16 - Carcerem Spiritus

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Palacete Carmim - Três Anos Atrás

Em seu enorme e luxuoso quarto, a conhecida como Progenitora do Rei caminhava nervosamente de um lado para o outro. Com os cabelos como chamas rebeldes e um tanto desgrenhados, não calçava os costumeiros saltos altos imponentes. Roía as garras não feitas há três dias, sua respiração arfava hiperventilando; seu rosto continuava belo como sempre, porém, a ausência da maquiagem deixava perceptível o cansaço por não conseguir dormir direito há dois dias. E seus hipnotizantes olhos multicores entregavam o pânico que sentia, não conseguindo se fixar em um ponto único do quarto, num estado quase paranóico.

— Maldição! Como fui deixar as coisas chegarem a esse ponto?! E tudo por causa daquele moleque maldito! Tenho que encontrar uma saída… Não posso perder tudo que já conquistei agora… Eu não vou acabar assim! Morrer como uma mera desconhecida? A simples parideira daqueles pirralhos?! Não mesmo! Eu não nasci pra isso! Eu mereço mais, MUITO MAIS!

A fêmea exclamou, batendo fortemente com ambos os punhos sobre a base da grande penteadeira, em seguida derrubando violentamente as caixas de jóias e frascos caríssimos de perfume sobre a mesma, num súbito ataque de fúria.

— Realmente, há muito mais propósito em sua existência do que pode imaginar.

Mewlith se assustou não só pela desconhecida voz masculina em seu quarto como com a imagem que viu atrás de si pelo reflexo no espelho.

Uma figura tenebrosa, de um macho alto vestindo um manto negro até os pés a observava parado num dos cantos do quarto. Ele vestia um capuz que ocultava praticamente todo seu rosto, mas ainda era possível notar parte da comprida barba escura pontuda, e através de aberturas no topo do mesmo capuz, seus longos chifres diabólicos ficavam expostos.

Mewlith se virou de súbito para onde a figura estava, confirmando que não era somente uma ilusão de ótica, aparição ou algo do tipo. Ele era real, estava ali. Seu estado de susto passou rapidamente; a felin se levantou com um olhar ameaçador em seu rosto e criando duas bolas de chamas em suas mãos.

— Quem diabos é você e como se atreve a entrar em meu quarto?! Responda antes que eu chame minhas guardas, verme insolente!

Bradou Mewlith pronta para atirar uma das esferas flamejantes.

— De fato, há guardas em sua porta, porém, estou bem ciente de que não estão ali por sua proteção, e sim para vigiá-la, enquanto o rei decide seu infeliz destino…

O felin misterioso tinha um tom de voz soberbo, e era claro pelo modo que falava que tinha prazer em divulgar o que sabia.

Sem hesitar por mais nenhum instante, Mewlith atirou a bola de fogo. No entanto, para sua infeliz surpresa, a mesma o atravessou sem causar qualquer dano além de chamuscar a parede e espalhar algumas labaredas pelo chão.

— É assim que recebe a quem veio lhe oferecer ajuda? És uma ingrata insolente como todas as mulheres… Devia se colocar no seu lugar, maldita.

Disse ele com desdém.

— Que merda você é?! Algum tipo de espírito? Um demônio? Saiba que isso não me assusta!

— E por que assustaria a filha de um Arquiduque Infernal; mais precisamente Mewoloque, o Demônio Capital da Gula?

A felin ruiva o encarou incrédula.

— Como você…

Ela mal teve tempo de concluir a pergunta.

— Sei muitas coisas sobre a escolhida pelas Trevas para ser a Progenitora do Rei. A fêmea que te deu à luz pertencia a M'antra, o clã psíquico. Mas ela não passava de uma qualquer insignificante, vivendo em meio a um grupelho daqueles vermes imundos conhecidos como ciganos. A existência dela era tão miserável que fez um pacto com o Demônio Capital da Gula em simples troca de comida, feito um animal que implora por sua ração. Como uma vadia suja que era, usou a si mesma como barganha no pacto, afinal, o que mais uma miserável morta de fome poderia oferecer, não é? — conforme falava, sob o capuz o felin demonstrava um sorriso debochado, malicioso — Foi assim que você veio à existência nesse mundo. E para garantir sua quantia ganha de "ração" diária, te entregou no templo de seu pai em seu terceiro ano de vida.

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