15 - Poltergeist

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Posteriormente, do outro lado do palácio nefasto, Mewleficent se encontrava confortavelmente lendo um livro, acomodada num enorme pufe rosa estufado com penas de cisne-dragão.  

— E aí, quer brincar de alguma coisa? — Mewdarthe perguntou.

A irmã abaixou o livro. 

— E do que vamos brincar? Acho que é sua vez de escolher.

— Que tal uma partida de Monopólio dos Clãs?

Mewdarthe sugeriu, já com um sorriso ansioso no rosto meio transparente.

— Você adora mesmo esse jogo, hein? Tá legal, mas se seu comandante for capturado e decapitado outra vez, não reclame… — ela provocou, fazendo o irmão relembrar a última derrota que sofreu em seu jogo favorito que o próprio pai havia feito para eles, tal como os demais brinquedos dos gêmeos.

— Eu quero revanche. Vou tirar um 13 no dado e atacar sua base de dentro pra fora. Hehehe!

— Haha! — Mewleficent deu um riso debochado — Essa eu quero só ver! — ela exclamou, desafiando-o. Jogou o livro e de lado e se levantou do pufe. 

Os quartos da realeza naquele castelo eram constituídos de dois níveis, ligados por uma escadaria interna. O nível superior era um mezanino e no quarto de Mewleficent era onde ficava sua cama, o enorme pufe rosa e as prateleiras, que acomodavam suas coleções de bonecas e pelúcias.

Usando seus poderes psíquicos para se equilibrar no ar, Mewleficent saltou, alcançando metade dos degraus da escada, e dali pulou direto no nível inferior do quarto. Qualquer felin podia saltar duas vezes sua altura e, com habilidades de levitação, ficava fácil dobrar esse número.

A princesa foi até o armário, onde seus brinquedos e outros pertences não expostos eram guardados. Pegou o jogo e, com dois elegantes saltos novamente, voltou para o nível de cima. Ela se sentou no macio e grosso carpete roxo que forrava o piso e abriu o tabuleiro.

Estava quase tudo pronto, quando ouviu a porta automática no nível de baixo se abrir, deslizando para cima, e alguém entrando no quarto.

— Quem tá aí? — perguntou Mewdarthe. Ele e Mewleficent esticaram os pescoços para espiar por cima dos balaústres da beirada e ver quem estava lá em baixo.

— É a vódrinha! — exclamou a menina, agitada ao ver que a madrinha de seu pai já vinha subindo a escadaria.

— Rápido! Esconde o jogo! — disse o irmão fantasma.

Sem demora, Mewleficent esticou o braço na direção do tabuleiro no chão e o jogou pra debaixo da cama, empurrando também a caixa aberta e as pecinhas, usando telecinese. Ela e o irmão sabiam que, se Silmyuu a visse jogando “sozinha”, poderia gerar comentários que trariam complicações para a menina. O que os dois irmãos menos queriam era que ela fosse submetida àquelas terapias idiotas outra vez. 

— Mewleficent, está aí em cima? — Silmyuu perguntou, ao chegar no penúltimo degrau. Ela levantava o vestido alguns centímetros para não tropeçar na barra enquanto subia.

— Sim, eu tô aqui — respondeu a princesinha, que tinha acabado de se jogar no pufe rosa, disfarçando.

— Como vai, querida? — Embora fosse séria com outros, Silmyuu sempre era mais doce ao tratar Mewleficent. Era a mesma coisa com o pai da menina. — Está mais frio aqui em cima. O ar-condicionado está ligado?

— Tá, tá sim. — Mewleficent mentia com uma naturalidade sem igual. O “ar-condicionado” dela era o fantasma de Mewdarthe.

— E então, o que está fazendo, gatinha? — a governanta perguntou para puxar assunto, sentando-se na ponta do largo pufe.

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