27 - Aliados

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Mewhicann quase engasgou com seu segundo copo de licor de leite quando o Rei Supremo lhe contou sobre a calamidade recaída no reino mágico. O magistrado estava chocado, mesmo não sendo um felin de mostrar muitas reações exacerbadas. 

— O Grimório?! Roubado?! Isso não é possível! 

— Era o que pensávamos, mas pelo visto, subestimamos as capacidades de nossos inimigos. É a primeira vez que algo assim acontece em toda nossa história. O Rei Mewghand e eu nem conseguimos descrever o quanto estamos aturdidos com essa situação.

Ainda um pouco incrédulo, Mewhicann se inclinou na poltrona, apoiando os braços sobre os joelhos. Sua expressão era ainda mais desconfiada do que o habitual.

— Eu realmente senti certo distúrbio mágico na madrugada de ontem. Aliás, creio que todo magista de poder acima da média deve ter sentido. Mas, como costumo ter muitas sensações ruins adversas na semana dos portais, achei que fosse só mais uma delas.

— Também tenho esse tipo de pressentimento nesta semana. Consigo sentir quando relapsos de energia maligna penetram em nossa atmosfera, mas infelizmente, não sou capaz de distinguir distúrbios de magia… — O rei entrelaçou as mãos, apoiando-as sobre a mesa e olhou fixa, porém calmamente para o magistrado. — É justamente nesse aspecto que precisamos muito da sua ajuda, Lorde Mewhicann. É de meu conhecimento que o senhor é um mago de poder descomunal e, inclusive, foi aprendiz do lendário rei mago Mewrilin, correto? 

— Sim, o Rei Mewrilin foi o meu mentor. Mas devo especificar que não sou um mago, eu sou um bruxo. Embora minha magia de habilidade pessoal seja Reequipar, o atributo do meu poder flui e se especializa nas artes sombrias, mais especificamente, a pura força da magia negra.

Essa informação não surpreendeu Kin. Ele sentiu a influência de um poder sombrio bruto e destrutivo emanando de Mewhicann assim que o cumprimentou, porém, junto a tal poder, sentiu exercer uma força de autocontrole colossal para contê-lo. 

O Rei Supremo manteve sua expressão gentil e serena.

— As origens de seu poder são irrelevantes, Magistrado. O que importa é com que propósito o senhor o usa. Meu pai me contou como contribuiu para ajudar nossa sociedade no passado, quando meu avô ainda vivia entre nós. E eu acho que um feiticeiro sombrio é justamente o que precisamos.

O reverso disfarçado se recostou na poltrona. 

— O que eu fiz foi o mínimo que poderia em vista do que o seu pai e seu avô fizeram por minha mãe e por mim. Como posso ajudar dessa vez?

— Agradeço muito por sua disposição em ajudar, Lorde Mewhicann. E, bem, imagino que tenha um grande conhecimento sobre magias sombrias e artes nefastas; sem querer ofender, é claro. — O magistrado assentiu para o rei. Não tinha mesmo se ofendido. — Talvez pudesse nos ajudar a identificar que tipo de feitiço negro seria capaz de anular os encantamentos de proteção do santuário do Grimório e removê-lo de seu altar. Se descobrirmos que poder foi usado, poderemos localizar o inimigo com mais facilidade e recuperamos o Grimório o mais depressa possível. 

Mewhicann não precisou de mais do que alguns instantes para poder responder, porém, não parecia trazer um ponto de vista muito otimista.

— Bem, eu já tenho uma resposta quanto a isso, Rei Supremo. No entanto, creio que não será o que espera.  — O reverso mágico olhou para o rei francamente. — Nenhum feitiço negro no mundo poderia ter feito isso. Usar magia para roubar o Grimório de Mizantri é simplesmente impossível.

Kinmyuu se questionava cada vez mais. O olhar de Mewhicann, sua expressão e seu tom de voz — tudo deixava bem claro que ele tinha plena certeza do que falava. 

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