44| Hora e Data Marcada

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ANGÉLICA

Sinto meu corpo inteiro gelar ao adentrar a corrente de água gelada do chuveiro elétrico, imediatamente pulo pra fora da água e sinto meus dentes baterem um contra o outro, água gelada de longe é meu maior inimigo. Giro a outra torneira e espero a água quente escorrer, a sinto morna e adentro novamente no chuveiro.

Neste exato momento estou pensando em começar a fazer exercícios, pelo menos alguma caminhada por dia, estou engordando muito e isso não é nada bom. Desde o meio do semestre eu notei um ganho de peso, comecei até a ter pneuzinhos nas laterais da minha cintura, minhas bochechas cresceram um pouco mais, e acho que tô começando a ter uma papada.

Não posso engordar de jeito nenhum! Nunca! Nem que para isso seja necessário eu fazer macumba, eu jamais ficarei tão gorda.

— Angélica... — ouço a voz da minha mãe do outro lado da parede do banheiro, ela certamente está dentro do quarto. — Aaaah... — chia ela. — Cara, eu fico PUTA QUE FICA DEIXANDO ESSE SAPATO AQUI! — exclama ela do outro lado, certamente eu devo ter deixado meus sapatos na entrada da porta e ela com certeza tropeçou neles. Sorrio ao imaginar ela tropeçando. — Eu fico mandando você guardar e você não guarda! — diz ela irritada. — Que zona é essa nessa cama! — fecho os olhos e imagino ela mexendo nas minhas roupas em cima da cama. — Pijama! Esse pijama você tá usando? E o que é que é isso aqui?! Isso aqui é roupa limpa? Gente, a pessoa coloca a roupa limpa assim! A cama tá toda bagunçada! Ninguém sabe oque é limpo ou sujo aqui! — reclama ela alto o bastante pra eu fechar os olhos e rir. — ANGÉLICA!

Minha mãe é legal, mas é bem estressada. Xinga sem dó ou piedade quando está irritada, acho isso engraçado vindo dela que sempre é tão culta na frente de todo mundo, mas é só ficar sozinha com a família que ela vira outra pessoa. Parece até uma adolescente de 15 anos.

— Iiihh, gente. Que isso aqui, misericórdia? — não faço ideia ao que ela está se referindo neste momento, desligo o chuveiro, e fico atenta ao imaginar se deixei algo exposto no quarto no qual não deveria estar exposto no quarto. — Isso aqui é camisa de tartaruga... que merda é essa?! — solto um suspiro de alívio, e me lembro que é uma camiseta das tartarugas ninja. — Aqui é máscara, meia, touca.... calcinha. Pelo amor de Deus! Olha só! — agora estou preocupada dela entrar no banheiro com um cabo de vassoura pra me bater, mamãe está deveras estressada nesse instante. — NÃO LAVO MAIS AS SUAS ROUPAS! — exclama ela alto, nesse momento agradeço pela casa ser anti-som para as vizinhanças. — QUEM VAI LAVAR ESSA MERDA AGORA É VOCÊ! — consigo imaginar nitidamente ela fazendo vários gestos de indignação com as mãos. — TÔ MUITO PUTA! ATÉ A FRANJA TÁ CAINDO NA MERDA DA MINHA CARA! — silêncio... 1, 2, 3, 4... — Vou dobrar aqui só essa vez, viu?!

Começo a rir baixo. Minha mãe na maioria das vezes é insuportável por seu modo estressante de falar, mas de qualquer forma não posso reclamar, afinal, sou um dos grandes motivos dela viver estressada sempre.

Ligo o chuveiro, volto a entrar debaixo da água, fico olhando para a porta do banheiro, alerta para caso minha mãe entre de repente sem nenhum aviso prévio. As vezes sinto que ela não sabe oque é privacidade na hora do banho.

— E ANGÉLICA! — minha amada mãe volta a gritar. — Que diacho de louça é aquela na pia? Mandei lavá-la desde a tarde, e até agora você não fez porra nenhuma!

— Eu não sujei nada hoje, quem sujou que lave! — exclamo ao colocar a cabeça pra fora do chuveiro.

— Você dobre a sua língua pra falar comigo! — exclama ela de volta. — Se até a meia noite aquela pia não estiver brilhando, você me paga! — ameaça ela, fecho a cara, fico com raiva.

𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐋𝐘𝐓𝐇𝐄𝐑𝐈𝐍 𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋 | 𝐒𝐈𝐌𝐏𝐋𝐄𝐒𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄 𝐏𝐎𝐑𝐐𝐔𝐄 •02Onde histórias criam vida. Descubra agora