Capitulo 47

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Antoinette Topaz point of view

—" Eu estou com câncer, Toni." - Essa frase ficou cravada em meus pensamentos durante longos 30 segundos. Antes de eu cair no chão, e ser segurada pelos braços pálidos de Cheryl.

Mas não tinha o que se fazer.

Não tinha o que se dizer.

Vivo num pesadelo. Desde o dia em que nasci.

Não consigo me recordar de nenhuma memória boa desde a minha infância. Mas posso listar quantas vezes me peguei desejando nunca mais acordar. Ontem foi uma delas.

Hoje é uma delas.

Amanhã provavelmente será também.

Não consigo entender o motivo de tantas coisas ruins acontecerem na minha vida. Na verdade, eu não faço ideia o porquê disso. Será que eu fui tão ruim numa vida passada e fui castigada por isso, ou simplesmente fui amaldiçoada a viver dessa maneira? Ou, talvez, se existir mesmo um Deus, ele se esqueceu de mim?

Pode se dizer que sim.

Todos pisam em você. Você se esconde das pessoas por medo do que elas vão pensar de ti. Você não tem voz ativa. Você consegue ser submissa em todas as situações.

Seu pai te abandonou. Sua mãe foi ausente. Você foi sempre rejeitada. Sua namorada te maltratava. Seu padrasto fazia o mesmo. A única pessoa do mundo em que você realmente sabe que te ama, está doente.

Está com câncer.

Há pior dor que existe é aquela que você sabe que não dá para se fazer nada para contorna-la. É uma dor eterna. Você aprende a viver com ela, mas ela sempre estará ali.

Voltando ao cenário atual...

— Tee-Tee.- Cheryl me levantou do chão em seus braços, e me segurou mesmo estando em pé.— Pega uma água, Michael. Rápido!

— Tá vendo, era por isso que eu não ia falar agora, sua ratazana.- Peaches exclama.— A menina tá mais cagada que quintal com pombo, e agora tem mais outra desgraça pra encarar.

— Toma, bebe.- Michael me deu um copo de agua, mas eu recusei. Não queria beber nada agora.

— Peaches, o que está acontecendo? Como assim, você está com c-câncer?- Perguntei, tentando transparecer maturidade ao momento, e não me deixar ser vencida pelas minhas emoções. Cheryl ainda me mantinha em seus braços.

— Fumo 1 maço de cigarro por dia, estranho seria se eu não estivesse.- Fez piada com a situação, como ela sempre fazia em qualquer ocasião que exigisse seriedade. No fundo eu sei que é só para deixar o cenário mais leve.— Infelizmente, não existe pulmão de ferro. O meu é a prova disso.

Felizmente, sua frase era verdadeira. E sendo sincera, eu nunca entendi o motivo de você colocar algo que tem o poder de te matar, sobre seus lábios. Não faz sentido. Fumar é tecnicamente um suicídio a longo prazo.

Não fumem. Nunca.

Dá para você, uma vez na merda de sua vida, conversar como uma pessoa normal?- Cheryl pediu.

— Vai tomar no meio do seu cu.- Peaches falou. Senti os músculos de Cheryl tensionarem.

Era uma situação tão ruim. Quase algo irreal. Todos ali presentes com sensações e sentimentos diferentes, mas ao mesmo tempo, misturados. Havia, raiva, tristeza, angústia, ansiedade.... Havia medo.

Eu tinha medo. Eu tinha muito medo.

— Eu acho que devemos se acalmar...- Michael disse.— Vocês brigarem não irá adiantar em nada, só atrapalhará. Não se esqueçam do real motivo de estarmos aqui.

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