ajuda profissional.

À princípio, Mewleficent não entendia por que aqueles adultos desconhecidos insistiam em tentar persuadi-la a superar a perda do irmão. Não importava quantas vezes dissesse a todos que não estava fingindo ver Mewdarthe; ninguém acreditava nela e as coisas apenas pioraram.

Quando ficou mais velha, Mewleficent se deu conta do que realmente estava acontecendo. Cansada das intermináveis e irritantes intervenções, de ser tratada como uma menina problemática, e principalmente, dos comprimidos horríveis que queriam obrigá-la a que tomar - mas que felizmente seu pai jamais permitiu - ela parou de tentar convencê-los, e fingiu estar "curada"; parando de falar sobre Mewdarthe, conversar ou brincar com ele na frente de outros.

- Você tá do lado do papai? - questionou a princesa.

- Não, mas eu não suporto te ver chorando, Lef. Então acho melhor você não falar mais de mim pra ninguém, mana. E também não importa o quanto ela mande, não fica repetindo pro papai as coisas que a chata da nossa mãe fala. Você sabe que eles se detestam, e isso sempre dá ruim.

O príncipe fantasma abraçou os joelhos, com seu olhar translúcido cabisbaixo. Sentada na mesma posição, Mewleficent suspirou forte e apoiou a cabeça contra a porta onde se encostava.

- É que eu estava com raiva, e meio que queria mesmo irritar o papai, por isso falei. Mas você tem razão, eu devia ter ficado quieta, só que não aguentei. Quando percebi, já tinha falado.

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