44 - Show Yourself

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Desde quando atingiu idade o suficiente para compreender, Kinmyuu estava ciente de sua importante designação como o Escolhido de Ghaceus para cumprir sua profecia. E agora ele também sabia que tal tempo estava mais próximo do que nunca. 

Durante a última celebração sagrada do Solstício da Criação, seguindo a tradição das previsões para o ano vindouro, foi dito ao Rei Supremo que enfim chegara a hora de assumir seu grandioso papel na restauração do equilíbrio originário entre Luz e Sombras, perdido há mais de três milênios.

Tal desfecho epopeico representaria o brilhante nascer de uma nova Era, há muito esperada até mesmo pelos próprios deuses. No entanto, junto ao alvorecer dessa esperança, estavam os desafios árduos que o cumpridor de tal profecia teria de enfrentar. 

Kinmyuu tinha plena consciência de que aquele era o início do momento mais decisivo não só de sua vida como do destino do mundo sob seus cuidados. Ele também sabia — e até esperava —  que dificuldades estariam em seu caminho até que pudesse realizar o que era esperado dele como o profetizado Terceiro Semideus da Luz. 

No entanto, a forma súbita como todos os eventos cataclísmicos recentes lhe atingiram, fizeram o Rei se sentir como se de repente fosse soterrado por uma duna de areia que o sufocava.

 Primeiro, o inacreditável roubo do Grimório de Mizantri; depois, a intensificação crassa de suas visões com a voz que chamava em seus sonhos, finalmente enxergando o rosto por trás daquela voz, o que apenas lhe trouxe mais dúvidas e inquietações sobre quem seria aquele felin de pelagem azul-noite e  cabelos negros compridos. 

E agora, no topo de tudo, estava a intransigente situação com Heimewdall. De forma alguma Kin se arrependia de sua decisão de tê-lo deposto, entretanto, somando a tudo o que lhe aconteceu repentinamente, ele precisava de um tempo para processar e tentar se recompor, enquanto era inevitável que uma parte de sua mente se perguntasse o que raios estava acontecendo.

Sendo assim, ele apenas ficou ali, sentado em seu escritório real, raciocinado sobre tudo que ocorreu e ao mesmo tempo não pensando em nada especificamente. Talvez só estivesse cansado — exausto na realidade; mental e emocionalmente. 

Percebeu que seu tempo para assimilar levou mais do que apenas um momento, ao sentir vibrar o aparelho C-Tech no interior do bolso de seu traje branco majestoso. Apanhou o dispositivo e observou as horas num holograma sobreposto a tela LCD cristalina; faltava pouco para às dez da noite. Logo abaixo, estava a notificação de uma mensagem de sua rainha. Anmyuu tinha tentado se comunicar com ele telepaticamente, porém, Kin estava tão absorto e ao mesmo tempo inquieto com seus pensamentos, que foi impossível para ela estabelecer uma conexão. 

Na mensagem, a rainha perguntava se estava tudo bem, visto que já haviam se passado horas desde que o marido tinha pedido para que ela chamasse a guarda para escoltar Heimewdall até seu escritório. Em sua breve conversa telepática, Kin apenas disse que tinha descoberto que Heimewdall havia passado dos limites em seu comportamento racista com Mewhicann, e que portanto, teria que tomar uma atitude imediata a respeito, e explicaria tudo a ela em detalhes assim que cuidasse daquilo.

Contudo, Anmyuu não era o tipo de rainha que dependia aguardar pelas atitudes do rei para somente depois tomar as próprias. Ambos trabalhavam em conjunto, como governantes, como um casal, e como parceiros acima de tudo.

Sendo assim, enquanto Kinmyuu lidava com Heimewdall fechado às paredes de seu escritório, Anmyuu foi atrás de informações sobre o que poderia ter acontecido. Sua primeira fonte seria o filho Akenmyuu, já que o menino parecia extremamente irritado com o tio-avô durante o jantar, num comportamento bastante atípico para o príncipe. Além disso, obviamente estava preocupada e ansiava saber se o filho estava bem.

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